Antropologia Filosófica / Antropologia e Cultura

2021-2022

 

Objectivos:

 

Promover o conhecimento de algumas das principais concepções acerca do ser humano nas culturas animistas, indiana, chinesa, africana, hebraica, grega, cristã, islâmica, moderna e contemporânea. Visa-se mostrar a amplitude da questão, que não se reduz à sua tematização pelo pensamento ocidental. Pretende-se que os estudantes tenham uma visão crítica a seu respeito, mediante o estudo, interpretação e comentário de textos fundamentais.

 

Programa

 

1.     O contexto e os limites da antropologia. Antropologia e antropocentrismo.

2.     Humano e não-humano nas culturas animistas.

3.     Purusha, ātman e brahman nos Vedas e nos Upanishades. O humano como uma das múltiplas e transitórias modalidades do absoluto.

4.     Tornar-se humano em Confúcio e conformidade do sábio ao Dao em Laozi. A natureza humana em Mêncio e Xunzi.

5.     O humano na cultura egípcia. O divino e o humano em algumas culturas africanas.

6.     A criação do mundo e do ser humano no Génesis. A evolução pós-edénica da humanidade. “Pó”, “sopro” e “vaidade das vaidades” no Eclesiastes.

7.     A condição humana em Hesíodo. A ambiguidade do ánthropos em Sófocles. A modalidade humana da psyché em Platão.

8.     Jesus Cristo, “Filho do Homem” e “Reino dos Céus” nos Evangelhos canónicos e apócrifos. A incarnação humana do Verbo e o novo céu e a nova terra apocalípticos.

9.     A criação do ser humano segundo a forma de Deus e como seu “califa” no islamismo e a perfeição do Homem universal, portador de todos os nomes divinos, em Ibn’Arabî.

10. O projecto moderno de emancipação do humano e de submissão da natureza: Bacon e Descartes. A questão da natureza humana em Hobbes e Rousseau. Morte de Deus e superação do humano em Nietzsche.

11. A denúncia do especismo antropocêntrico e o animalismo: Peter Singer e Tom Regan. A filosofia do mundo vegetal.

12. Antropoceno e emergência do “eu ecológico” (Arne Naess). As antropologias não-antropocêntricas, o repensar do animismo indígena e a “antropologia além do humano” (Bruno Latour, Philippe Descola, Viveiros de Castro, Eduardo Kohn).

 

Bibliografia fundamental

 

Selecção de textos efectuada pelo docente.

Hindu Scriptures, Everyman’s Library, 1992.

Upanisads, Oxford University Press, 1996.

CONFÚCIO, Confucian Analects, The Great Learning & The Doctrine of the Mean, Dover Publications, 1971.

LAO TSE, Tao Te King, Relógio d’Água, 2010.

Jeremy Naydler, Temple of the Cosmos: The Ancient Egyptian Experience of the Sacred, Vermont, Inner Traditions, 1996.

Geoffrey PARRINDER, African Mythology, Bounty Books, 1996.

Id., West African Religion: A Study of the Beliefs and Practices of Akan, Ewe, Yoruba, Ibo, and Kindred Peoples, Wipf and Stock, 2014.

Paulus Hijaketutu Kapepu, African Philosophy: Ubuntu Ontology and the case for the ovaHerero People, Lambert, 2020.

            Bíblia de Jerusalém.

            HESÍODO, Theogony / Works and Days, 2008.

            Corão.

            William C. CHITTICK, The Sufi Path to Knowledge, State University of New York Press, 1989.

            HOBBES, Leviatã, INCM, 1999.

            ROUSSEAU, Oeuvres Complètes, 3 vols., Seuil, 1971.

            Friedrich NIETZSCHE, Assim Falava Zaratustra, Relógio d’Água, 1997.

            Rémi BRAGUE, Le Règne de L’Homme. Genèse et échec du projet moderne, Gallimard, 2015.

            Charles EISENSTEIN, The Ascent of Humanity, Berkeley, 2013.

Philippe DESCOLA, Par-delà nature et culture, Gallimard, 2005.

            Eduardo KOHN, How Forests Think: Towards an Anthropology Beyond the Human, University of california Press, 2013.

Bruno LATOUR, Face à Gaia, La Découverte, 2015.

