Reconhecer Deus no tempo: a inteligibilidade da história e a cristianização do quotidiano.
29 Outubro 2019, 14:00 • Rodrigo Furtado
1. O tempo histórico.
1.1 Visões clássicas do tempo:
1.1.1 O pessimismo histórico hesiódico;
1.1.2 O tempo cíclico: tempo histórico e tempo natural;
1.1.3 As intervenções dos deuses e a ausência de plano;
1.2 A (re)fundação cristã:
1.2.1 O nascimento de Cristo;
1.2.2 A Parúsia;
1.2.3 O Antigo Testamento e a Criação do Mundo.
1.3 A coincidência Cristo/Augusto: Pax Romana=Cristianização. Os Christiana Tempora. A felicidade do presente.
1.3.1 De novo, a Crónica de Eusébio de Cesareia: o Império Cristão universal: congregaria dois pólos que, ab initio, haviam caracterizado a história: o monoteísmo divino e a monarquia imperial.
1.3.2 O providencialismo divino: Deus está fora do tempo mas age no tempo – a existência de um plano;
1.3.2.1 passado é lugar privilegiado para a manifestação da divindade e para a concretização do seu plano para um determinado povo, ou para toda a humanidade;
1.3.2.2 a história transforma-se na narrativa da intervenção da divindade junto do homem, com vista à concretização do projecto salvífico de Deus: a verdade dos factos narrados é aferida pela conformidade com aquela que se julga ser a vontade divina e a sua actuação na história.
1.4 Um momento de descontinuidade: o saque de Roma de 410. Como explicar?
1.4.1 A História contra os pagãos de Orósio (417):
1.4.1.1 Uma história de tese: as misérias pagãs vs. os tempos cristãos;
1.4.1.2 7 livros = 7 dias da criação = 7 épocas/idades da história;
1.4.2 Agostinho de Hipona: a Cidade de Deus.
1.4.2.1 História: seis idades;
- Adão ao dilúvio: bebé;
- dilúvio a Abraão: criança;
- Abraão a David: adolescência;
- David ao exílio: juventude;
- exílio à Encarnação: condição adulta;
- Encarnação à Parúsia: velhice.
- o ‘sétimo dia’ encontra-se para lá da História.
1.4.2.2 Concepção pessimista que há-de marcar toda a Idade Média:
- Envelhecimento do mundo = envelhecimento do homem – macro e microcosmo; mundus senescit (carmina burana).
1.5 A reinterpretação: a queda de Roma e os reinos bárbaros.
1.5.1 Quando depois de Roma a vida continua: a historiografia ao serviço dos reinos bárbaros;
1.5.1.1 explicar as translationes;
1.5.1.2 explicar a origem dos povos;
1.5.1.3 identificar o rei com tópicos imperiais;
1.5.2 As Histórias dos Godos, Vândalos e Suevos de Isidoro de Sevilha.
1.6 Hildegarda de Bingen e a “platonização” da leitura do tempo (1098-1179)
1.6.1 Religiosa; mística; excelente poetisa
1.6.2 História é como uma cidade cercada por uma muralha
1.6.2.1 Sul: tempo de Adão;
1.6.2.2 Este: de Abel a Noé;
1.6.2.3 Norte: até à Encarnação
1.6.2.4 Oeste: depois de Cristo
1.7 Joachim de Fiore e o fim dos tempos (ca. 1135-1202).
1.7.1 3 IDADES:
1.7.1.1 PAI: Antigo Testamento
1.7.1.2 FILHO: desde a Encarnação
1.7.1.3 ESPÍRITO SANTO: com a Parúsia
1.7.2 Cada período revelara uma das pessoas da Trindade
1.7.3 Nos cálculos de Fiore: a última idade começaria em 1260: Juízo Final
2. Tempo quotidiano.
2.1 O calendário romano.
2.1.1 Os meses, os dias e as horas romanas;
2.1.2 O papel dos pontífices na determinação do calendário;
2.1.3 TEMPO QUOTIDIANO: naturalmente marcado pelos ritmos naturais das estações e do dia;
2.2 No mundo medieval:
- Clero (como anteriormente os pontífices do Império romano): guardiães do templo: estabelecem calendário (marcado pelas festas religiosas); gerem o tempo quotidiano;
- estações: influenciam uma visão cíclica do tempo: regularidade do ano
- festividades religiosas: recobrem e cristianizam superficialmente realidade pagã;
2.3 Dia: marcado pelas 7 horas canónicas;
- não eram regulares; dependem da época do ano;
2.3.1 Sino:
- marca o quotidiano no mosteiro e fora dele;
- maior atentado: roubar os sinos;
- impõe à população o ritmo monástico.
- dia: marcado pelas horas; período da luz; período de Deus;
- noite: sem divisões nem toque de sinos; período de trevas; fora do tempo.
2.4 Semana: organização dos dias segundo uma ordem cristã, que irá substituindo na Península Ibérica a ordem tradicional romana; contagem paralela à dos meses e sem adequação;
2.4.1 DOMINGO: primeiro dia da semana – corte com os Judeus;
2.4.2 algo puramente artificial; concepção do tempo puramente religioso;