2022/2023 – 2º SEMESTRE

Responsável pela unidade curricular: Luís U. Afonso
Docente:  Rosário Salema de Carvalho
maria.carvalho1@campus.ul.pt


OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

.  Saber utilizar os principais instrumentos de trabalho dos estudos iconográficos.
. Conhecer a história e o desenvolvimento da iconografia e da iconologia,
  sobretudo ao nível do pensamento teórico de Aby Warburg e Erwin Panofsky.
. Identificar e analisar os temas e as figuras mais comuns na arte europeia produzida entre a Antiguidade Tardia e o Barroco, nomeadamente ao nível da arte cristã.


DESCRIÇÃO SUMÁRIA
O programa desta unidade curricular divide-se entre uma componente teórica e outra prática. A história e o desenvolvimento da iconografia e da iconologia, sobretudo ao nível do pensamento teórico de Aby Warburg (1866-1929) e Erwin Panofsky (1892-1968) constituem a primeira parte do programa.

Considerando que, desde a Antiguidade Tardia até ao final da Idade Moderna, o Cristianismo dominou a cultura europeia e que as mais importantes produções artísticas representam temas religiosos, a iconografia cristã é o tema preponderante da segunda parte desta unidade curricular, oferecendo aos alunos os instrumentos necessários para a sua correta compreensão.

Assim, e depois de saberem utilizar os principais instrumentos de trabalho dos estudos iconográficos, os alunos são convidados a participar ativamente na identificação e análise dos temas e figuras mais comuns da arte europeia. Para além da iconografia cristã, serão ainda abordados alguns temas da mitologia greco-romana, particularmente representados durante a Idade Moderna, procurando identificar pontos de contato entre estas duas grandes tradições imagéticas.


PROGRAMA

ICONOGRAFIA E ICONOLOGIA. TEORIA


AULA 1 | 2023.01.23 | Apresentação
 
AULA 2 | 2023.01.25 | Iconografia e Iconologia: história
História e evolução dos conceitos
 
AULA 3 | 2023.01.30 | Aby Warburg (1866-1929): vida, conceitos e doutoramento
A dissertação sobre a Primavera e o Nascimento de Vénus de Boticelli. A ninfa enquanto tema iconográfico. O conceito de “sobrevivência” ou “vida póstuma” das imagens da Antiguidade (Nachleben der Antike). O conceito de Pathosformeln, ou fórmulas de pathos, i.e., “fórmulas emotivas” (paixão, sentimento excessivo), poder expressivo que certas fórmulas ou modelos figurativos tradicionais têm para exprimir sentimentos humanos básicos. O conceito de engrama e a sua relação com as fórmulas de pathos. A iconologia e a psicologia histórica das expressões humanas.
 
AULA 4 | 2023.02.01 | Aby Warburg: Palazzo Schifanoia | Atlas Mnemosyne
A conferência sobre os frescos do Palazzo Schifanoia, a astrologia e a reinvenção da iconologia: leitura comentada de excertos deste estudo. A apologia da análise integrada das imagens numa perspetiva diacrónica e interdisciplinar (política, cultura, ciência, magia, literatura). A viagem à América e a experiência etnográfica entre os índios Pueblo. O ensaio sobre o ritual da serpente de 1923 e a interação entre o primitivo e o moderno. O atlas Mnemosyne (1926-29), último projeto de Warburg. Os objetivos e as caraterísticas deste laboratório de imagens: arquivo visual das Pathosformeln; análise do processo histórico da criação artística do Renascimento na sua articulação com a Antiguidade (Nachleben der Antike) e com o binómio apolíneo-dionisíaco; a migração e a circulação das imagens (no tempo e no espaço).

AULA 5 | 2023.02.06 | Aby Warburg: o Atlas Mnemosyne e a História da Arte Digital
As metodologias e conceitos de Aby Warburg na atualidade: releituras do Atlas através de ferramentas computacionais, com particular destaque para o trabalho desenvolvido por Franco Moretti e Leonardo Impett desde 2017.  
 
