I. APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
15 Fevereiro 2017, 16:00 • Adriana Veríssimo Serrão
ESTÉTICA – 2016-2017
Prof.ª Adriana Veríssimo Serrão adrianaserrao@fl.ul.pt
I. APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Multiplicidade de acepções e usos correntes do termo.
Uso como substantivo:
- - uma disciplina, um campo doutrinário, um conjunto de questões com unidade temática (“a Estética”) , ou definindo um discurso coerente sobre um sector específico do real, uma disciplina da Filosofia distinta das restantes pelo objecto teórico (“a Estética de Kant”).
- - um sistema de valores, um estilo, correntes ou gosto de uma época (pertencente sobretudo ao vocabulário da história e da crítica da arte, e da teoria e crítica literária (“a estética clássica, a estética do Barroco, do Modernismo…..).
- - a beleza, a harmonia, o equilíbrio, perfeição de um objecto, em consonância com um determinado ideal, uma norma, um paradigma: “a estética de um edifício, de uma cidade, de um conjunto, de um rosto… “.
Uso como adjectivo: “estético”:
- - como modo de ser: qualidades/ modos de ser de um objecto, de um ente, de uma situação: propriedades objectivas do objecto --- uso objectivista.
- - como modo de ver, apreender, sentir: modalidade como o sujeito capta (esteticamente) o objecto --- uso subjectivista.
O campo teórico da Estética.
A ambiguidade fundamental: sentido estrito e o sentido amplo.
Em sentido amplo: conjunto de doutrinas que reflectem sobre a Beleza, a Arte, a experiência (estética) do sujeito e a criação artística.
Em sentido estrito: doutrina da sensibilidade.
A invenção da Estética como disciplina independente:
Alexander Gottlieb Baumgarten, Aesthetica, 1750 (da escola Leibniz-Wolff)
Advento da sensibilidade na demarcação com o pensamento lógico. Reconhecimento de uma lógica da sensibilidade. Origem duplamente iluminista e grega. Recupera o sentido grego do aisthetikos (do radical aisthesis, sensação) e testemunha a íntima relação do universo estético com a esfera da sensibilidade humana, por demarcação do universo intelectual.
§ 1. A ESTÉTICA (teoria das artes liberais, gnoseologia inferior, arte do pensar belamente, arte do análogo da razão) é a ciência do conhecimento sensitivo).
§ 1. AESTHETICA (theoria liberalium artium, gnoseologia inferior, ars pulcre cogitandi, ars analogi rationis) est scientia cognitionis sensitivae).
Trad. port. Ana Rita Ferreira, “Prolegómenos” da Estética de Baumgarten”, Philosophica, 44 (2014).
A Aesthetica não é só a primeira obra com este título, mas igualmente a primeira a justificar o objecto e o estatuto autónomo de uma disciplina que orienta as operações da nossa sensibilidade (facultas cognoscitiva inferior), distinta da Lógica, que orienta as operações da inteligência (facultas cognoscitiva superior).
A facultas cognoscitiva inferior fornece um conhecimento sensível (cognitio sensitiva), claro, mas confuso, isto é, que permite reconhecer o objecto mas sem poder discriminar e enunciar as propriedades. É um analogon da razão.
O conhecimento sensível perfeito: unidade do conteúdo, da ordem dos elementos e da sua expressão.
O objectivo da Estética é o de conhecer e produzir a beleza.
Teoria das artes liberais, das belas-artes.
Arte do pensar com beleza:
§ 14. O fim da Estética é a perfeição do conhecimento sensitivo enquanto tal. Ora este fim é a beleza.
§ 14. Aesthetices fines est perfectio cognitionis sensitivae, qua talis. Haec autem est pulcritudo.
II. APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA
Objectivos:
Enquanto disciplina introdutória da licenciatura em Filosofia, mas frequentada também por alunos de outras licenciaturas (Estudos Gerais, Línguas, Literaturas e Culturas, Artes do Espectáculo, História da Arte, Artes e Culturas Comparadas, Artes e Humanidades, Ciências da Comunicação, Estudos Portugueses), o programa oferece uma visão panorâmica dos principais problemas, correntes e orientações da Estética.
Tendo em conta o nível dos alunos, optou-se por um programa que incide em autores clássicos, estudados em textos fundadores de todo o pensamento estético. A diversidade dos modelos propostos cobre também o arco temporal da Antiguidade até à actualidade.
Esta diversidade justifica que a Estética não tenha um objecto teórico preciso e que o termo “estético” seja um aglutinador de orientações muitas vezes contraditórias, ora designando qualidades intrínsecas dos objectos, ora os modos pelos quais o sujeito apreende e sente o mundo circundante.
No final do curso, os alunos estarão habilitados a identificar problemas, a usar correctamente conceitos operatórios e a analisar crítica e comparativamente as diferentes teorias estudadas.
Conteúdos:
Esta unidade curricular, disciplina obrigatória do 1.º ano da licenciatura em Filosofia, oferece uma visão ampla dos grandes problemas da Estética Filosófica.
Tendo por base o estudo de doutrinas e obras fundamentais, apresenta a evolução da concepção de Estética e a diversidade dos seus principais modelos:
a metafísica do Belo (to kalon): calologia teoria da beleza;
a poética da obra singular;
a experiência sensível e sentimental do mundo;
a filosofia da história do belo na arte;
a fenomenologia da expressão artística.
Tópicos do Programa:
Introdução. O lugar da Estética no âmbito do saber filosófico. Multiplicidade de acepções e usos correntes do termo. O campo teórico da Estética. A invenção da Estética como disciplina independente.
1. Platão: o belo como ideia. A desvalorização do plano da aisthèsis. A dinâmica erótica no caminho do "homem" até à alma. A ideia‑arquétipo como modelo e critério da apreciação.
2. Aristóteles: a poética da obra singular. Analogia entre a tragédia e o ser vivo. O princípio estético da verosimilhança. A catarsis: o apelo ao espectador.
3. Kant: a autonomia da experiência estética. Gosto e sentimento. Reciprocidade da contemplação e da criação. A tensão imaginação-razão na génese do sublime. Ideia estética e intuição criadora.
4. Hegel: a historicidade da arte. A arte como manifestação sensível do absoluto. O primado da beleza artística. Linguagem poética e pensar filosófico.
5. Merleau-Ponty e Paul Klee: fenomenologia e ontologia da expressão artística. A arte como visão exemplar e linguagem originária.
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Bibliografia Primária
Consta dos seguintes textos fundamentais (com os títulos em português)
Platão, Hípias Maior, República, livros III, X; Sofista (excerto), Banquete, Fedro [serão indicados os principais excertos].
Aristóteles, Poética.
Kant, Crítica da Faculdade do Juízo (Analítica do Belo e Analítica do Sublime).
Hegel, Estética (Introdução, O ideal do belo).
Merleau-Ponty, O Olho e o Espírito. L’Oeil et l’Esprit
Paul Klee, Teoria da Arte Moderna.
A Bibliografia Secundária acompanha os diversos pontos da matéria e inclui Estudos e Obras Instrumentais: Histórias da Filosofia, Histórias da Estética e Manuais de Estética e Filosofia da Arte.
Avaliação
1. Um comentário de texto (com temas previamente indicados) a entregar a 19 e 20 de Abril (4/5 pp.).
2. a) um trabalho (6/7 pp.), previamente combinado, a entregar em 6 de Junho (só para os alunos com nota positiva em 1.)
2. b) Um teste (com temas previamente indicados) a realizar em 6 de Junho;
Entrevista Final.
Critérios de classificação: nível de conhecimentos, organização formal dos textos, clareza e correcção da expressão oral, maturidade de pensamento e espírito crítico.