O embrião das construções nacionais: mecanismos de identificação em torno do rei (ss. XIIfinal-S.XV).

3 Dezembro 2019, 14:00 Rodrigo Furtado

1.     O “Estado”.

1.1   Lentíssimo processo de reforço dos poderes régios.

1.1.1        Parte da organização de um centro/chancelaria;

1.1.2        Supera dimensão local/regional: inquirições/confirmações;

1.2   Fim do s. XII: ofensiva dos poderes públicos depois do encelulamento dos ss. IX-X.

1.2.1        Ofensivas/combates entre o rei e os nobres.

1.2.2        Recuperação do Direito Romano: influência da reforma gregoriana;

1.2.3        Projectos:

·       de unidade supra-regional;

·       de autonomização em relação aos universalismos: rex est imperator in regno suo.

1.3   Exemplos:

1.3.1        Inglaterra: os Anjou – de Guilherme o Conquistador a Joao Sem Terra e a Magna Carta;

1.3.2        França: até ao século XII – rei é um nobre com uma implantação apenas regional em torno de Paris e Orleães;

1.3.3        Sacro Império: muita instabilidade e disputa entre casas senhoriais.

1.3.4        Portugal: Sancho I-Afonso III.

 

2.     O Horizonte ideológica da luta entre o poder temporal e o poder espiritual.

1.1   Resumo: de Santo Agostinho à reforma gregoriana e os seus avatares: Inocêncio III e Bonifácio VIII. Como é que reagem os poderes temporais às investidas dos poderes clericais?

·       O Venerabilem (1202):

Papa confirma, unge, consagra e coroa o imperador;

Em caso de ausência/falta de imperador, o Papa escolhe;

Pode transferir propriedade do pecador para o justo = aplica-se ao imperador pecador.

Função do Imperador: proteger a Igreja.

·       O IV Concílio de Latrão (1215): o papa como ‘vigário de Cristo’: o governante de iure de toda a terra. A teoria do sol e da lua.

·       A Vnam Sanctam (1302):

‘Declaramos que é absolutamente necessário para a salvação que toda a criatura humana esteja sujeita ao Pontífice Romano’.

1.2   As guerras com o Papa:

1.2.1        Imperador vs. Papa: s. XII-XIII (Henrique IV, Henrique V, Henrique VI);

1.2.2        Teocracia papal travada pelo imperador Frederico II (1198-1250); e por Filipe IV (1285-1314). A prisão de Bonifácio VIII e o Schiaffo di Anagni por Sciarra Colonna (1303).

 

3.     O embrião das “identidades regionais”.

3.1   Afirmação do rei como figura de unidade (A).

3.2   Invenção da tradição (até ao s. XX): mecanismos de identificação (B):

 

A.     O REI.

4.     Historiografia.

4.1   Construção de uma memória que legitime o reforço do reino: especializa-se em torno dos interesses da casa reinante.

4.2   Especialização da historiografia: antes – universal (Eusébio de Cesareia); regional (casa, mosteiro). Agora: casa reinante.

4.3   Alfonsina: Afonso X (1252-1284). A procura de uma filiação: Hércules; os Visigodos; a representação da unidade ibérica. A inacabada General Estoria; a Primera Cronica General de Espanha.

4.4   Crónica Geral Espanha de 1344 – conde D. Pedro de Barcelos: tradição de Afonso X; história universal centrada na Ibéria; 1ª dinastia.

4.5   França: Chroniques de Saint-Denis (latim) – sucessivamente actualizadas com cada rei (desde Merovíngios até 1250; começa a ser escrita c. 1000); Chroniques françaises (tradução e continuação em francês, até 1461). Abadia ligada à memória da casa real: elemento difusor de identidade. A importância do panteão.

 

5.     As festas rituais.

5.1   A sagração.

5.1.1        Cerimónia com origem visigótica – imitada pelos carolíngios. Rei semelhante ao bispo.

5.1.2        Dimensão pública: no interior da Igreja (Reims; Winchester);

5.1.3        Cortejo: rei oferece-se à contemplação após a sagração; parte da catedral. Taumaturgia.

5.1.4        O carisma por direito divino.

5.2   A aclamação.

5.2.1        Península Ibérica.

5.2.2        Reis colocados num estrado; jurada obediência pelos 3 estados que representam a totalidade da população.

5.2.3        Representações aclamatórias por todo o reino sem a presença do rei.

5.2.4        Cunhagem de moeda.

5.3   Os funerais.

5.3.1        Até s. XIII: privado;

5.3.2        S. XIV: aproveitamento público – o cortejo fúnebre e a etiqueta/hierarquia.

5.3.3        S. XV: substituição do corpo por uma efígie em tamanho natural, em madeira, pintada, que representa o rei

5.3.4        O Rei morreu, viva o rei! Em última instância: o rei nunca morre.

5.3.5        Os dois corpos do rei.

5.4   As entradas.

5.4.1        Entrada do rei na cidade: o cerimonial; arquitectura temporária; competição entre cidades; estratificação das elites locais.

5.4.2        Identidade cidade-rei; contemplação.

 

 

B.     MECANISMOS DE IDENTIFICAÇÃO.                                                

1.1   A unidade étnica.

1.1.1        A perseguição aos elementos étnicos diversos.

·       Expulsões de judeus de França e Inglaterra;

·       Pressão sobre Galeses, Irlandeses, Escoceses;

·       Pressão sobre o Languedoc.

1.1.2        Processo artificial construído a partir de cima.

1.2   A língua.

1.2.1        A substituição do latim (meados do séc. XIII; D. Dinis)

6.2.2 As línguas da chancelaria: compreender a língua do rei. De cima para baixo. O simbolismo da substituição.

·       França: aniquilamento da Langue d’Oc, Gascão: mantém-se oralmente. A uniformização da Langue d’Oïl.

·       Castela: triunfo do castelhano sobre o leonês, o andaluz, o asturiano e o galego-português.

1.1   A Igreja.

1.1.1        As Igrejas nacionais? Dependem de quem?

·       O Galicanismo: uma igreja organizada em torno do rei; a tentativa de controlo do papa: Avinhão.

 

Os Reinos Medievais estão a caminho do Estado Nacional.