Francisco de Holanda e a Viagem a Roma.

21 Novembro 2019, 10:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

Francisco de Holanda (1518-1584), grande teórico da IDEA neoplatónica das artes, foi o primeiro artista português a estadear em Itália, concretamente em Roma, em 1538-1540, convivendo com o próprio Miguel Âmgelo Buonarroti e estudando as 'rovine', os 'grottesche', a pintura de Rafael Sanzio, os 'antichi', e frequentando os círculos humanistas. Seguindo o trilho de Francisco de Holanda, alguns pintores portugueses foram a Roma nos anos centrais do século XVI aprender ou aperfeiçoar a sua arte. São conhecidos alguns casos, o mais relevante dos quais foi António Campelo, pintor andarilho que goza de celebridade no seu tempo e que trabalha a óleo e fresco na Cidade Eterna, sob mecenato do Cardeal Giovanni Ricci da Montepulciano, ligado aos círculos de Daniele da Volterra, tendo merecido estudos a Nicole Dacos Crifó. Também algo se sabe de Gaspar Dias, que, além de Roma, terá passado ainda por Parma e Génova num sedutor caminho criativo onde a influência de Parmigianino se fez sentir. Dos sevilhanos Lourenço de Salzedo e Francisco Venegas, que de seguida se estabelecem em Portugal ao serviço da corte, existe documentação e rasto de obras, de grande importância no contexto do último terço do século. Menos conhecidas são as viagens que, em 1560, empreenderam os pintores João Baptista e António Leitão, ambos enviados a Roma por via do mecenato da Infanta D. Maria e cujas obras, hoje identificadas, atestam igual conhecimento dos modelos da Bella Maniera romana. A respeito de João Baptista, conhecem-se algumas tábuas do retábulo da igreja catalã de Sant Iscle i Sancta Victòria em Dosrius (1565-67), identificadas por Joaquín Garriga, mais se sabendo que pintou obras para a Princesa de Ebolí. De António Leitão restam traços de vida e de obra na raia portuguesa, como a bela tábua de Cepões (Lamego), de 1564-65, e as de Foz Coa (c. 1570), Melo, Escarigo e Miranda do Douro, que justificam maior atenção. O estudo destes pintores contemporâneos de Francisco de Holanda mostra o quanto a pintura portuguesa do terceiro quartel do século XVI se deixou seduzir pelas novidades da Bella Maniera de Itália, não só nos modelos compositivos mas também por força da nova argumentação a favor de uma liberalidade estatutária por que todos aspiravam.