Antão e Pacómio: anacoretismo e monaquismo. A revolução religiosa: Deus e a sociedade.

12 Abril 2018, 14:00 Rodrigo Furtado

  1. A filosofia pagã dos séculos I-IV d.C.: filosofia e modo de vida. De novo, em torno da origem do mal e da procura da felicidade.
    1. Pitagóricos: ter tudo em comum; os symbola (ensinamentos); ascetismo e fuga ao mundo;
    2. Estóicos: a busca da ataraxia e a eventual fuga ao mundo;
    3. Neo-platónicos: a contemplação do Uno e a fuga ao mundo distractivo;
    4. Ascetismo (ἄσκησις: treino, exercício do gymnasium); penitência; mortificação; purificação; contemplação;
    5. A fuga à cidade; a fuga à política; a fuga ao artifício; a fuga a (uma certa) cultura; a fuga ao mundo material; a fuga aos daimones e aos desejos;

f.       A procura da tranquilidade; a procura da divindade; o eremitismo (ἐρημίτης: o que vive no deserto)/anacoretismo (ἀνακορέω: retirar-se) pagãos.

 

2.     Antão (ca. 251-356).

a.      Atanásio de Alexandria, Vita Antonii (trad. para latim duas vezes logo no séc. IV): modelo da hagiografia;

b.     a fuga à cidade e à cultura; o deserto como lugar da experiência de Deus, porque fora da cidade;

c.      o controlo de si tão caro aos filósofos: o deserto como o lugar da luta contra as tentações; o controlo do corpo e das paixões: a ἀπάθεια (ausência de sofrimento);

d.     a atracção: os seguidores do deserto – discipulado, peregrinações e aldeamentos.

 

3.     O anacoretismo.

a.      A expansão do modelo de Antão e as comunidades de anacoretas (oração comum);

b.     Evágrio Pôntico († 399): discípulo de Gregório de Nazianzo, vive em Constantinopla; o caso de Melânia-a-Antiga.

c.      Os estilitas;

d.     A rápida expansão do modelo pelo Oriente.

 

4.     Pacómio (†348) e o Κοινòς βίος: o nascimento do cenobitismo.

a.      Próximo de Antão;

b.     A comunidade de Tabenisi (323): regra de 194 artigos; os muros;

c.      Quando morre: 9 conventos masculinos e 2 femininos. Uma autêntica “congressão” com um superior do qual todos dependem; mosteiros com mais de mil monges.

d.     Auto-suficiência económica.  

 

5.     Basílio de Cesareia (330-379)

a.      Aristocrata muito culto; converte-se em 357; viaja até ao Egipto; funda mosteiro no Ponto antes de se tornar bispo;

b.     Regra de enorme influência: menor importância do anacoretismo; vida comunitária; a hierarquização da vida comunitária;

 

6.     Jerónimo e o ascetismo em Roma e na Palestina. As traduções da regra de Pacómio (Jerónimo) e de Basílio (Rufino de Aquileia).

 

7.     O monaquismo episcopal e os precedentes das comunidades de canónigos regulares.

a.      Martinho de Tours;

b.     Ambrósio de Milão;

c.      Agostinho de Hipona;

d.     Paulino de Nola;

e.      Isidoro de Sevilha;

f.       Comunidades litúrgicas; de oração; de estudo. As escolas episcopais.

 

  1. Tradição, enciclopedismo, imobilismo e cópia dos escritos ‘clássicos’ no espaço monásico ocidental: a Regra de São Bento e os primeiros scriptoria monásticos; o Vivarium de Cassiodoro.

 

Regra de São Bento 48: ‘A ociosidade é inimiga da alma. Por isso, devem os irmãos dedicar-se ao trabalho manual e também, durante um determinado número de horas, à leitura divina. Por este motivo, cremos que cada uma destas ocupações será ordenada no tempo, segundo a seguinte disposição: da Páscoa até às Calendas de Outubro [...], desde a hora quarta até à hora em que celebrarão a sexta, estejam livres para a leitura [...]. Desde as Calendas de Outubro até ao início da Quaresma, estejam livres para a leitura até ao fim da segunda hora [...]. Nos dias da Quaresma, desde manhã até ao fim da hora terceira, estejam livres para as suas leituras [...]. Nesses dias da Quaresma, recebam todos, da biblioteca, um único códice que lerão integralmente, de forma continuada. Esses códices devem ser dados no início da Quaresma. Antes de tudo isto, sejam escolhidos um ou dois dos mais velhos para que circulem pelo mosteiro nas horas em que os irmãos estão livres para a leitura e para que vigiem a fim de que não se encontre por acaso um irmão indolente que se dedique ao ócio ou à conversa, que não esteja atento à leitura e que não só seja inútil para si, como também distraia os outros. [...] Do mesmo modo, no Domingo, estejam todos livres para a leitura, excepto os que foram escolhidos para ofícios diferentes.