O fim do mundo: histórias de destruição e sobrevivência. A queda de Roma: a resposta ideológica ao saque de Roma. Como explicar o inexplicável?

16 Abril 2018, 14:00 Rodrigo Furtado

1.    André Piganiol, L’empire chrétien, Paris, 1947: ‘La civilisation romaine n'est pas morte de sa belle mort. elle a été assassinée ».

 

  1. A travessia do Danúbio de 376.

2.1   Sobre os Hunos: de onde vêm e por que razão se movimentam? Os Romanos não sabiam. Processo lento: não chegaram em massa nem de repente. 

2.2   Godos: GreuthungiTervingi; grupos que se ‘desligam’ dos seus reges; dois grupos são autorizados a atravessar o Danúbio (os Tervingi), outros não; com vários líderes (mas outros permanecem a norte do rio; e outros vão atravessando o rio ao longo do séc. V): Alavivo, Fritigerno, Alateu, Safrac, Vitimero, Atanarico, Eriulfo, Fravita. O que significa rex? Total ausência de unidade política. É possível que só a tenham adquirido enre 376-8.

2.3   A guerra contra os Persas na Arménia e a incapacidade de suster uma travessia descontrolada: opção? Controlar a travessia e fazê-los esperar até ao fim da guerra arménia. Tentativa de fazer o que sempre se tinha feito: desmantelar o grupo, separá-lo e absorvê-lo. Falha.

2.4   Adrianópolis: 9 de Agosto de 378.

 

3.     Teodósio e o estabelecimento na Ilíria. A liderança de Alarico.

3.1  O acordo de 382: terras para se estabelecerem em troco de apoio militar;

3.2  A unidade goda: as fontes deixam de falar de divisões de Godos dentro do Império: etnogénese;

3.3  Por motivos difíceis de determinar os Godos estão em protesto desde 395, com pilhagens e sa  ques pelos Blacãs até à Grécia: Alarico pede o reconhecimento da sua liderança; um pagamento em ouro;

3.4  Alarico: magíster militum per Illyricum em 398;

3.5   Perante a agressividade oriental (retiram-lhe o cargo em 400) e a recusa de negociações: incursão em Itália – 401;

3.6  A incapacidade ocidental: os Godos de Radageso/Radagaiso (405-6); as migrações do Natal de 406; a usurpação de Constantino III (407-11); o assassínio de Estilicão (408);

 

4.    O saque:

4.1  A reentrada em Itália em 408 e as novas exigências: um comitatus; tributo em ouro; terras na Récia e Venécia; depois no Nórico;

4.2  A recusa de negociação, apesar de Roma;

4.3  A chantagem: primeiro cerco (ainda em 408): Inocêncio permite rituais pagãos privados mas proíbe os públicos; resgate: 2 toneladas de ouro; 13,5 toneladas de prata; 4000 túnicas de seda; 1,3 toneladas de pimenta + todos os escravos germânicos;

4.4  O segundo cerco: fim de 409; conjugado com um usurpador em Itália apoiado pelos Godos: Átalo;

4.5  O terceiro cerco e o saque: incêndio do fórum; preservação das basílicas de Pedro e Paulo; o saque de três dias; o ‘rapto’ de Gala Placídia;

5.    O sermão sobre o saque de Roma: a visão de Agostinnho.

5.1  O Problema: por que Deus permitiu o saque, depois da  expansão do cristianismo? 

5.2  O Ataque: Roma cai porque abandonou os seus deuses;

5.3  Jerónimo: orbis terrarum ruit.

6.    Excertos:

Mas talvez Roma não tenha caído, talvez tenha sido castigada em vez de aniquilada, talvez emendada em vez de destruída. Pois Roma não morre, se os romanos não morrerem. E na verdade não morrerão, se louvarem a Deus. Morrerão, sim, se o blasfemarem. Pois que é Roma senão os Romanos? (Aug. serm. 81.9).

Todos os reinos da terra terão um fim. Se chegou agora o fim, Deus é que sabe. Talvez não seja ainda e, por uma certa fraqueza, por compaixão ou por miséria, desejamos que não venha já.Talvez este não seja agora o fim da cidade, mas ele virá um dia, seguramente. (Aug. serm. 81.9).

Não haveria em Roma cinquenta justos? Em tão grande número de fiéis, de pessoas consagradas, de tantos que vivem em continência, em tão grande número de servos e servas de Deus, não foi possível encontrar cinquenta justos, nem quarenta, nem trinta, nem vinte, nem dez? Se tal hipótese é inverosímil, por que razão Deus por cinquenta ou mesmo por dez [justos] não poupou a cidade? (...)Dir- me-ão que é evidente que Deus não poupou a cidade. Eu porém respondo: “Para mim, não é de modo nenhum evidente”. A devastação da cidade que então aconteceu não foi como a de Sodoma.Quando Abraão interrogou Deus, a pergunta era acerca de Sodoma. E Deus, então, disse: “Não deitarei a perder a cidade”; não disse: “Não castigarei a cidade”. Deus não poupou Sodoma, destruiu Sodoma, consumiu-a completamente nas chamas. Não lhe adiou o Juízo, mas exerceu sobre ela o que tem guardado para os outros perversos no dia do Juízo. De Sodoma não restou absolutamente nada. Não ficou um só animal do rebanho, um só homem, uma só casa. Tudo o fogo consumiu por inteiro. Eis de que modo Deus destruiu a cidade. Da cidade de Roma, porém, quantos fugirame hão-de voltar, quantos ficaram e se salvaram, quantos, nos lugares sagrados, não foram atingidos!“Mas — dir-me-ão — muitos foram levados como cativos”. Também Daniel, não para seu castigo mas para consolação dos outros. “Mas muitos — dirão ainda — foram mortos.” Também muitos justos profetas desde o sangue do justo Abel até ao de Zacarias.E também os apóstolos, e o próprio senhor dos profetas e dos apóstolos, Jesus.

Assim, não há qualquer dúvida de que Deus poupou a cidade de Roma, que, antes do terrível incêndio, em muitos lugares, já tinha partido em grande número. Tinham partido os que haviam fugido e tinham partido os que, mais depressa ainda, haviam deixado o corpo. Muitos dos que caram esconderam-se conforme puderam, muitos deles nos lugares sagrados, e conservaram-se sãos e salvos. 

Pela mão de Deus que corrige, então, a cidade foi mais castigada do que destruída, como o servo que, mesmo conhecendo a vontade do seu senhor, faz coisas dignas de castigo e recebe muitos açoites.Oxalá isto sirva de exemplo a temer e que o mundo, sedento de perversas concupiscências, ávido de desfrutar perniciosas volúpias, mostrando o Senhor quão instáveis e efémeras são todas as vaidades do século e loucas as suas mentiras, antes se modere que murmure contra o Senhor perante os merecidos flagelos.

7.     A cidade de Deus e a cidade do Homem: duas comunidades não necessariamente materializadas em termos institucionais (e.g. a pertença à Igreja não é condição de salvação; o papel do império na cidade de Deus).

8.     A negação da escatologia: o sentido da história para lá da morte: a resposta a 410.