O saque de Roma e Agostinho: o nascimento da filosofia política medieval.
19 Outubro 2021, 15:30 • Rodrigo Furtado
- Um homem do seu tempo (354-430):
- De Tagaste a Milão: aristocracia local; região densamente cristianizada; professor de retórica: Tagaste (373-4), Cartago (374-84), Roma (384-6), Milão (386-7). O baptismo: 387. Bispo de Hipona: 397.
- Dois problemas da Filosofia Antiga: a procura da sabedoria=felicidade/ a origem do mal na história.
2. O saque de Roma de 24 de Agosto de 410. ALARICO
a. O círculo pagão de Volusiano e a crítica à Encarnação; a cessação dos ritos e da adivinhação; as consequências do Cristianismo.
b. Orbis terrarum ruit;
‘Chega-me um terrível rumor do Ocidente: Roma foi cercada, a vida dos cidadãos resgatada com ouro e de novo os espoliados foram cercados, de tal modo que, depois dos seus bens, também perderam a vida. Embarga-se a voz e os soluços entrecortam as palavras quando dito esta carta. Foi tomada a Cidade que tomou todo o orbe; morre com fome antes de morrer pela espada; e dificilmente se encontram uns poucos para serem capturados: Ó vergonha, o círculo da terra desmorona, mas os nossos pecados não desaparecem. A ínclita Cidade e cabeça do poder romano foi consumida por um único incêndio. Não há região que não tenha refugiados vindos de lá. Em cinzas e em brasas caíram igrejas outrora sagradas. E, ainda assim, teimamos na avareza. (Hier. ep. 128.5).
c. A primeira resposta de Agostinho: O De excidio urbis Romae.
O que havemos de dizer, irmãos? Tremenda e veemente questão nos é aqui lançada, sobretudo por homens que, sem piedade alguma, assaltam as nossas escrituras (não decerto por aqueles que piamente as perscrutam) e que dizem, sobretudo acerca da recente destruição de tão grande cidade: «Não haveria em Roma cinquenta justos? Em tão grande número de fiéis, de pessoas consagradas, de tantos que vivem em continência, em tão grande número de servos e servas de Deus, não foi possível encontrar cinquenta justos, nem quarenta, nem trinta, nem vinte, nem dez? Se isto é pouco provável, por que razão Deus por cinquenta ou mesmo por dez [justos] não poupou a cidade?» (…) Então, eu apresso-me a responder: «Ou encontrou aí alguns justos e poupou a cidade ou, se não poupou a cidade, é porque não encontrou nenhum justo.» Dir-me-ão que é evidente que Deus não poupou a cidade. Eu porém respondo: «Para mim, não é de modo nenhum evidente.» A devastação da cidade que então aconteceu não foi como a de Sodoma. Quando Abraão interrogou Deus, a pergunta era acerca de Sodoma. E Deus, então, disse: «Não destruirei a cidade»; não disse: «Não castigarei a cidade». Deus não poupou Sodoma, destruiu Sodoma, consumiu-a completamente nas chamas. Não lhe adiou o Juízo, mas exerceu sobre ela o que tem guardado para os outros perversos no dia do Juízo. De Sodoma não restou absolutamente nada (…) Da cidade de Roma, porém, muitos fugiram e hão-de voltar, muitos ficaram e salvaram-se, muitos, nos lugares sagrados, não foram atingidos! «Mas – dir-me-ão – muitos foram levados como cativos». Também Daniel, não para seu castigo mas para consolação dos outros. «Mas muitos – dirão ainda – foram mortos.» Também muitos justos profetas desde o sangue do justo Abel até ao de Zacarias. Também os apóstolos, e o próprio senhor dos profetas e dos apóstolos, Jesus. «Mas muitos – dirão – foram atormentados por toda a sorte de aflições.» Imaginamos porventura que o foram tanto quanto o próprio Job? (2.2; trad. C. Urbano)
3. Repensar a escatologia: o sentido da história para lá da morte: a resposta a 410 e a Cidade de Deus.
4. A cidade de Deus e a cidade do Homem: duas comunidades não necessariamente materializadas em termos institucionais (e.g. a pertença à Igreja não é condição de salvação; o papel do império na cidade de Deus).
a. História de duas cidades: sobrepõem-se e misturam-se; todos pertencem à cidade da terra durante a vida na terra; cidade da terra: amor de si; desejo de domínio.
b. Cidade de Deus: amor de Deus e dos mandamentos. Diferente da Igreja. Ser cristão ou pertencer à igreja não é garantia de salvação.
c. Eventualmente, a história levará depois da Parúsia à separação entre as duas cidades. A maioria: condenada; minoria será salva pela Graça.
5. Dois problemas da Filosofia Antiga: a procura da sabedoria=felicidade/ a origem do mal na história.
5.1 A procura da sabedoria: o maniqueísmo persa.
5.1.1 O problema da origem do mal e o combate/dualismo entre Deus (bem) e Satã (mal), nenhum dos dois omnipotentes; dualismo luz/trevas.
5.1.2 A alma humana e o mundo como espaço de confronto entre o bem e o mal;
5.1.3 A procura da sabedoria implica a derrota do mal interior;
5.2 O Cristianismo e a procura da sabedoria=felicidade. Como é que o Cristianismo e a Sabedoria se podem identificar? Fundamental para compreender mais de 1500 euros de História da Cultura;
5.2.1 Ser feliz é ser sábio: primeiro princípio. Deus é sabedoria (Logos). Logo ser sábio é conhecer Deus. Como se atinge a sabedoria? Através da Filosofia. Logo, o cristianismo é a verdadeira filosofia.
5.2.2 O processo de conversão: a ascensão do intelecto até à contemplação da verdadeira Sabedoria.
5.2.3 Homem e a necessidade da Graça.
6 Reconsideração da História e a origem do mal.
6.1 A criação de um mundo bom por Deus e a recusa do maniqueísmo.
6.2 O mal para Agostinho entra, concretiza-se na História; não existe extrinsecamente – 1.º queda dos anjos; 2.º Adão e Eva.
6.3 O pecado original, a origem do mal e a explicação da história.
6.4 O mal advém da vontade+liberdade humanas. Os homens são pois responsabilizáveis como agentes morais.
6.5 A omnisciência divina, a liberdade humana e a existência de Deus fora do tempo.