João de Castilho e a arquitectura portuguesa entre o Tardo-Gótico e o Renascimento.

17 Outubro 2019, 10:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

A partir da recente tese doutoral de Ricardo Jorge Nunes da Silva, a figura do biscaínho João de Castilho, dentro do plano construtivo português da primeira metade do século XVI, é verdadeiramente poliédrica e repleta de complexidades. Desde o momento da sua chegada ao nosso território, onde introduz uma renovação do discurso tardo-gótico, até ao momento em que morre (já na década de cinquenta), onde o gosto clássico é factor incontornável, Castilho dominou amplamente a paisagem arquitectónica nacional, revelando ter uma actividade amplamente dinâmica e de escala empresarial. Este mestre trasmiero é, fundamentalmente, um homem formado nos valores técnicos do Tardo-Gótico, fazendo dele um mestre de arquitectura que recebeu uma formação em estaleiro, adquirindo uma experiência prática, mecânica e técnica, o que lhe permite conheceras possibilidades e, principalmente, reconhecer as limitações da estrutura arquitectónica. Em oposição, a partir da década de trinta do século XVI, no decurso da ampliação do Convento de Cristo, a obra arquitectónica de João de Castilho adquire uma linguagem sob os valores do renascimento. Esta mesma realidade é ainda ampliada na década seguinte, onde obras como o Noviciado ou a Ermida da Nossa Senhora da Conceição, alcançam valores arquitectónico de contornos italianizantes e extraídos da leitura tratadística. Partindo das considerações anteriores, procuramos colocar em relevo o modo como João de Castilho, homem formado em plena na tradição tardo-gótica, adquiriu e passou a desenvolver a linguagem arquitectónica clássica. Ao mesmo tempo, o que aqui se encontra implícito é a confrontação entre a figura do mestre-de-obras e o paradigma do “arquiteto teórico” que se tornou símbolo da modernidade e expressão do renascimento, sendo exemplo disso figuras como Miguel de Arruda ao Diogo de Torralva. A par destas confrontações e da complexidade da equação, teremos ainda que ter em linha de conta, a presença, nos anos quarenta, de Miguel de Arruda nas obras do Convento de Cristo. Formado sob o signo do renascimento, Arruda transforma-se na imagem da nova geração de mestres de arquitetura e incorpora o paradigma do arquiteto, onde traça a obra, mas encontra-se desvinculado da sua execução e direção material do estaleiro. Dentro desta lógica, Miguel de Arruda torna-se a figura chave para a compreensão da obra renascentista que João de Castilho desenvolve no Convento de Cristo. Ao mesmo tempo, João de Castilho e Miguel de Arruda são o imagem do confronto geracional e o espelho de duas realidades artísticas.