A fundação de Gadir e a questão cronológica da colonização fenícia

30 Setembro 2019, 10:00 Ana Margarida Costa Arruda dos Santos Gonçalves

Mesmo que a datação que pode inferir-se do texto de Veleio de Patérculo para a fundação de Gadir seja ainda dificilmente sustentável pelos dados arqueológicos, é hoje quase pacífico que aquela foi a primeira colónia fenícia fundada na Península Ibérica. 

A correspondência entre a Gadir dos textos e a actual cidade de Cádis foi muitas vezes assumida, não só porque a implantação numa ilha e o topónimo recente permitiam efectivamente essa dedução, mas também porque essa cidade revelou muitos testemunhos de uma ocupação antiga. Até há poucos anos, contudo, esses testemunhos eram quase todos tardios, entre os século III a.n.e. e a época romana, tendo sido avançadas várias hipóteses de leitura para as realidades identificadas. Assim, um outro local da baía gaditana – o Castillo de Doña Blanca – que forneceu numerosos testemunhos de uma ocupação muito antiga, e cuja cultura material (e o urbanismo recuperado) contribuía para tornar credível que teria sido aí que se tinha implantado a mais antiga colónia fenícia do Ocidente, chegou a identificar-se com a Gadir dos textos clássicos, defendo-se que na antiga ilha estaria localizado apenas o templo. Mas, em anos recentes, outros dados têm vindo a ser acrescentados, tendo sido encontrados abundantes testemunhos de uma ocupação fenícia antiga sobre a actual cidade de Cádis. Esses testemunhos, materiais, epigráficos e até genéticos, sobretudo os do Teatro Cómico, centram de novo o debate na equação Gadir = Cádis. 

Os dados da cronologia referida nas fontes clássicas são confrontados com os que os materiais recolhidos em Cádis proporcionam, e com os que a cronologia absoluta facilitou. As datações propostas serão também comparadas com as que estão disponíveis para as várias colónias fenícias mediterrâneas, de maneira a contextualizar cronologicamente os sítios peninsulares.