Discussão de ideias para projectos de trabalho finais
11 Março 2019, 14:00 • Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes
MARÇO 2ª FEIRA 6ªAULA
11
Estão incluídos neste sumário sugestões de trabalho enviadas por e-mail pelo Prof. Pedro Florêncio.
Olá a todos,
Cintya:
- lembrei-me que este ensaio do Diderot pode ser um livro de cabeceira fundamental para a tua investigação (se voltares à Faculdade de Letras ainda esta semana, há um exemplar desta colecção a um preço bem mais barato na banca de livros lá em baixo, entre a reprografia e ao bar velho): https://www.wook.pt/livro/carta-sobre-os-cegos-para-uso-daqueles-que-veem-denis-diderot/191133
- este é o filme do Werner Herzog de que falámos: https://www.imdb.com/title/tt0071691/?ref_=nv_sr_1
João:
- aqui segue um link para download do documentário do Pedro Costa sobre o casal Straub-Huillet: https://we.tl/t-Hnmv8b65Fn
- aqui fica um excerto do Gilles Deleuze a falar sobre uma particularidade do cinema deles e que se articula bem com algumas considerações feitas, na aula de há pouco, sobre potenciais relações entre palavra e imagem, que me parece que são do vosso interesse explorar: https://www.youtube.com/watch?v=eI1zLKFM-do
- aqui fica um famoso filme do casal disponível no youtube (nem que seja só para "picar" a timeline e ficarem com uma noção geral do tipo de estética em causa): https://www.youtube.com/watch?v=ZStHAdfdNyY
Abraços e até breve,
Pedro
Boa tarde a todos,
A propósito das últimas duas aulas, seguem um artigo de um bom site de crítica português e uma entrevista do Expresso ao próprio Michael Snow. Em ambos se aborda de forma sucinta a obra do realizador no contexto do cinema estrutural norte-americano.
Em baixo, deixo o link para o importante e muitas vezes referido "Wavelenght" (1967):
https://www.youtube.com/watch?v=aBOzOVLxbCE
Deixo, também, um outro artigo do mesmo site de crítica de cinema sobre a obra de Stanley Brackhage e um link para o PDF online de "Metaphors on Vision", o famoso livro de teoria cinematográfica escrito pelo próprio artista:
http://www.apaladewalsh.com/2018/03/stan-brakhage-a-arte-da-visao/
https://monoskop.org/images/d/de/Brakhage_Stan_Metaphors_on_Vision.pdf
Pedro Florêncio
1. Comentámos o que vimos em ensaio no CCB, a 28.2.2019 (19:30 – 22:30), na presença do João Henriques, colaborador dramatúrgico directo do espectáculo O Castelo do Barba Azul (ópera em um acto de Béla Bartók com libreto de Béla Balázs) e Voz Humana (com música de Francis Poulenc, tragédia lírica em um ato com libreto de Jean Cocteau). Manifestámos a nossa perplexidade relativamente à primeira das obras que na altura nos pareceu desequilibrada, quer na ocupação do espaço, quer na ligação entre os cantores – Marcell Bakonyi (Barba-Azul) e Allison Cook (Judite). Naturalmente que nenhum de nós estaria à espera que o ensaio fosse resultado final. No entanto, tivemos a grata surpresa de apreciar com prazer a prestação de Alexandra Deshorties, em Ela, que nos satisfez unanimemente com o seu desempenho de cantora e de actriz na segunda obra.
Fomos sensíveis à opção de cenário através de vídeo, de João Pedro Fonseca, apesar de haver algumas imagens que desenvolviam menores possibilidades de expansão de imagem e que, por isso, talvez desgastassem o conjunto das mesmas.
Ocupou-se Olga Roriz da concepção cenográfica (com Cristina Piedade e João Pedro Fonseca) e foi sua a encenação. Um ensaio não permitiu apurar das opções da criadora que, não duvidamos, colocou neste trabalho o profissionalismo que tão bem lhe conhecemos. Registo apenas um apontamento lateral que vem em abono desta sua qualidade. Mal o ensaio terminou, Roriz correu para os seus cantores-actores para com eles dialogar. Estávamos demasiado longe para sabermos ao certo o que foi dito. Mas os gestos e o envolvimento dos visados deixavam perceber que a quente era preciso fazer mudanças, apurar ideias, experimentar talvez o que não tinha sido experimentado. Exactamente este exercício acompanhado das mãos da encenadora no fato-calça (Manuel Alves) de Alexandra Deshorties, como se os dedos pudessem dizer mais do que as palavras, fixou para nós um momento inesperado que nenhum espectáculo jamais nos daria a ver.
O ensaio foi isto mesmo: prestar atenção ao que calculamos seja um tempo de experimentação, tentar ler em cada rosto (por vezes nos movimentos das costas) o que cada elemento da equipa, incluindo os que estão em cena, terá para dizer ou não acerca dos passos caminhados nessa noite. Este é um tempo laboratorial e continua a sê-lo mesmo que pareça que nada mudou do ensaio anterior para o que virá a seguir.
Deste ponto de vista o ensaio a que assistimos tem semelhanças com ensaios por nós já observados antes. E talvez por isso este ensaio preserve em nós não uma memória extraordinária mas o registo de um percurso, o daquela equipa artística e técnica, que procurava conjugar o previsto e o imprevisto.
Pouco mais pudemos dizer acerca do que vimos e ouvimos. Afinal aquele era um ensaio de géneros musicais que não estávamos habituados a acompanhar. Qual de nós assiste a espectáculos operáticos (neste caso modernistas) com regularidade? Talvez devêssemos ter tido acesso aos libretos. Não os procurámos. A nossa preparação para esta saída de campo terá sido quase nula. E, apesar disso, pudemos juntar à nossa experiência de espectadores de artes performativas um objecto – o ensaio – que poderia ter suscitado em nós o desejo de acompanhar presença em cena, para a qual teríamos tido instrumentos de apreço e avaliação que talvez não tenhamos posto em prática de forma sistematizada. Exercício difícil sem dúvida, mas possível.
