"Black Narcissus" (Michael Powell, Emeric Pressburger, 1947): o erotismo interiorizado e o exotismo de estúdio

19 Abril 2016, 14:00 Mário Jorge Torres Silva

Conclusão do visionamento comentado de Black Narcissus (Michael Powell, Emeric Pressburger, 1947): o lado místico do romance de Rumer Godden e o contraste estabelecido pelo filme com uma visão progressivamente erótica das freiras sujeitas à exposição de uma natureza agressiva e envolvente; os flashbacks gerando zonas de desconforto nas personagens femininas; o despertar da sexualidade na juventude e a tentação do masculino, corporizada por um lado pelo jovem general ( o quase assexuado Sabu) e, por outro, por Mr. Dean (David Farrar) um livre pensador numa colónia longínqua e exótica; o melodrama e a vibração dos sentidos - a vista marcada pela paisagem e pelos frescos eróticos nas paredes, o ouvido, castigado pela inclemência do vento que sopra das montanhas, ou o olfacto de perfumes misteriosos, como o "narciso negro" do título; o preciosismo da encenação das fantasias das freiras, culminando na revolta letal da diabólica irmã Ruth; a Irlanda católica e a Índia das castas; o epílogo aparentemente apaziguador, levando ao abandono do território de antigas crenças, restituído às suas funções ancestrais de equilíbrio com as forças da natureza.