AULA 6 | 2023.02.08 | Erwin Panofsky (1892-1968): método iconográfico
Os níveis de significado das obras de arte segundo Panofsky. O significado primário ou natural (nível pré-iconográfico). Identificação básica (factual) de formas e figuras (seres humanos, animais, etc.) e de atitudes expressionais (triste, contente, etc.). O significado secundário ou convencional (nível iconográfico). Identificação de temas, histórias e alegorias. O significado intrínseco ou simbólico (nível iconológico). Interpretação do sentido de uma imagem enquanto manifestação visual (consciente ou inconsciente) dos princípios fundamentais de uma cultura, época ou filosofia. Estudo de caso: a Alegoria da Prudência de Ticiano como exemplo da aplicação do método iconológico por E. Panofsky.

AULA 7 | 2023.02.13 | Erwin Panofsky (1892-1968): método iconográfico e estudos de caso

AULA 8 | 2023.02.15 | Ernst Gombrich (1909-2001) | Críticas.
A proposta de Roelof van Straten. A crítica da iconologia por Ernst Gombrich (1909-2001). Novas perspetivas sobre o tema.

AULA 9 | 2023.02.22 | Instrumentos de estudo I
Dicionários e manuais de iconografia profana e cristã. As principais referências. Fontes literárias cristãs. Os textos sagrados, os apócrifos e a literatura hagiográfica. Das passiones e das vitae às Acta Sanctorum dos bolandistas. A difusão da Legenda Dourada [Legenda aurea] de Tiago de Varazze [Jacobus de Voragine] (1260).
 
AULA 10 | 2023.02.27 | Instrumentos de estudo II
Arquivos de imagens, índices iconográficos, bibliotecas especializadas e internet. O sistema Iconclass.
 
AULA 11 | 2023.03.01 | TESTE*


ICONOGRAFIA E ICONOLOGIA. PRÁTICA

AULA 12 | 2023.03.06 | Mitologia | Alegorias
Temas: o rapto de Europa, o Julgamento de Páris, alegorias diversas, os 5 sentidos, as virtudes teologais e cardeais, as virtudes e os vícios.

AULA 13 | 2023.03.08 | Quem é quem na iconografia cristã
A Santíssima Trindade, Deus Pai, Deus Filho, Espírito Santo, os anjos, o diabo e os evangelistas.

AULA 14 | 2023.03.13 | Iconografia da Criação e História da Salvação
Os relatos sacerdotal e javista do livro do Génesis. A Criação, o Pecado Original e a História da Salvação. Antigo Testamento: O Dilúvio, Abraão, Isaac e Jacob, a história de José, Moisés.

AULA 15 | 2023.03.15 | Iconografia de Cristo e da Virgem
Árvore de Jessé. Ciclo da vida da Virgem: Encontro na Porta Dourada; Natividade da Virgem; Apresentação da Virgem no Templo; Esponsórios; Anunciação; Visitação.
 
AULA 16 | 2023.03.20 | Iconografia de Cristo | infância
Natividade; Adoração dos Pastores; Epifania; A matança dos Inocentes; Fuga para o Egito; Apresentação no Templo; Jesus no meio dos Doutores.

AULA 17 | 2023.03.22 | Iconografia de Cristo | vida pública
Batismo; As Tentações no Deserto; Vocação dos Apóstolos; Sermões; Parábolas; Milagres; Cristo na Casa de Marta e Madalena; Bodas de Caná; Ressurreição de Lázaro.

AULA 18 | 2023.03.27 | Iconografia de Cristo | Paixão
Entrada em Jerusalém, Expulsão dos Vendilhões do Templo, Lava-pés; Última Ceia; Oração no Horto; Traição de Judas; Cristo diante de Pilatos; Flagelação de Cristo; Escarnação de Cristo; Ecce Homo; Caminho do Calvário; Crucificação; Descimento da Cruz; Pietá; Deposição no Túmulo.

