I. A Natureza do Juízo Declarativo. A - Teorias Clássicas do Juízo Declarativo - 3

12 Outubro 2020, 12:30 António José Teiga Zilhão

Teoria Kantiana do Juízo Declarativo - 2

 
2.1. A distinção kantiana entre juízos a priori e juízos a posteriori. Os primeiros como aqueles cuja verdade pode ser conhecida de um modo independente da experiência; os segundos como aqueles cuja verdade não pode ser conhecida de um modo independente da experiência. Exemplos de juízos a posteriori e de juízos a priori. Carácter epistémico desta distinção (a qual remete para a fonte do conhecimento da verdade dos juízos), por oposição ao carácter semântico da distinção analítico/sintético (a qual remete para o sentido dos termos gerais que compõem o juízo).  

2.2. Problemas colocados pela distinção kantiana a priori/a posteriori. Uma vez que a distinção depende essencialmente do apelo para a experiência, fica a faltar-nos uma definição kantiana de 'experiência'. Há vários autores que remetem a origem do conhecimento a priori para uma 'intuição' ou 'apreensão intuitiva' da verdade dos mesmos. Como poderemos saber que essa 'intuição' é distinta da 'experiência' de que Kant fala?
 
2.3. Ciente de que o mero apelo para a experiência não seria, só por si, suficiente para clarificar a distinção a priori/a posteriori, Kant introduziu também uma dimensão modal na mesma: os juízos a priori seriam necessários, enquanto que os juízos a posteriori seriam contingentes. Os juízos necessários seriam aqueles juízos que, sendo verdadeiros, não poderiam não ser verdadeiros (a sua negação envolveria uma violação do princípio da não contradição); os juízos contingentes seriam aqueles juízos que, caso fossem verdadeiros, seriam tais que poderiam igualmente ser falsos (a sua negação não envolveria uma violação do princípio da não contradição). Segundo a CRP, a necessidade seria uma condição suficiente para a aprioricidade: neste sentido, sendo todos os juízos analíticos necessários, eles seriam também todos juízos a priori. Coloca-se então a questão seguinte: sendo todos os juízos analíticos juízos a priori, será que todos os juízos a priori são igualmente juízos analíticos?