A pré-colonização: conceito e aplicação para a Península Ibérica

19 Setembro 2019, 10:00 Ana Margarida Costa Arruda dos Santos Gonçalves

Se a instalação de grupos fenícios na Península Ibérica foi ou não precedida por contactos de carácter exploratório, que teriam como objectivo preparar a referida instalação, foi o tema abordado.

 

Apresentaram-se as teses que tentaram solucionar a dicotomia existente entre a cronologia atribuída pelos autores clássicos à fundação de Gadir (século XII a.n.e.) e as datas que, nos finais dos anos 50 e nos 60 do século XX, se podiam inferir dos materiais arqueológicos recolhidos, primeiro em Lixus, e, mais tarde, nas então designadas «feitorias paleo-púnicas» da costa de Málaga e de Granada (séculos VIII/VII a.n.e.). 

 

Essas teorias devem ser devidamente enquadradas no tempo em que foram produzidas, uma época precoce da investigação sobre a colonização fenícia do Ocidente, quando não estavam ainda disponíveis nem cronologias absolutas, nem sequer conjuntos de materiais de dimensão e coerência interna suficientes para que se tornasse possível entender, devidamente, um fenómeno a vários níveis muito complexo. 

 

As críticas ao modelo de Tarradel são também apresentadas, tendo em conta não só o facto de os fenómenos ocorridos no Ocidente durante a primeira metade do 1º milénio a.n.e. terem sido decorrentes de factos que tiveram lugar no Oriente, mas também os novos dados entretanto aduzidos aos já existentes, quer no que se refere à colonização propriamente dita, quer aos momentos que imediatamente a precederam, destacando-se, em ambos casos, os da cronologia absoluta. 

 

Chama-se também a atenção para os elementos que permitem identificar a existência, nos momentos finais do 2º milénio a.n.e., de estreitos contactos entre o Atlântico e o Mediterrâneo, contactos que se materializaram num já vasto conjunto de espólios encontrados nos territórios banhados pelos dois mares (e muitas vezes em áreas interiores), valorizando-se igualmente, neste processo, o papel jogado quer pelas comunidades atlânticas, responsáveis pelo chamado «mercado atlântico», quer pelas mediterrâneas, e ainda pelos indígenas da Península Ibérica.