aula não presencial, via zoom: análise de texto de The Maltese Falcon; adaptações cinematográficas
16 Março 2020, 10:00 • Margarida Vale de Gato
1. Sobre a apresentação do Código Hayes
Alguns dados a reter:
Sob a liderança de Will J. Hays, a MPPDA (Motion Picture Producers and Distributors of America) adotou um código de suto-censura em 1930, muito por influência das críticas de católicos e de grupos conservadores (curiosamente, porém, incluindo mulheres preocupadas com a objetificação e sexualização do feminino no cinema). Em 1934, cria-se a PCA (Production Code Administration) sob a liderança do católico Joseph Breen. O chamado código Hays foi seguido com rigor até 1956 e esteve em vigor até 1968. Proibia conteúdos sexualizados, nudez, exposição desnecessária de vícios de comportamento e de linguagem, e requeria que no final dos filmes o bem fosse sempre premiado.
É interessante analisar, à luz das diferentes fases do Código, os três filmes produzidos com base em The Maltese Falcon
The Maltese Falcon de Roy del Ruth em 1931 (com Brigit mais sexualizada);
Satan Met a Lady, comédia de 1936 de William Dieterle (que procurava contornar a censura sob alguns conteúdos mais imorais com o pretexto de ser uma comédia); vimos o seu trailer aqui: https://www.youtube.com/watch?v=XeRSnZYhgeI
The Maltese Falcon de John Huston de 1941, o mais conhecido, e que recorre a mais simbolismos e subentendidos, também característico do género do film noir, de que se tornou um dos exemplos mais célebres.
2. Sobre a análise de texto
Praticámos com o excerto das falas de Brigid e Spade no capítulo 4, com início em “Help me Mr. Spade”, p. 30; foi enfatizada a necessidade de decompor o texto em elementos constituintes e classificá-los - seja nas suas partes gramaticais, por exemplo (conjunto de afirmações e negações que opõem “good” e “bad” no excerto, o vocativo a “Mr. Spade”, ou o conjunto de adjetivos usados para caracterizar a virilidade do mesmo), seja em partes estilísticas (a gradação dos já referidos adjetivos, por exemplo, a repetição excessiva que nos leva a desconfiar da sinceridade de Brigid).
Recapitularam-se os elementos a reparar:
- tema e estrutura
- importância do texto no contexto da obra e época do autor
- sujeito de enunciação / narrador e ponto de vista
- efeitos linguísticos (uso de redes semânticas, adjetivos, deícticos, colocações inovadoras ou clichés, etc.)
- simbolismo
- figuras de estilo e seu efeito
- tom
- narratário / público leitor
- intertextualidade com textos desta disciplina ou outros
E referiu-se a vantagem de se articularem estes elementos com vários aspetos relativos às categorias de análise crítica cultural, sendo os mais relevantes no romance os papéis de género, de orientação sexual, a etnia (Cairo, “the Levantine”) a corporeidade (gordura de Gutman, por exemplo), a idade (o mais novo gangster, nada inocente e mostrando uma representação alternativa de “boy”).
Nota ainda: não esquecer a relação intertextual – no excerto da p. 30, por exemplo, o ideal da virilidade representado por Sam Spade podia ser comparado com o de Bill Cody (Buffalo Bill).
E, finalmente: realçar detalhes do realismo e do estilo “hardboiled”, sendo vantajoso usar para isso o texto de Raymond Chandler, “Simple Art of Murder” (pp. 96-102).
3. Sobre o exercício que já está na plataforma e-learning e foi enviado por email. Podem optar entre uma análise de texto simples ou uma análise de malha mais alargada, que inclua comparação com excerto de filme, à semelhança do que já foi pedido no exercício de TPC
http://popularamericana.blogspot.com/2020/03/trabalho-para-aula-11-de-marco.html#comment-form
Na próxima quarta-feira tiramos mais dúvidas.