AULA 19 | 2023.03.29 | Iconografia de Cristo | Glória
Descida aos Infernos/Anástasis; Ressurreição; Caminho de Emaús; Ceia em Emaús; Ascensão.
 
AULA 20 | 2023.04.10 | Iconografia de Maria
Ciclo da vida da Virgem: Dormição; Assunção; Coroação.
Representações não narrativas: prefigurações, atributos, invocações.

AULA 21 | 2023.04.12 | Santos
Os atributos e narrativas dos santos e santas.
 
AULA 22 | 2023.04.17 | Maratona de iconografia*

AULA 23 | 2023.04.19 | Maratona de iconografia*
 
AULA 24 | 2023.04.24 | Maratona de iconografia*

AULA 25 | 2023.04.26 | Maratona de iconografia*
 
AULA 26 | 2023.05.03 | TESTE*


* As datas dos elementos de avaliação são confirmadas com os alunos no decorrer da primeira aula, razão pela qual podem vir a ser objeto de alterações.


BIBLIOGRAFIA
PARTE 1. TEORIA

Adams, Laurie Schneider. 2018. The Methodologies of Art: An Introduction. New York: Routledge.

Bolvig, Axel; Lindley, Phillip (eds.). 2003. History and Images: Towards a New Iconology. Turnhout: Brepols.

Cestelli Guidi, Benedetta e Nicholas Mann (eds.). 1998. Photographs at the Frontier. Aby Warburg in America, 1895-1896. Londres: Merrel Holberton e The Warburg Institute.

D’Alleva, Anne. 2005. Methods and Theories of Art History. London: Laurence King Publishing.

Didi-Huberman, Georges. 1999. Ouvrir Vénus. Nudité, rêve, cruauté. Paris : Gallimard.

______. 2002. L’image survivante. Histoire de l'art et temps des fantômes selon Aby Warburg. Paris : Éditions de Minuit.

______. 2013. Atlas ou a Gaia Ciência Inquieta. Lisboa: KKYM+EAUM (1ª ed. Paris, 2011).

______. 2015. Ninfa fluida: essai sur le drapé-désir. Paris : Gallimard.

______. 2016. Ninfa moderna. Ensaio sobre o panejamento caído. Lisboa: KKYM (1ª ed. Paris, 2002).

______. 2017. Ninfa profunda: essai sur le drapé-tourment. Paris : Gallimard.

GOMBRICH, Ernst H.. 1972. Symbolic Images. Studies in the art of the Renaissance. Londres: Phaidon.

______. 1994. The Image & the Eye. Further studies in the psychology of pictorial representation. Londres: Phaidon (1ª ed. 1982).

______. 1995. Art & Illusion. A study in the psychology of pictorial representation. Londres: Phaidon (1ª ed. 1959).

______. 2003. Aby Warburg. Una biografia intellettuale. Milão : Feltrinelli (1ª ed. Londres, 1970).

Guerreiro, António. 2018. O Demónio das Imagens. Sobre Aby Warburg. s. l.: Língua Morta.

Holly, Michael Ann. 1987. Panofsky and the Foundations of Art History. Ithaca: Cornell (1ª ed. 1984).

Klibansky, R., E. Panofsky, F. Saxl. 2006. Saturno y la Melancolía. Estudios de historia de la filosofía de la naturaleza, la religión y el arte. Madrid: Alianza (1ª ed. Nova Iorque, 1964).

Panofsky, Erwin. 1989. O Significado nas Artes Visuais. Lisboa: Presença (1ª ed. Meaning in the Visual Arts, 1955).

______, 1995. Estudos de Iconologia. Temas Humanísticos na Arte do Renascimento. 2ª ed., Lisboa: Estampa (1ª ed. Studies in Iconology, 1939).

Preziosi, Donald. 2009. The Art of Art History: A Critical Anthology. New York: Oxford University Press.

Warburg, Aby. 1995. Images from the Region of the Pueblo Indians of North America. Ithaca: Cornell University Press.

