Sumários
Partes da notícia
25 Outubro 2019, 16:00 • Ernesto José Rodrigues
Como redigir notícias
23 Outubro 2019, 16:00 • Ernesto José Rodrigues
Introdução à escrita jornalística: Redacção
18 Outubro 2019, 16:00 • Ernesto José Rodrigues
Estudada a técnica, vejamos cuidados de redacção a ter.
B) Redacção
Nome e adjectivo
NÚMERO
1. Os nomes (ou substantivos) pedem consulta regular de uma gramática da língua, nomeadamente por causa da formação do plural. Vejamos alguns casos pertinentes.
1. 1. Nos compostos de dois substantivos, de um substantivo e um adjectivo ou de um ordinal e um nome, usam-se ambos no plural: couve-flor, couves-flores; porco-espinho, porcos-espinhos; redactor-chefe, redactores-chefes; tenente-coronel, tenentes-coronéis; quinta-feira, quintas-feiras; pequeno-almoço, pequenos-almoços; capitão-mor, capitães-mores; obra-prima, obras-primas; amor-perfeito, amores-perfeitos.
1. 1. 1. Exceptuam-se os casos em que o segundo elemento contém a ideia de finalidade, complementaridade, semelhança: café-concerto, cafés-concerto; escola-modelo, escolas-modelo; navio-escola, navios-escola.
1. 1. 2. Ligados por preposição, com ou sem hífen, incluindo presença de verbo, muda-se só o primeiro elemento: água-de-colónia, águas-de-colónia; pão-de-ló, pães-de-ló; pé-de-cabra, pés-de-cabra; copo-d'água, copos-d'água; pronto-a-vestir, prontos-a-vestir.
1. 2. No caso de adjectivo (não apocopado) e de substantivo, varia este: baixo-relevo, baixo-relevos; grão-mestre, grão-mestres; grã-cruz, grã-cruzes.
1. 2. Quando se trata de verbo, ou elemento invariável, e um substantivo, só este muda: guarda-chuva, guarda-chuvas; guarda-sol, guarda-sóis, guarda-roupa, guarda-roupas; ganha-pão, ganha-pães; beija-flor, beija-flores; abaixo-assinado, abaixo-assinados; ex-ministro, ex-ministros.
1. 2. 1. Se o nome já está no plural, o primeiro elemento mantém-se invariável: o troca-tintas, os troca-tintas; o quebra-noz, os quebra-nozes; o guarda-jóias, os guarda-jóias; o saca-rolhas, os saca-rolhas; o papa-moscas, os papa-moscas; o papa-jantares, os papa-jantares.
1. 2. 2. Quando o segundo elemento tem um certo cunho estrangeiro (latino, p. ex.), ou quando o nome é composto de palavras repetidas, muda esse segundo elemento: ave-maria, ave-marias; padre-nosso, padre-nossos; salve-rainha, salve-rainhas; lufa-lufa, lufa-lufas; zunzum, zunzuns.
1. 2. 3. Muda o verbo, quando último elemento do composto: bem-me-quer, bem-me-queres; malmequer, malmequeres.
1. 3. Fora dos compostos, anotemos plurais não raro problemáticos:
1. 3. 1. A partir de ão: capelães, escrivães, sacristães (ou sacristãos), tabeliães; cidadãos, cortesãos, grãos, pagãos; acórdãos, bênçãos, órgãos, sótãos, órfãos; aldeões, aldeãos, aldeães; anciões, anciãos, anciães; guardiões, guardiães; vilões, vilãos.
1. 3. 2. Terminados em consoante, menos l, m, s, a que se junta es: carácter, caracteres; júnior, juniores; sénior, seniores; líquen, líquenes; abdómen, abdómenes; cânon, cânones. Mas: ámen, amens.
1. 3. 3. Se os que terminam em s, não oxítonos, recebem es – ananás, ananases; revés, reveses –, já os não oxítonos quedam invariáveis: lápis, pires, cais, ourives, alferes, atlas, oásis.
1. 3. 4. Apenas no plural, entre muitos: algemas, alvíssaras, anais, arredores, belas-artes, calendas, cócegas, condolências, endoenças, entranhas, escombros, exéquias, férias, núpcias, olheiras, pêsames, primícias, víveres.
2. A formação do plural – e do feminino – dos adjectivos compostos prevê que, tratando-se de dois adjectivos ou de um adjectivo e um substantivo, «ambos recebem as desinências de feminino e de plural»: verde-negro (verde-negra), verdes-negros (verdes-negras); surdo-mudo (surda-muda), surdos-mudos (surdas-mudas).