Eduardo Viveiros de CASTRO, Metafísicas Canibais, Cosac Naify, 2015.

 

 

Métodos de ensino e avaliação:

 

 

O método de ensino insere-se na corrente emergente da educação contemplativa e adapta o modelo da lectio divina - herdado das escolas filosóficas gregas e formulado nas escolas monásticas medievais como uma das raízes das primeiras universidades europeias – ao contexto laico contemporâneo. Estruturado em quatro momentos inseparáveis – lectio, meditatio, oratio e contemplatio - , este método visa recolocar os estudantes no centro do processo educativo, desenvolvendo qualidades de 1) audição e leitura atentas e profundas, 2) interpretação dos múltiplos níveis de sentido dos textos (incluindo o existencial na correlação com as suas vidas) e pensamento crítico a seu respeito, 3) resposta criativa oral e escrita (porventura também artística) e 4) fruição silenciosa dos efeitos deste processo, abrindo-se a uma experiência de sabedoria e de transformação da vida, cumprindo a vocação original da filosofia. Este método visa, mais do que a acumulação quantitativa e meramente intelectual de conhecimentos, a formação e o desenvolvimento integrais dos estudantes, desenvolvendo a sua auto-compreensão mediante a resposta pessoal às matérias estudadas, bem como o seu sentimento de conexão com os outros, o mundo e a vida. Apesar das limitações das aulas virtuais, o método visa desenvolver um sentido de comunidade e de cooperação no processo de descoberta e exploração das questões e possibilidades da condição humana mediante a hermenêutica dos textos escolhidos.

Como introdução e conclusão deste percurso, e considerando também a natureza das matérias leccionadas, as aulas começarão e terminarão com períodos curtos de exercícios meditativos, hoje reconhecidos como notavelmente facilitadores da manutenção e aprofundamento da atenção e do processo educativo.

 

Aconselha-se ler sobre este método, entre outras obras:

 

- Barzebat, Daniel P. e Bush, Mirabai, Contemplative Practices in Higher Education. Powerful Methods to Transform Teaching and Learning. San Francisco: Jossey Bass, 2014.

- Keator, Mary, Lectio Divina as Contemplative Pedagogy. Re-Appropriating Monastic Practice for the Humanities. London/New York: Routledge, 2018.

 

A avaliação será contínua e os alunos serão constantemente convidados a uma participação activa, oral e escrita, na interpretação e comentário dos textos que irão sendo disponibilizados com antecedência. Em termos formais, são obrigatórios dois elementos: 1) um trabalho final sobre um autor, autores ou temas no âmbito do programa, a combinar previamente com o docente mediante um projecto de trabalho a enviar até 18 de Março; 2) um relatório sintético acerca da experiência pessoal do aluno nesta disciplina e da sua relevância ou não para o processo da sua auto-compreensão humana; este elemento de avaliação pode incluir uma dimensão de criação artística (poético-literária, desenho e pintura, musical, etc.). O envio de ambos os elementos de avaliação deve ser feito para o email institucional do docente até 30 de Abril.

 

O primeiro elemento de avaliação terá o limite mínimo de 10 páginas e o

limite máximo de 15 páginas, com tamanho de letra 12 e 1,5 linhas de

espaçamento. A dimensão escrita do segundo elemento tem o limite mínimo de 3 páginas e o limite máximo de 6 páginas, com tamanho de letra 12 e 1,5 linhas de

espaçamento.

 

Os primeiros trabalhos devem incluir: 1) uma introdução onde se justifique a escolha do tema e se apresente o objetivo do trabalho; 2) um capítulo onde se faça o enquadramento histórico-cultural do(s) autor(es) ou tema(s) estudado(s); 3) exposição, interpretação e comentário crítico e criativo dos textos com identificação das citações das fontes originais e dos comentadores em notas de rodapé; 4) uma secção, indispensável e muito importante, onde se proceda a uma reflexão pessoal que mostre a resposta pessoal do estudante à matéria do seu trabalho; 5) uma conclusão, onde se faça uma síntese dos resultados a que a investigação conduziu, em termos objetivos e subjectivos.

 

O horário de atendimento, por marcação prévia, será às 3ªs feiras, das 13:00 às 14:00.