Filosofias do Mundo 2022-2023
2º semestre
O objectivo é repensar a filosofia como amor da sabedoria, entendida como compreender a natureza do real e viver em conformidade com isso. A esta luz questiona-se a visão etnocêntrica da origem e natureza da filosofia e propõe-se o reconhecimento da sua emergência plural, policêntrica e planetária nas várias culturas do mundo.
1. Repensar a filosofia como busca de sabedoria: compreender a natureza do real e viver em conformidade com isso. A crise e o renascimento da questão do sentido da vida. A redescoberta das práticas contemplativas.
2. A Era Axial (Karl Jaspers). Superação do etnocentrismo, inter-culturalidade e emergência de um pensamento plural, policêntrico e planetário.
3. Tradições mitopoéticas, revelações divinas, experiências contemplativas e hermenêuticas filosóficas. A multiplicidade de mundos no mundo e a multidimensionalidade dos estados de consciência como alternativa à normose (a patologia da normalidade).
4. O mundo primitivo, animista e xamânico. O Tempo do Sonho.
5. Índia: bramanismo e budismo; brahman e atman; vacuidade e anatman. Libertação e Despertar.
6. China: confucionismo, taoismo, budismo Chan. Dao, ren (humanidade) e de (virtude).
7. Japão: O shinto (caminho dos deuses) e os kami; o budismo zen e a meditação: zazen e sanzen.
8. Israel: Génesis, chet (falhar o alvo), hebel (vanidade) e teshuva (retorno).
9. Grécia: Khaos (Hesíodo), as catábases de Orfeu e Parménides e a filosofia.
10. Cristandade: a kenôsis do Verbo e a Ressurreição nos evangelhos canónicos e apócrifos.
11. Islão: criação, rendição a Allah e humanidade universal no sufismo.
12. Tibete: Bön e budismo tântrico. O despertar primordial: Dzogchen e Mahamudra.
13. Modernidade ocidental: o projecto de emancipação do humano e de submissão da natureza. Morte de Deus e superação do humano: Nietzsche.
14. Antropoceno e emergência do “eu ecológico” (Arne Naess). Repensar do perspectivismo ameríndio e “antropologia além do humano” (Bruno Latour, Philippe Descola, Viveiros de Castro, Eduardo Kohn).
Smith, Huston, The World’s Religions. Our great wisdom traditions. HarperSanFrancisco, 2005 (A Essência das Religiões. A sabedoria das grandes tradições religiosas. Lisboa: Lua de Papel, 2007).
Perry, Whittal N., The Spiritual Ascent. A Compendium of the World’s Wisdom. Louisville: Fons Vitae, 2007.
Panikkar, Raimon. VI. Culturas y Religiones em Diálogo. 2. Diálogo intercultural e inter-religioso. Barcelona: Herder, 2015.
Elberfeld, Rolf, Philosophieren in einer globalisierten Welt: Wege zu einer transformativen Phänomenologie. Alber Karl, 2017.
Borges, Paulo, Vazio e Plenitude ou o Mundo às Avessas. Estudos e ensaios sobre espiritualidade, religião, diálogo inter-religioso e encontro trans-religioso. Lisboa: Âncora Editora, 2018.
Métodos de ensino e avaliação:
O método de ensino insere-se na corrente emergente da educação contemplativa e adapta o modelo da lectio divina - herdado das escolas filosóficas gregas e formulado nas escolas monásticas medievais como uma das raízes das primeiras universidades europeias – ao contexto laico contemporâneo. Estruturado em quatro momentos inseparáveis – lectio, meditatio, oratio e contemplatio - , este método visa recolocar o pleno desenvolvimento do potencial humano dos estudantes no centro do processo educativo, desenvolvendo qualidades de 1) audição e leitura atentas e profundas, 2) interpretação dos múltiplos níveis de sentido dos textos (incluindo a sua ressonância existencial e subjectiva) e pensamento crítico a seu respeito, 3) resposta criativa oral e escrita (porventura também artística) e 4) fruição silenciosa dos efeitos deste processo, abrindo-se a uma experiência de sabedoria e de transformação da vida que cumpra a vocação original da filo-sofia. Este método visa, mais do que a acumulação quantitativa e meramente intelectual de conhecimentos, a formação e o desenvolvimento integrais dos estudantes, desenvolvendo a sua autocompreensão mediante a resposta pessoal às matérias estudadas, bem como o seu sentimento de conexão com os outros, o mundo e a vida. O método visa desenvolver um sentido de comunidade e de cooperação no processo de descoberta e exploração das questões e possibilidades da condição humana mediante a hermenêutica dos textos escolhidos.
Considerando também a natureza das matérias leccionadas, as aulas integrarão exercícios meditativos, hoje reconhecidos como notavelmente facilitadores da manutenção e aprofundamento da atenção e do processo educativo.
Sugere-se ler sobre este método, entre outras obras:
- Barzebat, Daniel P. e Bush, Mirabai, Contemplative Practices in Higher Education. Powerful Methods to Transform Teaching and Learning. San Francisco: Jossey Bass, 2014.
- Keator, Mary, Lectio Divina as Contemplative Pedagogy. Re-Appropriating Monastic Practice for the Humanities. London/New York: Routledge, 2018.
- Paulo Borges, Presença Plena. Uma viagem meditativa, terapêutica e filosófica pelas cinco energias da vida. Lisboa: Farol, 2022.
A avaliação será contínua e os alunos serão constantemente convidados a uma participação activa, oral e escrita, na interpretação e comentário dos textos que irão sendo disponibilizados com antecedência. Em termos formais, são obrigatórios dois elementos: 1) um trabalho final sobre um autor, autores ou temas no âmbito do programa, a combinar previamente com o docente mediante um projecto de trabalho a apresentar até 30 de Março; 2) um relatório sintético acerca da experiência pessoal do aluno nesta disciplina e da sua relevância para o processo do seu desenvolvimento humano; este elemento de avaliação pode incluir uma dimensão de criação artística (poético-literária, desenho e pintura, musical, etc.), que não dispensa o referido relatório. O primeiro e o segundo elementos contribuirão, em geral, com 75% e 25% para a avaliação final. Ambos os elementos de avaliação devem ser impressos e entregues até 15 de Julho.
O primeiro elemento de avaliação terá o limite mínimo de 15 páginas e o
limite máximo de 25 páginas, com tamanho de letra 12 e 1,5 linhas de
espaçamento. A dimensão escrita do segundo elemento tem o limite mínimo de 5 páginas e o limite máximo de 10 páginas, com tamanho de letra 12 e 1,5 linhas de
espaçamento.
Os primeiros trabalhos devem incluir: 1) uma introdução onde se justifique a escolha do tema e se apresente o objetivo do trabalho; 2) um capítulo onde se faça um breve enquadramento histórico-cultural do(s) autor(es) ou tema(s) estudado(s); 3) exposição, interpretação e comentário crítico e criativo dos textos com identificação das citações das fontes originais e dos comentadores em notas de rodapé; 4) uma secção, indispensável e muito relevante, onde se proceda a uma reflexão pessoal que mostre a resposta pessoal do estudante à matéria do seu trabalho; 5) uma conclusão, onde se faça uma síntese dos resultados a que a investigação conduziu, em termos objetivos e subjectivos.