O neo-realismo e o melodrama

21 Abril 2016, 14:00 Mário Jorge Torres Silva

O advento do Neo-Realismo, fruto das condições adversas de produção criadas pela Guerra: coordenadas estilísticas como o som em directo ou a filmagem com iluminação do dia nas ruas, enquanto resultado da deficiência de material e da destruição parcial dos estúdios da Cinecittà; a utilização de não-actores, na procura de novos rostos e de novos olhares; a centralidade documental dos primeiros grandes filmes associados com o movimento - Roma, Città Aperta (Roberto Rossellini, 1945) ou Paisà (Rossellini, 1946).

Início do visionamento comentado de Anna (Alberto Lattuada, 1951): a importância progressiva do melodrama na definição das relações do neo-realismo com as condições económicas complicadas do pós-guerra; o enorme sucesso popular do melodrama Catene (Raffaello Mattarazzo, 1949), levando a que outros cineastas considerassem a hipótese de abordar o género, integrando-o no esforço estético neo-realista; Alberto Lattuada, cineasta conotado com fortes manifestos do movimento, como Il Bandito (1946) e Senza Pietà (1948), repega no trio de intérpretes de sucesso do influente Riso Amaro (1950) do marxista Giuseppe de Santis, Silvana Mangano, Raf Vallone e Vittorio Gassman, para protagonizar uma história de freiras e de cabaret, em que a primeira parte se conformava ao realismo da vida de um hospital filmado em locais naturais, e a segunda, baseada em estilizados flashbacks se aproximava das regras do melodrama.