Túbal e Luso
15 Fevereiro 2022, 17:00 • Ernesto José Rodrigues
Túbal
e Luso fundam, segundo Fernão de Oliveira ([1536] 1975: 40), «A antiga nobreza
e saber da nossa gente e terra de Espanha, cuja sempre melhor parte foi
Portugal, […]». A exemplo do avô Noé, fundador de cidades peninsulares, Túbal
«fundou Gibraltar», além de Setúbal, como reiteram Fr. Bernardo de Brito (Monarquia Lusitana, I, 1), Gaspar
Barreiros (Chorographia, 1651, fl.
63), Brás Garcia de Mascarenhas (Viriato
Trágico [1699], canto I) e outros.
Quanto
a Luso, «que também enobreceu esta terra», diz Oliveira (p. 40-41) que «não foi
grego, mas de Portugal nascido e criado, filho de Liceleu», ou Baco (ver Os Lusíadas, I, 30: 2; I, 31: 5; I, 34:
4; I, 39: 3; I, 49: 5 e VI, 14, 20 = Lieu; I, 73: 2 = Grão Tebano; I, 82: 1;
II, 10 = filho de duas mães; II, 12: 2 e VI, 6, 26 = Tioneu; II, 39: 2; III,
18; VI, 25; VIII, 3-4, 47-50; IX, 91[1]),
do qual rei Luso «se chamou a terra em que vivemos Lusitânia, a qual depois
chamaram Turdugal, não do porto de Gaia, como quer Duarte Galvão na História de El-Rei D. Afonso Henriques,
mas dos Túrdulos e Galos, duas nações de homens que vieram morar em esta terra,
segundo conta Estrabão no terceiro livro da sua Geografia». Esta tese não vingou, antes permanece a de Portus Cale = Portucale resumida em Camões (VI, 52: 1-3): «Lá na leal cidade,
donde teve / Origem (como é fama) o nome eterno / De Portugal, […].» Duarte
Nunes de Leão, na póstuma Descrição do
Reino de Portugal (1610), deriva Lusitânia de Luso, «cõpanheiro de Bacho, a
que por outro nome chamão Lysia de que também a dita prouincia se dizia
Lysitania. Dahi a muitos centos de anos veo a Lusitania chamarse Portugal por
esta causa. Na ribeira do rio Douro ha um lugar antiquissimo que o Emperador
Antonino em seu itinerario chama cale, & agora se chama Gaia. O qual por
seu lugar firmado em alto, & que tinha trabalhosa seruentia para os
moradores que erão os mais delles pescadores, començarão a povoalo na parte
baxa perto á ribeira do rio. E assi foi crescendo, & se chamou Porto de
Cale, & despois Porto Cale, & per tempo Portugal mudando o C. em G.
[…].» (p. 11v-12r)
Somos,
assim, «gente / De Luso» (Os Lusíadas,
I, 24: 4; I, 39: 4; II, 17: 6; II, 103: 6; III, 95: 8), o Luso (II, 48: 2; III, 51: 7), eventualmente «Luso horrendo» (II,
48: 8), «geração de Luso» (VII, 2: 1). A origem do nome Lusitânia[1]
e a filiação no Tebano demora-se em III, 21 e VIII, 2: 7-8, 3: 1-8 e 4: 1-4,
com o acrescento de que Luso está sepultado nesta sua terra.
Datas dos testes: 22 de Março e 10 de Maio.