Os dados materiais da colonização

3 Outubro 2019, 10:00 Ana Margarida Costa Arruda dos Santos Gonçalves

A presença fenícia na Península Ibérica pode ser rastreada através de um amplo conjunto de artefactos que evidenciam novidades tecnológicas, em termos locais, e também por arquitecturas e técnicas construtivas que implicam rupturas assinaláveis com os modelos anteriores. Por outro lado, novos hábitos alimentares ficaram evidenciados por estudos faunísticos, carpológicos e polínicos. 

 

A vulgarização do uso da roda de oleiro, as técnicas da pasta vítrea e da redução do ferro e a utilização do moinho giratório correspondem a alterações tecnológicas importantes, que certamente determinaram modificações no quotidiano das populações. 


Há também dados que provam mudanças significativas na dieta alimentar, justamente com a introdução de novas espécies faunísticas, como os galináceos e o burro. A alimentação beneficiou também da divulgação do consumo do vinho, cuja produção pode ser relacionada com a presença de vitis domesticada, documentada, através das análises polínicas, em várias áreas peninsulares tocadas pelo fenómeno colonizador.

 

As abordagens ao terreno no estudo de sítios relacionados com a colonização fenícia da Península Ibérica permitiram também associar este fenómeno à extensão da área cultivada e à correspondente diminuição das zonas florestadas.

 

Novos planos arquitectónicos são implementados. Os edifícios desenvolvem-se em torno de pátios centrais, muitas vezes a descoberto. As construções são agora de planta rectangular ou quadrangular e as paredes de adobe tornam-se frequentes.

 

Mostram-se os espólios que associamos à colonização oriental, fazendo-se os necessários paralelos entre a cultura material peninsular com a que tem sido recuperada em outras áreas do Mediterrâneo também conectadas com a presença fenícia, como é o caso de Chipre, Sicília, Sardenha e Cartago. 


A cerâmica de engobe vermelho, cinzenta e pintada em bandas, as ânforas, a ourivesaria, os artefactos de bronze, os unguentários de vidro polícromo são mostrados e comparados, em termos formais, com os que se recolhem em sítios fenícios do Mediterrâneo central e oriental.