Pilar Vázques Cuesta e M. A. Mendes da Luz, que citamos (Gramática da Língua Portuguesa, s/d, p. 384), acrescentam que, «se se trata de adjectivos gentílicos, apenas o segundo é afectado pelas marcas de feminino e de plural»: luso-brasileiro (luso-brasileira), luso-brasileiros (luso-brasileiras).
O caso do plural de social-democrata cabe neste apartado. O uso, que resulta de um sentimento da língua na massa falante, vulgarizou sociais-democratas. E bem. Di-lo F. Rebelo Gonçalves no seu Vocabulário de Língua Portuguesa (Coimbra Editora, 1966).
Em dois locais, pelo menos, é defendido social-democratas, ignorando, ambos, que esta regra só se aplica aos gentílicos. (Ver Livro de Estilo e Prontuário da LUSA (1992, p. 84) e Edite Estrela, Dúvidas do Falar Português III , 1988, p. 61-62.) Esta fala, mesmo, do primeiro elemento como «invariável», por ser «forma reduzida do adjectivo socialista» e antepõe aos franceses, que dizem tudo no plural, o socialdemócratas castelhano, esquecendo que, aqui, não há hífen e dando a entender que o Francês é menos derivado do Latim que os idiomas ibéricos... Ora, o nosso social-democrata vem do francês social-démocrate. No Expresso de 17-I-1986, Edite Estrela quer-se erradamente taxativa: «Tenho para mim, apoiada pelos gramáticos, pelos dicionaristas e pelo uso, que democrata é sempre substantivo, e democrático a forma adjectiva.» Não me parece… Respondia a reparo de José Neves Henriques, na edição de 10-I, justificando o duplo plural.
GÉNERO
3. Quanto ao género dos substantivos, registemos exemplos mais presentes (segundo Português Fundamental, vol. I, tomo 1 – Vocabulário, 1984):
3. 1. animados biformes: ateu, ateia; avô, avó; cristão, cristã; deus, deusa; frade, freira; genro, nora; o guarda, a guarda; judeu, judia; marido, mulher (preferível a esposa, na escrita jornalística); o ministro, a ministra; poeta, poetisa (escreve-se cada vez mais «a poeta Natália Correia», p. ex.).
3. 2. animados uniformes absolutos: o árbitro, o barbeiro, o bebé (já se ouve a bebé), o bicho, o bispo, o caracol (admite-se a caracoleta), o carapau, o carpinteiro, o casal, a cobra (mas também se vê o cobrão), a equipa (afastar equipe), o indivíduo (em registo popular, a indivídua), o juiz (sem acento agudo; tende-se a aceitar a juíza), o papa (embora, historicamente, seja referida uma papisa), o polícia (tendência para a polícia, com chegada das mulheres à profissão).
3. 3. animados uniformes relativos: artista, chefe, cliente, colega, comunista, doente, emigrante, estudante, fascista, jornalista, jovem, parente, presidente, protestante, remetente, representante, socialista, turista, utente.
VERBO
4. Passando ao verbo, colocá-lo no plural se segue ou antecede vários sujeitos: O professor e o aluno saem da escola; à porta, mostravam-se a vizinha e um visitante.
4. 1. Neste exemplo, com um singular contíguo, aceita-se: mostrava-se a vizinha e um visitante.
4. 2. Se o sujeito é uma expressão partitiva, o verbo pede singular: metade dos formandos saiu; a maioria não está de acordo; uma boa parte optou por desertar.
4. 2. 1. Pretendem alguns dizer Quarenta e um por cento afastou-se, mas Quarenta e dois por cento afastou-se ou afastaram-se, porque, aqui, estaríamos perante um pronome plural. A partir de dois por cento, digamos sempre no plural.
4. 3. Quanto ao verbo ser, concorda com o nome predicativo do sujeito no plural: Aquilo eram só mentiras; tudo foram palmas e alegria; o que temo são os exames; o coração dele são [= é constituído por] alegrias e tristezas; amanhã, são 2 de Novembro.
4. 3. 1. Ser fica no plural se o sujeito é expressão numérica considerada na sua totalidade: Quarenta e um espectadores é um total muito fraco; dois crimes é bastante.
4. 3. 2. Ser concorda no plural, quando com os sujeitos pronominais isso, isto, aquilo, o (que) e o predicativo expresso por substantivo plural: Tudo na terra são dores; isso eram bocas.
4. 3. 3. O mesmo quando o sujeito é expressão de sentido colectivo: o resto são ciúmes; o mais eram defeitos.
4. 4. Infinitivo.
4. 4. 1. Empregos da forma não flexionada, ou impessoal.
4. 4. 1. 1. O sujeito do infinitivo é o mesmo do verbo subordinante: Os bombeiros receberam ordens para abandonar o prédio.