Em jeito de pobre resumo de ideias deixo aqui a informação presente no endereço electrónico do CCB:
Numa noite dupla de ópera, apresentam-se duas obras que nos fazem pensar sobre a condição humana e sobre a solidão.
Na primeira o duque Barba-Azul chega ao castelo com a nova mulher, Judith. O espaço escuro e frio vai ganhando diferentes tonalidades à medida que a noiva consegue convencer o marido a abrir cada uma das sete portas. É uma luta de resistência. Ele resiste. Ela persiste e leva a melhor. A ópera em um ato O Castelo do Barba-Azul, com música de Béla Bartók e libreto de Béla Balázs, inspirada num famoso conto de Charles Perrault, encerra uma reflexão profunda sobre a sociedade atual e a dificuldade de integração do indivíduo, tantas vezes condenado pelo seu próprio individualismo à solidão.
Na segunda ópera, uma voz, talvez mais humana porque cantada, uma mulher sem nome, Elle, expõe a intimidade e o drama do último contato telefónico com o seu antigo amante que rompe com ela. Esta é A Voz Humana, uma tragédia lírica em um ato com música de Francis Poulenc, a partir do texto de Jean Cocteau, sobre o medo de romper, de ficar só, de perder quem se ama.
2. Reservámos ainda a aula de hoje para escutarmos os alunos sobre as suas propostas para o trabalho final de seminário. Ainda que já haja alguns esboços de ideias nas exposições dos nossos alunos, pareceu-nos, por ora, que existe um factor que pode condicionar qualquer tomada de decisão: estamos a meio do programa.
Empenhámo-nos todos de forma aberta em inquirir percursos, estratégias, metodologias que possam já ter contornos de virem a sustentar uma ideia sólida que possa ser apresentada como sumário descritivo dentro de algumas semanas. Estabelecemos o dia 1 de Abril como meta para aqueles que já tenham encontrado o seu rumo. Este instrumento de trabalho existirá para que possamos voltar a dialogar.
Expôs o aluno João Henriques, no campo das suas pesquisas sobre voz, a substancialidade da função de um director vocal, área de estudo a que se dedica como professor e investigador há muitos anos. Gostámos de o ouvir sobre aquilo que não conhecíamos de forma tão explícita e que congrega hábitos de linguagem, trabalho de mesa, na acepção dramatúrgica do termo, criação de imagética consequente, reconhecimento de diversas sensações, alcance de imagens mentais, entendimento da repetição como criação e não como exercício de repetição pela repetição. Reforçou o aluno a necessidade de uma imagem interior que pré-existe e se prolonga de modo a transformar um texto em som.
Cintya Floriani deu-nos conta de que mantém actualmente um diário de campo como registo para tudo o que a vai movendo e comovendo na área de investigação que pretende desenvolver no futuro: o estudo comportamental sobre cegos no âmbito da assistência a espectáculos artísticos e outras manifestações culturais, por exemplo, exposições.
Foram várias as sugestões feitas à aluna no campo cinematográfico, sugestões essas que já antes tinham sido mencionadas. A intenção, neste caso, e partindo do princípio que Cyntia Floriani já tinha visto, por exemplo, o filme Land of Silence and Darkness (1971) de Werner Herzog, foi pedir-lhe a redacção de um documento que nos elucidasse sobre o que vê Cintya Floriani naquilo que outros não vêem, porque não podem; como acontecem outras formas de ver que não dependem desse sentido, o que será para o realizador deste filme um acto empático que não precisa de ser explicado ou dissecado porque a sua natureza sendo dos sentidos está para além deles.
A aluna Rita Rodrigues manifestou grande agilidade na exposição dedicada à vertente de projecto do seu doutoramento. Pareceu-nos, no entanto haver a necessidade de melhor enquadrar na sua pesquisa o conceito de abstracto derivado de Kandinsky. Posteriormente a Rita foi esclarecida por mim e, por isso contamos com boas propostas e melhores desenvolvimentos.
A aula decorreu ao ar livre, por sugestão do Professor Alexandre Pieroni Calado. O debate instalado entre todos pareceu-nos ter sido bastante proveitoso.
Acertámos datas e lugares para as próximas saídas de campo:
Dia 21 de Março – Atiro-me de cabeça contra a parede e desapareço - Conversa literária sobre a obra de Elfriede Jelinek
Nessa quinta-feira, às 18h30, terá lugar uma mesa redonda no auditório do Goethe-Institut em Lisboa intitulada Atiro-me de cabeça contra a parede e desapareço inserida no conjunto de textos Dramas de Princesas. A Morte e a Donzela da nobel austríaca Elfriede Jelinek.
No âmbito da mesa redonda Atiro-me de cabeça contra a parede e desapareço organizada pelas Artes e Engenhos, Anabela Mendes, Vera San Payo de Lemos e Bruno Monteiro conversam em torno da versátil obra literária da autora. A conversa será moderada por Alexandre Pieroni Calado. (Informação retirada do site do Goethe Institut).
Dia 27 de Março – assistência a um ensaio de A Parede de Elfriede Jelinek, em encenação de Alexandre Calado e com a actriz Paula Garcia, no espaço da Latoaria (Escadas do Monte nº 9) entre as 19:30 e as 20:30.
Dia 12 de Abril – assistência à estreia de A Parede no Teatro-Estúdio António Assunção, Rua Conde Ferreira, Almada.