Ciceronianus e/ou Christianus? ‘Onde estiver o teu tesouro, aí está também o teu coração’.
31 Março 2022, 11:00 • Rodrigo Furtado
Educação e novos desafios.
i. A recusa da cultura clássica: não interessam as letras nem a argumentação, mas apenas a fé – de Paulo de Tarso ao sermo piscatorius (Atanásio de Alexandria, Vita Antonii, 1.80).
ii. A educação clássica : o triuium.
iii. As ‘escolas’ cristãs de Alexandria e de Antioquia no século III; o direito dos Cristãos poderem aceder à educação;
‘Quero pedir-te que extraias da filosofia dos Gregos o que pode servir como um plano de estudo ou uma preparação para o cristianismo, e da geometria e astronomia o que servirá para explicar as Sagradas Escrituras, para que o que todos os filhos dos filósofos costumam dizer sobre geometria e música, gramática, retórica e astronomia, como companheiros auxiliares da filosofia, possamos dizer nós, sobre a própria filosofia, em relação ao cristianismo. Talvez algo deste tipo esteja suposto no que está escrito no Êxodo, da boca de Deus: que ele ordenou aos filhos de Israel que pedissem aos seus vizinhos e àqueles que habitavam com eles, vasos de prata e ouro e vestes, de modo a que, ao espoliarem os egípcios, eles pudessem ter material para a preparação das coisas que pertencem ao serviço de Deus’. (Orígenes, Carta a Gregório)
‘Não devemos errar em defender que todas as coisas necessárias e proveitosas para a vida nos vieram de Deus, e que a filosofia foi mais especialmente dada aos Gregos, como uma aliança especial com eles - sendo, como é, um degrau para a filosofia que existe de acordo com Cristo’. (Clemente de Alexandria, Stromata 8)
‘Apresentarei os melhores contributos dos filósofos dos Gregos, porque tudo o que há de bom foi dado aos homens de cima por Deus '”(João Crisóstomo, Capítulos Filosóficos, Prefácio).
2. Tradição literária e novos conteúdos : pseudomorfose cultural.
i. Claudiano : um poeta egípcio em Roma ao serviço de Estilicão. O maravilhoso pagão como adereço.
ii. A oratória clássica ao serviço da religião: João Cristóstomo, aluno de Libânio;
iii. Juvenco e os Euangelii libri ; Proba e o centão de Vergílio In laude Christi; Sedúlio e o Carmen paschale.
iv. Os Saturnalia de Macróbio: ambiente simposiástico que pretende recuperar os modelos clássicos: discussão em torno de Vergílio;
v. As edições de luxo autores antigos:
1. Tito Lívio patrocinada por Símaco e por Nicómaco Flaviano em 401;
2. As edições de luxo de Vergílio: o Virgilius Mediceus (Firenze, Laur. 39.1 + Vaticano, lat. 3225) – a subscrição de Túrcio Rufo Aproniano Astério (f. 76).
3. Os comentários: Sérvio, Tibério e Élio Donato.
3. Cristianismo e religiões não cristãs: o exemplo de Fírmico Materno.
a. O Cristianismo como padrão cultural: ser cristão é ser como o imperador.
b. A argumentação a favor da proibição dos rituais não cristãos. Um combate não apenas contra o politeísmo. Um combate pela racionalidade e a cultura: Basílio de Cesareia, Gregório de Nazianzo.
'Falta pouco para que o mal seja definitivamente proibido e afastado pelas tuas leis e para que o contágio mortal da idolatria do passado possa perecer’ (Firm. err. 20.7).
|
|
- A proibição de construção de novos templos por Constantino. O carácter ambíguo das atitudes imperiais:
i. Edicto de Constante (ou Constâncio II) (341): cesset superstitio, sacrificiorum aboleatur insania (cod. Theod. 16.10.2): a proibição dos rituais da religio.
1. a proibição aos cristãos de participarem nos ritos e sacrifícios cívicos (321 d.C.);
2. A proibição constante dos sacrifícios em Roma ao longo do século IV;
3. Notícias esporádicas de conflito; mas ausência de uma política consequente até à época de Teodósio; mesmo depois, não há uma perseguição massiva;
4. Visita de Constâncio II a Roma (357): respeito pelos templos da cidade: ao ponto de ser ele próprio apresentado por Símaco como modelo para Valentiniano II;
ii. Teodósio e o edicto de 391.
1. A extinção do fogo do Templo de Vesta e a proibição das Vestais. O de uirginitate de Ambrósio de Milão;
2. A proibição da religião familiar;
3. O abandono/destruição dos templos?
iii. Números
Gália: 2,4% templos destruídos;
Norte de África: apenas destruições em Cirene;
Ásia Menor: apenas um exemplo de destruição;
Grécia: apenas um exemplo de destruição (pelos Godos de Alarico);
Itália: apenas um exemplo de destruição;
Britânia: três exemplos de destruição;
Egipto: sete exemplos de destruição;
Síria-Palestina: vinte e um exemplos de destruição
TOTAL: 43 destruições
iv. a negligência: o cada vez menor evergetismo religioso não cristão.
“Imaginei na minha cabeça o tipo de procissão que seria, com um homem a ter visões sonho: animais para sacrifícios, libações, refrões em honra do deus, incenso e os jovens da cidade a rodear o santuário, com as suas almas adornadas com toda a santidade e eles próprios vestidos com vestes brancas e esplêndidas. Mas quando entrei no santuário, não encontrei incenso, nem um bolo, nem um animal para sacrifício. Nesse momento fiquei espantado e pensei que ainda estava fora do santuário e que estavam à espera de um sinal meu, dando-me essa honra por eu ser o sumo pontífice. Mas quando comecei a indagar que sacrifício a cidade pretendia oferecer para celebrar a festa anual em honra do deus, o sacerdote respondeu: 'Trouxe comigo da minha casa um ganso como uma oferenda ao deus, mas a cidade desta vez não fez preparativos.” Juliano, Misopogon (sobre o santuário de Apolo em Dafne, perto de Antioquia).