4. 4. 1. 2. O sujeito do infinitivo é um pronome: A testemunha viu-os atacar a viatura.
4. 4. 2. Emprego do infinitivo pessoal.
4. 4. 2. 1. O sujeito do infinitivo é diferente do verbo subordinante: Os bombeiros verificaram serem muitas as dificuldades.
4. 4. 2. 2. Em frases subordinadas circunstanciais, iniciadas por «para» (finais), «até», «antes de», «depois de» (temporais): O fornecimento de água será interrompido até os museus regularizarem os seus pagamentos; temos mísseis com capacidade para transportarem ogivas nucleares.
4. 4. 2. 3. Quando o sujeito é o mesmo, usa-se a forma pessoal ou impessoal: Iniciaram uma vigília para apelar/apelarem ao fim do conflito; os trabalhadores retomaram o serviço depois de aceitar/aceitarem as condições. [Do Livro de Estilo e Prontuário da Lusa, adaptados]
4. 5. Gerúndio. Ou é desnecessário, ou conhece formas alternativas mais compreensivas.
4. 6. Verbos do Português Fundamental passíveis de erro: atrasar, cair (recair; sempre: caiu, caem), compreender, consertar, contactar, contratar, coser, cozer, descansar, eleger (elejo, eleges), enxugar, pôr (todos os compostos de pôr sem circunflexo: expor, impor, propor, etc.), proibir (proíbe, proibido), querer (quer e não quere; mas quere-o), reflectir, sair (saiu, saem).
4. 6. 1. Desaconselhamos dever de (Devia de fazer); alertamos para o risco, alegremente assumido, de dizer: não se tratam de, haviam muitas pessoas, quando é: não se trata de, havia muitas pessoas. Outro tal se dá em: Vão haver dois colóquios, quando, naturalmente, é simples dizer: Vai haver. Das muitas regências em que se peca, lembre-se que é: um bolo, de que gosto, e não: um bolo, que gosto.
4. 6. 2. Outros: concluir (concluem), desequilibrar, deslizar, dizer (dissemos), doer (doem), fazer (fizemos), influir (influem), intervir (interveio e nunca interviu), paralisar (ver paralisia), poder (pudemos), pormenorizar (melhor do que detalhar; donde, pormenor e não detalhe), preceder, trair (traiu), privilegiar, reunir (as intervenções; reunir-se com), ter (tivemos), verificar (bem melhor do que constatar; donde, verificação e não constatação).
4. 7. Redobrar de cuidados no âmbito da sintaxe, por força da influência brasileira ou de particularismos locais: O presumível homicida, que na véspera se dirigiu [e não: dirigiu-se] a casa da vítima, etc.
Pontuação
É um assunto dramático, e lamentável, na Imprensa lusa. A tragédia maior é dar com uma vírgula entre sujeito e verbo. Veja-se, aqui, como separadora de enumerações (A autarquia aprovou a construção de novas estradas, pontes, etc.), de repetições vocabulares e quando a oração subordinada vem antes da subordinante (Embora a guerra continue, o povo está firme).
A vírgula e os dois pontos (menos o ponto e vírgula) exigem um treino continuado de leitura dos bons autores e grandes jornalistas. Decidir se as siglas vêm com ou sem ponto.
O mesmo se dirá para os parêntesis e, em especial, para as aspas e travessões, tão presentes na reportagem e na entrevista. Aquelas concorrem nas citações, inclusive nos títulos, e quando a palavra ou sintagma remete para um campo semântico segundo (O ministro está "queimado").
O apóstrofo, menos comum, mereceu larga atenção dos actuais ortógrafos de Portugal, do Brasil e dos PALOP, que igualmente se debruçaram sobre as maiúsculas e minúsculas.
Reduzir, esbater mesmo, a pontuação nos títulos e antetítulos. Atentar, sobretudo, no perigo dos pontos de exclamação e de interrogação, além das reticências.
Caixas altas e baixas
Segundo Daniel Ricardo (Manual do Jornalista, 1989, pp. 93-101), é conveniente escrever com maiúscula inicial:
1. substantivos comuns que façam parte de nomes próprios: Palácio de Belém; Rio Tejo.
2. cognomes, nomes de guerra e de código e alcunhas: D. Dinis, o Lavrador.
3. Homem na acepção de humanidade; Estado enquanto figura de Direito Público: Chefe de Estado; referindo-se a Portugal, designações como País, Nação, Pátria, Revolução, República, Hino Nacional, Bandeira Nacional.
4. nomes dos órgãos de soberania, de movimentos políticos, da instituição militar, das organizações policiais, do sistema fiscal, associações, empresas, etc.
5. termos que identifiquem povos e grupos étnicos se, no singular, já exprimem uma ideia plural: O Açoriano é hospitaleiro.
