As estratégias industriais da UFA e o cinema escapista do Nazismo

8 Março 2016, 14:00 Mário Jorge Torres Silva

A evolução de UFA, depois da ascensão de Hitler ao poder: a maior independência da indústria cinematográfica alemã, em relação ao controlo exercido pelo Ministério da Propaganda sobre o teatro, o que poderá explicar a decisão de Detlev Sierck, com uma longa e importante carreira nos palcos, encenando os grandes clássicos, de Sófocles a Schiller, passando por Shakespeare ou Büchner, e os modernos (Ibsen, Brecht, Strindberg, Tchechov ou George Bernard Shaw), de passar a realizar filmes, de adaptações Ibsen ou Lagerlöf, a melodramas de aparente menor densidade dramática.

Início do visionamento comentado de Zu Neuen Ufern (Detlev Sierck, 1937): uma Inglaterra falsa e uma história de exílio e deportação para uma Austrália reconstruída nos estúdios de Berlim; o modo de evitar o encaixar-se num sentimento anti-britânico primário, pelo uso artificioso de uma estrutura do teatro épico, inspirado directamente no marxista Bertolt Brecht, cuja Ópera dos Três Vinténs Sierck encenara; a relação complexa com o cabaret alemão e a utilização das canções como Leit Motiv e factor de distanciamento em simultâneo; a sueca Zarah Leander e o estrelato - o preenchimento do vazio deixado pela emigração de Marlene Dietrich, cruzando-o com vestígios fotogénicos e de emissão de voz da outra grande diva sueca, Greta Garbo; a lado autossacrificial da narrativa e as hipóteses (controversas embora) de fazer corresponder o melodrama às normas morais, instauradas pelo regime hitleriano ou seja modos tortuosos de veicular propaganda indirecta, através de inocentes veículos de puro escapismo sentimental.