A escultura do Renascimento em Portugal: Nicolau de Chanterene (c. 1480-1551) e João de Ruão (c. 1500-1580).

27 Outubro 2020, 11:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

A chegada da estética renascentista a Portugal no campo da escultura deriva da chegada ao nosso reino de dois insignes artistas franceses. Em geral, atribui-se a data de 15127 (portal principal do mosteiro dos Jerónimos, com a estátua dos reis por Chanterene) como a balisa identificadora deste estilo.

Nicolau Chanterene chega a Portugal cerca de 1517, depois de ter trabalhado para os Reis Católicos em Santiago de Compostela, aí detendo o cargo de imaginário e aí tendo esculpido mais de uma dezena de esculturas de vulto que constituem parte fundamental do programa iconográfico do Hospital Real. Pago em 1513, propus já que o mestre tivesse seguido para outra empreitada da responsabilidade de Enrique e Anton Ega, provavelmente para Toledo ou mesmo para terras aragonesas onde as possibilidades de ter conhecido e trabalhado com os mais vanguardistas escultores daquela região, nomeadamente Damien Forment e os mestres flamengos e italianos que incluíam a sua operosa oficina como Giovanni Moreto ou Gil de Morlanes é uma possibilidade real. Logo  em 1517 lhe é cometida a mais importante empreitada de escultura, compreendendo os retratos escultóricos do casal régio D. Manuel I e D. Maria de Castela, no mosteiro de Santa Maria de Belém. A partir de 1519 é nomeado  Imaginário régio, e mais tarde, Arauto Goa. Deve ter falecido próximo de 1551.
João de Ruão já está em Portugal em 1528, sendo que pode ser rastreado logo em 1523 já na Península Ibérica. Surge no nosso país trabalhando no âmbito mecenático de D. Pedro de Menezes, primeiro na igreja da Atalaia (1528) e depois na capela da Varziela (1529-1531), mas terá chegado algum tempo antes. Na documentação, de 1530, já aparece como sendo casado com Isabel Pires, filha do mestre régio de carpintaria  Pedro Anes sendo, portanto, cunhado de Marcos Pires (o arquitecto que sucede a Boytac em Stª Cruz de Coimbra) e de Cristovão de Figueiredo (pintor). Inicia-se aqui a sua relação com a cidade do Mondego, aqui vivendo e trabalhando até 1580, quer para os crúzios quer para outros encomendadores de monta.