As alíneas multiplicam-se e alguns casos são flagrantes:
o Executivo camarário [o Diário de Notícias dá tudo em baixas], mas não, como aquele pretende, Município (antes, município) de Leiria; 1º Bairro Fiscal; a luz do Sol; a II Guerra Mundial: a Redacção de O Telégrafo [ou d'O Telégrafo; do Telégrafo é mais prático, embora menos correcto]; etc. Está-se a perder a maiusculação nas familiares Imprensa e Comunicação Social.
Minúscula inicial levam, p. ex., as palavras que designam graus e títulos académicos, postos políticos, militares, eclesiásticos, nobiliárquicos, honoríficos: o professor Óscar Lopes, o ministro da Justiça, o primeiro-ministro, o provedor de Justiça, o governador de Macau... Mas: o Presidente da República.
Num contexto local, de sensibilidades à flor da pele, pode ser conveniente referir o Secretário Regional das Pescas... Estas questões de proximidade têm os seus melindres.
Nomes dos dias, meses e estações surgirão em minúsculas, segundo o novo Acordo Ortográfico.
Identificação
Aproximar do leitor aqueles de quem se fala é, também, preocupação do jornalista. Este nunca deve tratar por tu os entrevistados, nem fazer preceder de artigo definido os nomes dos indivíduos.
Sendo conhecidos, dê-se o nome por que são mais facilmente identificáveis junto do grande público: Mota Amaral, e nunca João Bosco Mota Amaral; muito menos, o sr. / senhor dr./doutor J. B. Mota Amaral e, pior ainda, se antecedido por qualificativos próprios do mau jornalismo: distinto, ilustre, notável, eminente, virtuoso, sábio, fogoso, aplaudido, festejado, saudoso...
Os títulos de função e os eclesiásticos ganham em ser separados dos nomes a que dizem respeito: Mário Soares recebeu ontem o primeiro-ministro. Após a reunião, o Presidente da República, etc.
Se o "quem" da notícia é um desconhecido, urge fornecer o retrato completo, do nome à idade, profissão, local de trabalho e morada: José dos Santos Mateus, 35 anos, empregado bancário a viver em Oeiras, etc. Num segundo momento, bastaria dizer José Mateus.
Preferir mulher de a esposa de ou senhora de. Não temer viúvo (em lugar de companheiro, p. ex.) quando se trata, de facto, de viúvo. A isso se chama precisão vocabular.
Numerais
Os cardinais até dez escrevem-se por extenso.
Também por extenso devem vir os cardinais que iniciam períodos, citações, antetítulos, títulos, subtítulos, intertítulos.
O mesmo para cem, a não ser que componha outro número: Havia cerca de cem pessoas na sala; mas: o empréstimo ultrapassa 100 milhões de contos. [Ver-se-á, em baixo, como o Expresso fura esta norma.]
Igual regra serve para mil, milhar, milhares, milhão, milhões: um milhão de pessoas; votaram 155 mil eleitores. [A oscilação entre dezenas de milhar/milhares prejudica esta forma, que, por analogia, favorece dezenas de milhões e nunca de milhão.]
Quantias monetárias com cifrão vêm, naturalmente, em algarismos árabes: 12$50; quando a soma for redonda, ao número, por extenso ou não, segue-se escudo (s) ou conto (s): dois escudos, 400 contos.
Em algarismos vêm, também, os números de tabelas, dos quadros de resultados, das percentagens, das coordenadas geográficas, dos pesos e medidas: Cerca de 8 por cento (e não %) dos leitores; a 44 graus de latitude norte e a 8 graus de longitude oeste; apreenderam 4 toneladas de carne numa área de 8 metros quadrados, descia a temperatura a dois graus negativos. Outros casos não levantam especiais dificuldades.
A indicação das medidas de tempos varia de jornal para jornal: às 9 e 30; às 9h30; às 21.00; às 21H00; às 21 h.
Os grupos de três algarismos nos grandes números são separados por espaços em branco: 453 892 671 (não 453.892.671).
Siglas
Sigla pouco conhecida surge entre parêntesis logo após o nome por extenso. Casos há em que a sigla, entranhadamente ligada ao próprio nome, vem em primeiro lugar, por interposto travessão: O Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro (IBNL); mas: a ATV - Associação de Telespectadores.
Úteis numa segunda citação, não devemos sobrecarregar o texto de siglas e, sobretudo, acumular em poucas linhas siglas mal conhecidas.
Introdução à escrita jornalística (1)
16 Outubro 2019, 16:00 • Ernesto José Rodrigues
Crónica
11 Outubro 2019, 16:00 • Ernesto José Rodrigues
De Cronos à actualidade.