A arqueologia das ciências humanas segundo Michel Foucault

12 Fevereiro 2021, 09:30 Nuno Gabriel de Castro Nabais dos Santos

Apesar de o Homem ser um dos mais antigos problemas colocados à civilizaçao ocidental, as ciências que fizeram do Homem o seu objecto foram as últimas a constituir-se. Depois da geometria e aritmética, depois da Física, da Química e da Biologia, as ciências humanas como a Sociologia, a Psicologia, a História, a Linguística, a Antropologia, a Economia, surgiram apenas no sec.XIX. Como explicar este "atraso"? Tradicionalmente atribui-se a constituição tardia das ciências humanas à enorme complexidade do seu objecto. Dotado de livre-arbítrio e, portanto, de imprevisibilidade, o Homem escaparia a todas as tentativas de formulação de leis universais sobre os seus comportamentos (individuais e colectivos) e sobre os seus estados de consciência. 

Michel Foucault contesta esta explicação pela "complexidade" do objecto das ciências do Homem, uma vez que qualquer objecto - seja da Física, da Química ou da Biologia - tem múltiplas dimensões de idêntica complexidade.
Segundo Foucault as ciências humanas foram as últimas a constituir-se porque o "objecto Homem" se constituiu apenas no final do sec.XVIII, enquanto par empírico e transcendental, enquanto realidade analisável pelas mesmas categorias das ciências empíricas na sua condição de ser que trabalha, que fala e que vive, e realidade transcendental, isto é, fornecendo as condições de possibilidade da constituição das próprias ciências Físicas, Químicas, Biológicas que tomam o Homem como entidade empírica.