Plenitude e Inefabilidade, Contemplação e Amor no Pensamento e na Cultura Portugueses

0. Plenitude, inefabilidade, contemplação e amor no mito, na espiritualidade, na filosofia e na literatura universais. Uma alternativa à crise mental e civilizacional contemporânea.

1. Cancioneiros medievais - Ausência, amor, "perder o sen". O mundo terreno entre o paraíso e o exílio amoroso. Vestígios animistas na animação amorosa do mundo.

2. A Navegação de São Brandão, a Viagem de Trezenzónio ao Paraíso, na Ilha do Solstício e o Conto de Amaro - A herança celta nas viagens visionárias, a Ilha Encoberta e sua futura influência no imaginário dos Descobrimentos e do sebastianismo.

3. Santo António de Lisboa - Contemplação na treva e mística nocturna.

4. Pedro Hispano - O comentário à Teologia Mística do Pseudo-Dionísio Areopagita, a crítica da metafísica ontoteológica e o excesso do sensível e do inteligível.

5. Boosco Deleitoso - Ermo, contemplação, êxtase. Viver desde já na glória.

6. Leão Hebreu - Desejo, amor, contemplação e “união copulativa” com a divindade.

            7. Luís de Camões - "Um não sei quê suave respirando": amor erótico e transfiguração do mundo. Sexualidade e visão divina na Ilha dos Amores. Portugal, a nova era do amor e o mito implícito do Quinto Império em Os Lusíadas.

            8. Frei Hilarião Brandão - Esvaziamento e nudez, “noite escura de si mesmo” e “experiência calada”.

            9. Francisco de Sousa Tavares - "Sumo silêncio", vida sem lugar e transformação no “pego infinito” da omnipresente essência divina.  

            10. D. Gaspar de Leão - Teologia mística, contemplação sem imagens e amor unitivo.

            11. Frei Agostinho da Cruz - Silêncio, quietação e auto-esquecimento. Saudade e  verbo cósmico.

            12. Padre António Vieira - Oração vocal, mental e silêncio. A influência de Joaquim de Fiore na concepção do Quinto Império como consumação do Reino de Deus na Terra e do Corpo Místico de Cristo.  

            13. Padre Manuel Bernardes - Visão, suspensão, pasmo e “santíssima ociosidade”.

            13. Antero de Quental – A ânsia de redenção cósmica e a "transição do ser para o não-ser" enquanto “plenitude e perfeição do ser”. Santidade e mística laicas e realização do “bem universal”.

            12. Teixeira de Pascoaes - A saudade na tensão neognóstica entre Deus criador e redentor. Nada, ilusão e bailado cósmico: o “espectador”. O saudosismo como fusão do paganismo e do cristianismo. O ateoteísmo: Deus como “o único ateu perfeito”.

            13. Leonardo Coimbra – A alegria, a dor e a graça. Do amor sexual ao amor divino. A sensação da Presença na solidão e no silêncio.

            14 – Raul Leal – A luxúria, o vertiginismo e a liberdade transcendente. O paracletismo de Deus-Satã.

            15. Fernando Pessoa - “King of Gaps”, não ser nada, imaginação heteronímica e ”ser tudo de todas as maneiras”. Sonho e ilusão. O “terrível” mistério de "haver ser" e o “além-Deus. A teoria de Portugal e a reinterpretação do sebastianismo, do mito do Encoberto e do Quinto Império.

            16. José Marinho – A Teoria do Ser e da Verdade: visão unívoca, contemplação, interrogação.

            17. Agostinho da Silva - "Nada que é tudo", Deus alogos, “tempos de ser Deus” e recriação do simbolismo das Festas do Espírito Santo. A influência de Joaquim de Fiore e a “última revelação”. A meditação e a acção contemplativa como via para o regresso à não-dualidade.

            18. Vergílio Ferreira - Interrogação, “espanto original” e atenção ao indizível que nos vive, que “não é nada” “e é tudo”.

            19. Dalila Pereira da Costa – “Eu era o Outro”: a experiência do êxtase, a subversão do “dentro” e do “fora” e a “força do mundo”.

            20. António Ramos Rosa – A tensão entre “o incêndio das nossas coordenadas” e a reconstrução do “círculo quotidiano”. A palavra, a “liberdade de não ser nada” e o "vazio cintilante".

            21. Maria Gabriela Llansol - A “vida de que não se fala” e subjaz à vida aparente: O "espaço edénico" e a "metanoite". A recriação das figuras de místicos e rebeldes.

