‘Renovar os ensinamentos dos Romanos e instruir a Hispânia’: Isidoro e as Etimologias.

18 Outubro 2019, 14:00 Rodrigo Furtado


 

1.     E depois do Império : a multiplicidade de caminhos.

1.1   A multiplicidade de novas carreiras ‘não políticas’ : o mundo estritamente militar ; a Igreja.

1.2   A ‘inutilidade’ da cultura : em termos estritamente políticos; para a salvação.

1.3   A ‘utilidade’ da cultura : a administração e as leis. O papel da Igreja: os especialistas – na escola; na administração ; na interpretação das Escrituras.

 

2.     Isidoro de Sevilha (ca. 560-636).

2.1   Família de hispano-romanos de Cartagena. Uma família de religiosos: Leandro de Sevilha, Fulgêncio de Écija, Florentina.

 

3.     Cultura e Funcionalidade social.

3.1   formação escolar;

3.2   preservação do saber suficiente;

3.3   compreensão dos textos sagrados.

le dessein de cette oeuvre [d’Isidore] est de répondre aux exigences premières d’une culture religieuse fondée sur une instruction intellectuelle et théologique, mais aussi et d’abord morale et spirituelle’ (Fontaine, 1986 : 132).

 

4.     Obra:

4.1   Exegese bíblica: Prooemia in libros Veteris et Noui Testamenti, as Quaestiones in uetus testamentum, o Liber numerorum, as Alegoriae Sacrae Scripturae.

4.2   Organização eclesiástica: De ecclesiasticis officiis.

4.3   As Etymologiae ou Origenes (615-636).

4.3.1        Compêndio do saber;

4.3.2        Livros 1-5: artes liberais – gramática, retórica, dialéctica, matemática, geometria, astronomia, música + medicina, direito;

4.3.3        Livros 6-8: Antigo e Novo Testamento, sobre Deus e os cargos da Igreja, sobre as heresias e as religiosidade pagã;

4.3.4        Livro 9: línguas, os povos, as relações de parentesco;

4.3.5        Livro 10: dicionário;

4.3.6        Livros 11-20: os animais, a geografia e fenómenos celestes, as construções e edifícios, minerais e metais, a guerra e os espectáculos, a navegação e vestuário, utensílios domésticos e agrícolas;

4.3.7        Fontes: autores cristãos (Agostinho, Jerónimo, Ambrósio, Cassiodoro); autores de escola da Antiguidade Tardia (Sérvio e outros comentadores, Donato e outros gramáticos, Lactâncio Plácido, Nónio Marcelo, Solino, Marciano Capela).

 

 

5.     Os Auctores clássicos:

5.1   Abundância de citações e remissões para os autores clássicos: Varrão, Cícero, Salústio, Énio, Vergílio, Estácio, Séneca.

5.2   CONTUDO: acesso à cultura clássica em segunda mão: ‘en el mejor de los casos, los autores paganos eran consultados, no leídos; o dicho con otras palabras, se podía llegar a ellos a través de pequeñas citas, antologías o resúmenes. La gran mayoría de los hombres cultos nunca habían abordado una obra de esta clase para leerla de la primera a la última línea’ (Díaz, 1982: 83-4).

5.3   Os intermediários : Sérvio, Nónio Marcelo, Lactâncio Plácido, Festo, Agrécio, Agostinho, Ambrósio, Mário Victorino, e outros textos gramaticais e de comentário.

5.4   O episódio de Perdiz (orig. 19, 19, 9):

O termo ‘serra’ deriva do som, ou seja do estridor que produz. Ora, o uso da serra e do compasso foi inventado por um certo adolescente, Perdiz, que, ainda rapaz, Dédalo, irmão da mãe dele, acolhera para o instruir nos seus conhecimentos. A inteligência deste rapaz diz-se que era tal que, quando procurava um meio rápido de cortar madeira, dotou uma lâmina de ferro afiada das mordidelas de dentes à semelhança da espinha dos peixes, que é aquilo a que os operários chamam de ‘serra’. Por causa da invenção deste instrumento, Dédalo, o seu mestre, levado pela lívida inveja, atirou de cabeça o rapaz do alto da cidadela; depois, foi partiu para o exílio em Creta e aí permaneceu durante algum tempo, segundo dizem as lendas. De Creta voou com umas asas e chegou à Cilícia

a)     Ovídio, Metarphoses  8. 236-259.

b)     fontes isidorianas: Sérvio (Aen. 6, 14; Georg. 1, 143), Higino (fab. 39, 1) e Ps.-Lactâncio Plácido (fab. 8, 3).

c)     Evemerismo e ausência de valor mitológico.

 

5.5  Sententiae (sent. 3, 13 – ed. P. Cazier, CCSL 111, p. 236, 1-13): Está, assim, o cristão proibido de ler as fantasias dos poetas porque, pelos encantamentos de historietas vãs, incitam o espírito às tentações dos prazeres. Na verdade, não é só oferecendo incenso que se sacrifica aos demónios, mas também acolhendo com prazer as palavras deles. Alguns deleitam-se mais com as palavras dos pagãos devido ao seu discurso ornamentado e balofo, do que com a sagrada escritura por causa da sua expressão simples. Mas que importa aprofundar as doutrinas mundanas e ignorar as divinas? Seguir fantasias temporárias e ter aversão aos mistérios celestes? Por conseguinte, devemos evitar tais livros pelo amor às sagradas escrituras e fugir-lhes.

 

5.6   Acesso à cultura clássica em segunda e terceira mão; recurso a comentários, escólios, obras gramaticais e escolares da Antiguidade Tardia; fragmentação dos textos clássicos e descontextualização desses fragmentos; ausência de leitura do texto completo; estatuto gramatical da sua funcionalidade; alarde de erudição.