______. 1999. The Renewal of Pagan Antiquity: contributions to the cultural history of the European Renaissance. Los Angeles: Getty Research Institute.

______. 2010. Atlas Mnemosyne. Madrid: Akal. Edição de M. Warnke (Berlim, 2003) e F. Checa (Madrid, 2010).

______. 2012. Sandro Botticelli. O Nascimento de Vénus e a Primavera. Lisboa: KKYM.

______. 2015. Domenico Ghirlandaio. Lisboa: KKYM.

van Straten, Roelof, 2007. An Introduction to Iconography. Symbols, allusions and meaning in the visual arts. Londres: Taylor & Francis (1ª ed. Leiden, 1985).

BIBLIOGRAFIA
PARTE 2. PRÁTICA

Bíblia Sagrada. Lisboa: Missionários Capuchinhos, 1981. [entre outras edições]

Castiñeiras González, Manuel Antonio. 1998. Introducción al método iconográfico. Barcelona: Ariel.

Chevalier, J. e A. Gheerbrant. 1994. Dicionários dos Símbolos. Lisboa: Teorema.

Grimal, Pierre. 1999. Dicionário da Mitologia Grega e Romana. 3ª ed., Lisboa: Difel.

Kirschbaum, E. et al. (cords.). 1994-2004. Lexicon der christlichen Ikonographie, 8 vols. Roma: Herder (1ª ed. 1968-1976).

Lexicon Iconographicum Mythologiae Classicae (LIMC), 1981-1999, 8 vols., Zurique/Munique.

Los Evangelios Apócrifos, 10ª ed. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 2004.

Mâle, Émile. 1925. L’Art Religieux de la Fin du Moyen Âge en France. Étude sur l’iconographie du Moyen Âge et sur ses sources d’inspiration. 3ª ed., Paris: Armand Colin.

______. 2002. El Arte Religioso de la Contrarreforma. Madrid: Encuentro.

Réau, Louis. 2000. Iconografía del arte cristiano. Barcelona: Ediciones del Serbal (1ª ed. Iconographie de l’Art Chrétien, 1955-59).

Tavares, Jorge. 1990. Dicionário de Santos. Porto: Lello & Irmão.

Voragine, Jacques de.2004. La Legende Dorée. Paris : Gallimard. Veja-se também a tradução portuguesa: Legenda Áurea. 2004. Porto: Livraria Civilização Editora.


Recomenda-se a consulta das entradas alusivas aos temas iconográficos tratados nas aulas nos seguintes websites da Universidade Complutense de Madrid:
Revista Digital de Iconografía Medieval, https://www.ucm.es/bdiconografiamedieval/rdim;
Eikón Imago, http://www.capire.es/eikonimago/index.php/eikonimago



HORÁRIO DE ATENDIMENTO
Via zoom – marcação por e-mail maria.carvalho1@campus.ul.pt  


AVALIAÇÃO
A avaliação é constituída por dois testes escritos (40%+40%) e por um curto trabalho de projeto/apresentação – maratona de iconografia – (20%). O primeiro teste incide sobre a componente teórica e o segundo sobre a componente prática, ambos refletindo as metodologias de trabalho em contexto de aula. O trabalho de projeto/apresentação relaciona-se diretamente com a componente prática da unidade curricular.


DATAS IMPORTANTES
As datas dos elementos de avaliação são confirmadas com os alunos no decorrer da primeira aula, razão pela qual podem vir a ser objeto de alterações.
1 de março – teste
31 de março – data limite para entregar a base visual da maratona de iconografia
17 de abril a 26 de abril – maratona de iconografia [quatro aulas]
3 de maio – teste


MATERIAIS DE APOIO
Serão disponibilizados materiais de apoio, nomeadamente pdfs de artigos e de power points apresentados em aula, através da plataforma de e-learning da Universidade de Lisboa (https://elearning.ulisboa.pt/), especificamente na ligação desta UC “Iconografia e Iconologia”.