Fenícios no Sudeste, no Nordeste e em Ibiza
10 Outubro 2019, 10:00 • Ana Margarida Costa Arruda dos Santos Gonçalves
Até há pouco tempo, não se reconhecia a existência de colónias fenícias no Sudeste peninsular, ainda que alguns materiais encontrados em povoados indígenas, como Peña Negra, indicasse que populações orientais frequentavam a região alicantina.
Em 1996, a descoberta de níveis arqueológicos da Idade do Ferro em La Fonteta (Guardamar del Segura) permitiu verificar que os fenícios procederam à instalação de colónias, também no Sudeste. O sítio está instalado na foz do rio Segura e ocupa cerca de 8 ha. A cronologia da sua ocupação pode remontar ao século VIII a.n.e. O facto de sobre a cidade fenícia se terem depositado, após o seu abandono, vários metros de areias, permitiu que a colónia se tivesse convertido na mais bem conservada da Península Ibérica, onde os muros de adobe chegam a atingir ainda hoje os 3 m de alçado.
Trabalçhos recentes em Cabezo del Estaño mostraram que a presença fenícia foi ainda mais extensa e especializada.
Os espólios recolhidos foram apresentados e também devidamente valorizados, apresentando-se o repertório cerâmico (ânforas, pratos, taças e lucernas de engobe vermelho) ovos de avestruz pintados, objectos de marfim e escaravelhos egípcios de La Fonteta
Peña Negra (Crevillante) é, por outro lado, o sítio que melhor documenta a orientalização indígena. Com efeito, sobre os níveis do Bronze final, desenvolvem-se os da Idade do Ferro, estes já consideravelmente orientalizados, com elevadas percentagens de importações (produtos manufacturados e alimentares). Destaca-se aqui também a presença de uma metalurgia extremamente activa.
Pelo contrário, nas áreas localizadas a Norte de Alicante os dados que se referem à presença fenícia são muito escassos Os que existem documentam uma realidade que não é compatível com a instalação permanente, e as relações que se estabeleceram com os indígenas parece acontecerem, num primeiro momento, em alguns enclaves, localizados no estuário do Ebro, como é o caso de Aldovesta ou de Sant Jaume-Mas da Serra. Só a partir dos séculos VII-VI as importações se estendem geograficamente, ainda que nunca atinjam proporções significativas. O comércio fenício com o Nordeste da Península Ibérica parece ter sido pontual e esporádico.
Nas Baleares a presença fenícia é conhecida em Ibiza. A necrópole de Puig des Molins, por um lado, e Sa Caleta por outro forneceram importantes elemnetos para compreender o papel desempenhado pela ilha no processo de colonização ocidental, que foi além de um simples ponto de apoio à navegação.