Como «ler» uma obra de arte: as 'fortunas' histórica, crítica e estética.

1 Outubro 2015, 10:00 Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão

Nesta aula, partimos da definição de dois conceitos operativos que, a nosso ver, devem ser considerados basilares para a prática de uma História da Arte-ciência não só eficaz no diálogo a empreender com as obras de arte como, também, útil e socialmente comprometida:

- a noção de PROGRAMA ARTÍSTICO, assente num olhar inter-disciplinar com visão globalizante (histórica, estética, ideológica, antropológica, contextual, etc) das obras de arte à luz da compreensão daquilo a que Aby Warburg, entre outros, já definia como os seus ‘pontos de vista intrínsecos’, isto é, das condições culturais, políticas, socio-económicas, laborais, memoriais, ideológicas, de perduração e de continuidade, etc, etc, para um pleno entendimento iconológico das mesmas;

- e a noção de TRANS-MEMÓRIA IMAGÉTICA, conceito por nós proposto em data recente, que busca (re)conhecer em todas as obras de arte as suas capacidades mais ou menos fortes de perpetuação memorial, tornando-as um elemento fundamental de percepção das suas potencialidades globais, numa base trans-temporal e trans-contextual, sempre aberta e, por isso, de inesgotável fascínio para os seus fruidores e para os historiadores de arte.

Nesse sentido, vamos 'ler' uma obra de arte do Renascimento português: o quadro CRISTO EM CASA DE MARTA E MARIA, pintado por Vasco Fernandes, o Grão Vasco, e a sua oficina, cerca de 1530, para a Capela do Bispo D. Miguel da Silva no Paço de Fontelo em Viseu, e hoje exposto no Museu Grão Vasco. Analisam-se pormenores como o retrato do encomendante, o Bispo D. Miguel da Silva, e como o auto-retrato do pintor, e os aspectos que determinam a 'fortuna crítica' da obra e o seu 'ponto de vista' intrínseco em torna da parangola vida activa-vida contemplativa, própria de uma cultura humanística e neo-platónica em Viseu no tempo de D. João III. A leitura integrada da obra, seguindo um esquema iconológico (não esquecendo o método de Omar Calabrese) adequa-.se ao 'estudo de caso' proposto e discutido na aula.