Confronto de dois discursos contrastantes sobre as mesmas sociedades
31 Outubro 2019, 10:00 • José Augusto Nunes da Silva Horta
1. Conclusão da análise do texto de Ruy Duarte de Carvalho Aviso à Navegação, Olhar sucinto e preliminar sobre os pastores Kuvale. A singularidade geográfico-ecológica (resultante da adequação do seu saber aos condicionamentos naturais) e a, consequente, singularidade económica dos Kuvale. A singularidade histórica marcada por "guerras" em que os Kuvale estiveram envolvidos com destaque para os conflitos com outros povos pastores e para a dominação colonial que procurou desestruturar o seu modo de vida pastoril, depois recuperada, na própria era colonial com o recurso, provisório, à actividade agrícola e consolidada depois da independência usufruindo do fim dos impostos e das restrições ao território dos Kuvale. Singularidade como escolha, sujeita às circuntâncias históricas.
2. Um contraste: da singularidade de uma sociedade inserida no tempo histórico e com relações com outras sociedades (perpectiva de Ruy Duarte de Carvalho) à homogeneização das "tribos de Angola". Desconstrução do discurso de uma notícia e entrevista publicada no Jornal Público de 08/09/ 2018 intitulada “Elas querem pôr as tribos de Angola na Moda". Uma operação de apropriação cultural: as "tribos de Angola" e a "moda tribal" constituem uma abstração fruto de um olhar distanciado, desprovido de relativismo. Ou seja, não vê para além de um referencial europeu de civilização (à luz do qual os Kuvale precisavam de ajuda, de "soluções" vindas do exterior), passando à margem das percepções locais, das lógicas internas próprias do contexto histórico-cultural em causa. Um olhar distanciado bem distinto do olhar implicado de Ruy Duarte de Carvalho.