Scriptoria, livros e bibliotecas: o que se guardava? O que se copiava? O que se lia?

22 Outubro 2019, 14:00 Rodrigo Furtado

  1. A filosofia pagã dos séculos I-IV d.C.: filosofia e modo de vida.
    1. Pitagóricos; Estóicos; Neo-platónicos: a contemplação do Uno e a fuga ao mundo distractivo;
    2. Ataraxia (tranquilidade); ascetismo (ἄσκησις: treino, exercício do gymnasium); mortificação; purificação; contemplação;
    3. A fuga à cidade; a fuga à política; a fuga ao artifício; a fuga a (uma certa) cultura; a fuga ao mundo material; a fuga aos daimones e aos desejos; o eremitismo (ἐρημίτης: o que vive no deserto)/anacoretismo (ἀνακορέω: retirar-se) pagãos.

 

2.     Antão (ca. 251-356).

a.      o controlo de si tão caro aos filósofos: o deserto como o lugar da luta contra as tentações; o controlo do corpo e das paixões;

b.     a atracção: os seguidores do deserto – discipulado, peregrinações e aldeamentos.

 

3.     O anacoretismo.

a.      A expansão do modelo de Antão e as comunidades de anacoretas: Pacómio (†348) e a ‘vida comunitária’: o nascimento do cenobitismo.

b.     Jerónimo e o ascetismo em Roma e na Palestina.

c.      O monaquismo episcopal e os precedentes das comunidades de canónigos regulares.

                                               i.     Martinho de Tours; Ambrósio de Milão; Agostinho de Hipona; Isidoro de Sevilha;

 

  1. Tradição, enciclopedismo, imobilismo e cópia dos escritos ‘clássicos’ no espaço monásico ocidental: a Regra de São Bento e os primeiros scriptoria monásticos; o Vivarium de Cassiodoro.

 

Regra de São Bento 48: ‘A ociosidade é inimiga da alma. Por isso, devem os irmãos dedicar-se ao trabalho manual e também, durante um determinado número de horas, à leitura divina. Por este motivo, cremos que cada uma destas ocupações será ordenada no tempo, segundo a seguinte disposição: da Páscoa até às Calendas de Outubro [...], desde a hora quarta até à hora em que celebrarão a sexta, estejam livres para a leitura [...]. Desde as Calendas de Outubro até ao início da Quaresma, estejam livres para a leitura até ao fim da segunda hora [...]. Nos dias da Quaresma, desde manhã até ao fim da hora terceira, estejam livres para as suas leituras [...]. Nesses dias da Quaresma, recebam todos, da biblioteca, um único códice que lerão integralmente, de forma continuada. Esses códices devem ser dados no início da Quaresma. Antes de tudo isto, sejam escolhidos um ou dois dos mais velhos para que circulem pelo mosteiro nas horas em que os irmãos estão livres para a leitura e para que vigiem a fim de que não se encontre por acaso um irmão indolente que se dedique ao ócio ou à conversa, que não esteja atento à leitura e que não só seja inútil para si, como também distraia os outros. [...] Do mesmo modo, no Domingo, estejam todos livres para a leitura, excepto os que foram escolhidos para ofícios diferentes.

 

 

5.     O mosteiro como um microcosmo: e.g. Saint-Gall (Saint-Gallen, Stiftsbibliothek, ms. 1092; 9th c. inc.).

 

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6.     Recuperar e preservar o saber no mundo carolíngio.

a.      Porquê? Reviver o passado. A ideologia carolíngia.

b.     Centros: Lorsch, Aquisgrano, Corbie, Tours, Saint Gall, Reichenau.

c.      Objecto:

                                               i.     Educação tardia – educação carolíngia (de novo, procurar os livros e os manuais);  uniformizar a educação;

                                              ii.     Liturgia uniforme;

                                             iii.     Letra e pronúncia uniformes;

                                             iv.     Copiar e editar tudo: os casos de Políbio, T. Lívio e Tácito.

1.      Entre 550-750: 264 manuscritos; 26 de tema não religioso;

2.      Entre 750-900: 290 manuscritos;

3.      Entre 900-1000: 150 manuscritos.

 

7.     Bibliotecas: o ms. Escorial R. II.18 e o inventário de 882.

 

 

 

 

 

 

8.     O testamento de Mumadona Dias (959).