Orósio: contra os pagãos e a felicidade dos Christiana Tempora. A revolução do tempo: Deus e a história.

7 Abril 2022, 11:00 Rodrigo Furtado

1.     O tempo histórico.

1.1   Visões clássicas do tempo:

1.1.1        O pessimismo histórico hesiódico;

1.1.2        O tempo cíclico: tempo histórico e tempo natural;

1.1.3        As intervenções dos deuses e a ausência de plano;

1.2   A (re)fundação cristã:

1.2.1        O nascimento de Cristo;

1.2.2        A Parúsia;

1.2.3        O Antigo Testamento e a Criação do Mundo.

1.3   A coincidência Cristo/Augusto: Pax Romana=Cristianização. Os Christiana Tempora. A felicidade do presente.

1.3.1        A Crónica de Eusébio de Cesareia: o Império Cristão universal: congregaria dois pólos que, ab initio, haviam caracterizado a história: o monoteísmo divino e a monarquia imperial.

1.3.2        O providencialismo divino: Deus está fora do tempo mas age no tempo – a existência de um plano;

1.3.2.1    passado é lugar privilegiado para a manifestação da divindade e para a concretização do seu plano para um determinado povo, ou para toda a humanidade;

1.3.2.2    a história transforma-se na narrativa da intervenção da divindade junto do homem, com vista à concretização do projecto salvífico de Deus: a verdade dos factos narrados é aferida pela conformidade com aquela que se julga ser a vontade divina e a sua actuação na história.

2.     O saque de Roma de 24 de Agosto de 410.

a.      O círculo pagão de Volusiano e a crítica à Encarnação; a cessação dos ritos e da adivinhação; as consequências do Cristianismo.

b.     Orbis terrarum ruit;

Chega-me um terrível rumor do Ocidente: Roma foi cercado, a vida dos cidadãos resgatada com ouro e de novo os espoliados foram cercados, de tal modo que, depois dos seus bens, também perderam a vida. Embarga-se a vos e os soluços entrecortam as palavras quando dito esta carta. Foi tomada a Cidade que tomou todo o orbe; morre com fome antes de morrer pela espada; e dificilmente se encontram uns poucos para serem capturados: Ó vergonha, o círculo da terra desmorona, mas os nossos pecados não desaparecem. A ínclita Cidade e cabeça do poder romano foi consumida por um único incêndio. Não há região que não tenha refugiados vindos de lá. Em cinzas e em brasas caíram igrejas outrora sagradas. E, ainda assim, teimamos na avareza. (Hier. ep. 128.5).

c.      A primeira resposta de Agostinho: O De excídio urbis Romae.

O que havemos de dizer, irmãos? Tremenda e veemente questão nos é aqui lançada, sobretudo por homens que, sem piedade alguma, assaltam as nossas escrituras (não decerto por aqueles que piamente as perscrutam) e que dizem, sobretudo acerca da recente destruição de tão grande cidade: «Não haveria em Roma cinquenta justos? Em tão grande número de fiéis, de pessoas consagradas, de tantos que vivem em continência, em tão grande número de servos e servas de Deus, não foi possível encontrar cinquenta justos, nem quarenta, nem trinta, nem vinte, nem dez? Se isto é pouco provável, por que razão Deus por cinquenta ou mesmo por dez [justos] não poupou a cidade?» (…) Então, eu apresso-me a responder: «Ou encontrou aí alguns justos e poupou a cidade ou, se não poupou a cidade, é porque não encontrou nenhum justo.» Dir-me-ão que é evidente que Deus não poupou a cidade. Eu porém respondo: «Para mim, não é de modo nenhum evidente.» A devastação da cidade que então aconteceu não foi como a de Sodoma. Quando Abraão interrogou Deus, a pergunta era acerca de Sodoma. E Deus, então, disse: «Não destruirei a cidade»; não disse: «Não castigarei a cidade». Deus não poupou Sodoma, destruiu Sodoma, consumiu-a completamente nas chamas. Não lhe adiou o Juízo, mas exerceu sobre ela o que tem guardado para os outros perversos no dia do Juízo. De Sodoma não restou absolutamente nada (…) Da cidade de Roma, porém, muitos fugiram e hão-de voltar, muitos ficaram e salvaram-se, muitos, nos lugares sagrados, não foram atingidos! «Mas – dir-me-ão – muitos foram levados como cativos». Também Daniel, não para seu castigo mas para consolação dos outros. «Mas muitos – dirão ainda – foram mortos.» Também muitos justos profetas desde o sangue do justo Abel até ao de Zacarias. Também os apóstolos, e o próprio senhor dos profetas e dos apóstolos, Jesus. «Mas muitos – dirão – foram atormentados por toda a sorte de aflições.» Imaginamos porventura que o foram tanto quanto o próprio Job? (2.2; trad. C. Urbano)

 

3.     As Histórias de Orósio

1.      A estrutura:

a.      Uma história de tese: as misérias pagãs vs. os tempos cristãos;

b.      7 livros = 7 dias da criação = 7 épocas/idades da história;

c.      Sete livros – sete dias; os debates em torno da duração do mundo e a mutação orosiana.

d.     Umas histórias optimistas: desde as gentium miseriae até à felicidade do presente – a mutação orosiana;

e.      Reafirmar o eusebianismo político: como provar o improvável – a teimosia orosiana.

 

  1. As características de Orósio: 

a.      A história providencialista e conduzida por Deus: a inteligibilidade da história;

b.      A recusa da Roma republicana;

c.      A recusa de uma história que se projecta plenamente para lá da morte.

 

  1. Textos
    1. Or. 2.19.10-15;
    2. Or. 6.22.5-8;
    3. Or. 7.35.1-23;
    4. Or. 7.39.1-18.