 

            Bibliografia sumária (serão indicadas muitas outras obras específicas):

 

            AAVV, História do Pensamento Filosófico Português, direcção de Pedro Calafate, cinco volumes (sete tomos), Lisboa: Editorial Caminho, 1999-2004.

Real, Miguel. O Pensamento Português Contemporâneo 1890-2010: O Labirinto da Razão e a Fome de Deus. Lisboa: INCM, 2011.

            Borges, Paulo. Presença Ausente. A Saudade na Cultura e no Pensamento Portugueses / Nova Teoria da Saudade. Lisboa: Âncora Editora, 2019.

 

 

Métodos de ensino e avaliação:

 

 

O método de ensino insere-se na corrente emergente da educação contemplativa e adapta o modelo da lectio divina - herdado das escolas filosóficas gregas e formulado nas escolas monásticas medievais como uma das raízes das primeiras universidades europeias – ao contexto laico contemporâneo. Estruturado em quatro momentos inseparáveis – lectio, meditatio, oratio e contemplatio - , este método visa recolocar os estudantes no centro do processo educativo, desenvolvendo qualidades de 1) audição e leitura atentas e profundas, 2) interpretação dos múltiplos níveis de sentido dos textos (incluindo o existencial na correlação com as suas vidas) e pensamento crítico a seu respeito, 3) resposta criativa oral e escrita (porventura também artística) e 4) fruição silenciosa dos efeitos deste processo, abrindo-se a uma experiência de sabedoria e de transformação da vida, cumprindo a vocação original da filosofia. Este método visa, mais do que a acumulação quantitativa e meramente intelectual de conhecimentos, a formação e o desenvolvimento integrais dos estudantes, desenvolvendo a sua auto-compreensão mediante a resposta pessoal às matérias estudadas, bem como o seu sentimento de conexão com os outros, o mundo e a vida. Apesar das limitações das aulas virtuais, o método visa desenvolver um sentido de comunidade e de cooperação no processo de descoberta e exploração das questões e possibilidades da condição humana mediante a hermenêutica dos textos escolhidos.

Como introdução e conclusão deste percurso, e considerando também a natureza das matérias leccionadas, as aulas começarão e terminarão com períodos curtos de exercícios meditativos, hoje reconhecidos como notavelmente facilitadores da manutenção e aprofundamento da atenção e do processo educativo.

 

Aconselha-se ler sobre este método, entre outras obras:

 

- Barzebat, Daniel P. e Bush, Mirabai, Contemplative Practices in Higher Education. Powerful Methods to Transform Teaching and Learning. San Francisco: Jossey Bass, 2014.

- Keator, Mary, Lectio Divina as Contemplative Pedagogy. Re-Appropriating Monastic Practice for the Humanities. London/New York: Routledge, 2018.

 

A avaliação será contínua e os alunos serão constantemente convidados a uma participação activa, oral e escrita, na interpretação e comentário dos textos que irão sendo disponibilizados com antecedência. Em termos formais, são obrigatórios dois elementos: 1) um trabalho final sobre um autor, autores ou temas no âmbito do programa, a combinar previamente com o docente mediante um projecto de trabalho a enviar até 18 de Março; 2) um relatório sintético acerca da experiência pessoal do aluno nesta disciplina e da sua relevância ou não para o processo da sua auto-compreensão humana; este elemento de avaliação pode incluir uma dimensão de criação artística (poético-literária, desenho e pintura, musical, etc.). O envio de ambos os elementos de avaliação deve ser feito para o email institucional do docente até 30 de Abril.

 

O primeiro elemento de avaliação terá o limite mínimo de 10 páginas e o

limite máximo de 15 páginas, com tamanho de letra 12 e 1,5 linhas de

espaçamento. A dimensão escrita do segundo elemento tem o limite mínimo de 3 páginas e o limite máximo de 6 páginas, com tamanho de letra 12 e 1,5 linhas de

espaçamento.

 

Os primeiros trabalhos devem incluir: 1) uma introdução onde se justifique a escolha do tema e se apresente o objetivo do trabalho; 2) um capítulo onde se faça o enquadramento histórico-cultural do(s) autor(es) ou tema(s) estudado(s); 3) exposição, interpretação e comentário crítico e criativo dos textos com identificação das citações das fontes originais e dos comentadores em notas de rodapé; 4) uma secção, indispensável e muito importante, onde se proceda a uma reflexão pessoal que mostre a resposta pessoal do estudante à matéria do seu trabalho; 5) uma conclusão, onde se faça uma síntese dos resultados a que a investigação conduziu, em termos objetivos e subjectivos.

 

O horário de atendimento, por marcação prévia, será às 3ªs feiras, das 13:00 às 14:00.