A Peste Negra e os momentos posteriores

18 Fevereiro 2020, 10:00 João dos Santos Ramalho Cosme

Os sinais de desacelaração e até mesmo de crise populacional nos primeiros anos do século XIV (antes da Peste Negra).   Uma das situações teve a ver com o crescimento muito acentuado (sobrepopulação) no século XIII, face aos recursos disponíveis. Chega-se pois a um momento de incapacidade para dar resposta às necessidades da população, principalmente quando também surgem ocorrências conjunturais, tais como as climáticas. Assim, a escassez de bens alimentares face às necessidades das populações provoca uma crise: fome entre 1315/17. Existem, pois, 2 anos sequenciais de falta de alimentos. A guerra dos 100 anos, entre 1337 e 1453, coloca não só os franceses e os ingleses em conflito mas também toda a Europa ocidental, além de outros conflitos internos. Para fazer a guerra era preciso dinheiro, dai a carga fiscal praticada à população. Alguns autores apontam como a causa para a crise populacional este aumento fiscal. Também é a partir desta altura que começa a existir documentação a elencar os contribuintes de modo a que nenhum fuja aos impostos. A cristandade latina teria cerca de 60 milhões de almas, por volta de 1300. Assim, seria uma população superior à do Império Romano, ocupando apenas uma área de cerca de 40% desse território. Para compreender o que sucedeu na Cristandade Latina na viragem do Mundo Cheio, temos de nos colocar muito tempo antes e logo remontar até à fonte da modificação. Tudo assenta numa modificação do sistema de matrimónio. O sistema de matrimónio europeu é único, sem precedente e sem corolário. No exterior pode caracterizar-se por duas características: existência de um celibato definitivo feminino e sobretudo pela atraso da idade de matrimónio das mulheres, com uma rigorosa abstenção das relações sexuais fora do matrimónio. O uso do celibato definitivo feminino (que é o recurso de um número ínfimo em todas as civilizações) foi estreitamente confinado. Em alguns círculos limitados, aristocracia média e alta burguesia, pode alcançar 30 a 35% da população feminina nos séculos XVII e XVIII