Entre Alarico e Estilicão: quem são os bárbaros na Antiguidade tardia? Continuidade e/ou ruptura?

7 Fevereiro 2022, 11:00 Rodrigo Furtado

1.     Fenómeno de longo prazo, com raízes anteriores:

a.      Longo convívio proporcionado pelos rios;

b.     Frequentes combates/invasões/migrações (e.g. s. II, s. III, s. IV);

c.      Estabelecimento frequente de populações dentro do Império, que normalmente acabavam integradas com o tempo: sobretudo ao longo das fronteiras do Reno e do Danúbio.

d.     Militarização da fronteira; desmilitarização do Mediterrâneo.

 

2.     Na Antiguidade Tardia, no entanto, há várias coisas que mudam:

a.      The frontier crisis faced by the western empire in 405–408 was the result of an equally large, if not actually much bigger, crisis beyond the frontier itself. Something profound must have been going on beyond Rome’s frontiers to cause all these groups to relocate west of the Carpathians, even before they made their better-documented moves onto Roman soil (P. Heather).

b.     Bárbaros que atravessa o rio: + 50 mil em 376; ca. 100 mil em 406;

c.      Reacção de Roma: diferenciação/não integração/rejeição;

d.     Os conflitos entre as cortes de Constantinopla e Milão-Ravena a partir de 395.

 

3.     Etnogénese (Herwig Wolfram): são os próprios Romanos que impedem inicialmente identificação plena com Roma:

a.      Os “Godos” de 376 e o tratado de 382;

b.     Vândalos e Suevos (final de 406);

 

4.     O exército romano.

a.      Limitanei: comandados por dux/duces; a atribuição de terras de fronteira; a militarização das sociedades de fronteira;

b.     Comitatenses:

a)                     Palatini/praesentales: nas cortes de Constantinopla e Milão-Ravena; comandado pelo magister militum presentalis

b)                     Móveis: nas dioceses ou prefeituras do pretório: comandadas por um magister/magistri militum + nome da região

c.      Números:

a)                     Oriente (ca. 395; Notitia dignitatum): ca. 300 mil soldados (40% cavalaria).

1.     Limitanei: ca. 195 mil.

2.     Comitatenses praesentales: ca. 42 mil.

3.     Comitatenses: ca. 62 mil

4.     Outros: ca. 3500

b)                     Ilíria (ca. 395; Notitia Dignitatum): ca. 65 mil limitanei.

c)                     Ocidente (post 406; Notitia Dignitatum): ca. 150 mil homens

1.     Limitanei: ca. 50 mil.

2.     Comitatenses praesentales: ca. 28 mil.

3.     Comitatenses: ca. 70 mil

4.     Outros: ca. 2500

5.     O problema do Ocidente: falta de números. De acordo com A.H.M. Jones, a proporção seria de 7/5 entre Oriente e Ocidente. Sendo assim, se Oriente teria ca. 300 mil homens, o número de soldados no Ocidente deveria andar nos 220 mil homens. Isso dá um total de ca. 570 mil soldados.

 

5.     A barbarização do exército?

a.      As tropas auxiliares/mercenários: peregrinos ou bárbaros (voluntários; através de tratados - foederati); o que é um mercenário?        

b.     A prática desde o s. I a.C.: César, Augusto, Tibério, Marco Aurélio.

c.      O aumento do número de mercenários na Antiguidade tardia.

d.     A importância dos líderes militares de origem “não romana”. Exemplos de bárbaros que foram integrados; quase todos 2.ª/3.ª geração.

a)                     306: o Alamano Croco e o auxílio a Constantino;

b)                     Mallobaudes: comes domesticorum de Graciano (375-383); franco.

c)                     Bautão: magister militum de Valentiniano II (383-392); cônsul (385); pai da imperatriz Eudóxia (mulher de Arcádio); franco.

d)                     Estilicão (Vândalo); comes; magister utriusque militiae (393); cônsul (400, 405); casou com Serena, sobrinha de Teodósio; as filhas, Maria e Termância, casaram com Honório.

e)                     Constâncio III (Dácio): magister militum (411); cônsul (414, 417, 420); casou com Gala Placídia (417); co-imperador (421).

f)                      Écio (Cita); Ricimero (Suevo); Aspar (Alano); Gundobaldo (Burgúndio); Zenão (Isáurio); Odoacro (Esciro); Teodorico (Ostrogodo).

e.      A relação de mercenários com usurpadores: 306 (Constantino); 365 (Procópio); 409 (Átalo); 411 (Jovino);

 

6.     A fraqueza do trono imperial: enfraquecimento do trono imperial era congénito da própria existência do Império:

- Nove usurpações no século IV (depois de Constantino): ‘the true “killing fields” of the fourth century were not along the frontiers. They were in northern Italy and the Balkans, where sanguinary battles were regularly fought between rival emperors’ (Brent Shaw).

- Século V: usurpações e ‘invasões’ quase sempre relacionadas (entre 406-414, houve oito ‘usurpadores’/’Augustos’ no Ocidente): usurpadores que se auto-proclamam devido à instabilidade militar (tal como no século III); usurpadores que usam forças bárbaras; forças bárbaras que aproveitam a fraqueza causada pelas usurpações.

7. O esmagamento militar de 406-409: porquê? O número dos Vândalos e Suevos: ca. 100 mil pessoas; 20 mil guerreiros.

8. A desmilitarização do Mediterrâneo: que consequências teve isso para o avanço dos bárbaros?