Ensaio de preparação de uma dissertação de Mestrado em Arqueologia
7 Outubro 2016, 16:00 • Carlos Jorge Gonçalves Soares Fabião
Ensaio de preparação de uma dissertação de Mestrado em Arqueologia.
Foi apresentado e comentado o documento de base orientador da segunda prova proposta no plano de avaliação, que deverá ser submetida no âmbito do Seminário, mas também ao orientador que o estudante escolher:
Sugestões para a organização de dissertações de Mestrado em Arqueologia
Generalidades
Escreva um pequeno texto de não mais de 25 p. A-4
sobre a sua dissertação, considerando os distintos tópicos que adiante se
apresentam.
Estas orientações não devem ser entendidas como
questões diferentes (isoladas) que deverão ser abordadas separada e
sequencialmente, mas antes como pontos de orientação e reflexão, para a
organização de um projecto e realização da dissertação. Os diferentes tópicos
propostos devem ser todos tratados.
Necessário será um prévio trabalho de levantamento bibliográfico e de leitura.
O Trabalho
Linhas de orientação para a realização do trabalho:
Pretende-se, basicamente, um plano detalhado da dissertação. Deverão
necessariamente ser tratadas os seguintes aspectos:
A - A questão central e as hipóteses
B - O contexto historiográfico
C - As questões metodológicas
D - Questões relacionadas com as fontes que serão utilizadas
E - A estrutura da dissertação
F - Faseamento do trabalho e prioridades de pesquisa
Esclarecimentos
A - A questão central e as hipóteses
1. Qual é (ou quais são) a(s) questão(ões) central(is) e as principais
hipóteses da dissertação?
2. Que subquestões e que subhipóteses derivam desta questão central?
3. Explique concretamente porque razão estas subquestões e subhipóteses serão desenvolvidas e não outras
4. Qual é o objectivo específico da dissertação?
B - O contexto historiográfico
1. A questão central da pesquisa relaciona-se com
importantes debates, no âmbito da disciplina (ou das Ciências Sociais, em
geral) e, em caso afirmativo, que debates?
2. Parte de alguma perspectiva teórica concreta?
3. Qual é o seu "contexto analítico"?
4. Pretende contestar alguma perspectiva previamente exposta, ou simplesmente ensaiar uma perspectiva original?
5. Como descreveria a natureza da sua investigação: histórico-culturalista, contextualista, processualista, hermenêutica, narrativista, comparativa, neo-marxista, ou uma síntese de algumas destas correntes? (é conveniente que saiba exactamente o que se entende por cada um destes conceitos, pelo que se recomenda a leitura de alguns manuais básicos no final destas folhas).
C - As questões metodológicas
1. Pretende que os resultados da sua dissertação se transformem em generalizações aplicáveis a outras realidades concretas (em outros contextos espaciais e cronológicos)?
2. De que forma pretende atingir tais objectivos e a que tipo de generalização se refere?
3. A sua abordagem pretende ser quantitativa (isto é, deseja descobrir/estabelecer relações entre variáveis) ou qualitativa (isto é, deseja descobrir/identificar explicações casuísticas, aplicáveis a situações concretas)?
4. Quais as variáveis, independentes e dependentes, centrais para a sua pesquisa?
Que relações e conexões pretende descobrir/demonstrar e que dados novos pretende utilizar?
5. Tenciona empregar uma perspectiva comparativa na sua investigação? Em caso afirmativo, em que sentido e com que objectivos pretende fazer a comparação?
6. Porque razão escolheu este período de tempo e espaço geográfico para o seu estudo?
7. Pensa usar determinados modelos na sua abordagem, em caso afirmativo, quais e como?
8. Como pensa utilizar os conceitos centrais da sua pesquisa e porque razão o fará nessa orientação em concreto?
9. Se pretende aplicar determinados métodos e/ou técnicas na sua pesquisa, explique porque razão os escolhe (e não outros) e porque razão os supõe úteis?
D - Questões relacionadas com as
fontes que serão utilizadas
1. Faça um breve inventário das fontes que irá utilizar, com indicação da
sua presente localização (em
que Museu, em que Instituição ou na posse de que particular).
2. Faça uma breve descrição da natureza e volume de fontes a utilizar. Apresente, também, uma estimativa do tempo necessário para o seu tratamento (identificação, classificação, descrição).
3. Explique porque razão recorrerá a essas fontes e não a outras.
4. Indique as potencialidades e limitações das suas fontes.
5. Explique se vai usar as suas fontes numa perspectiva quantitativa ou qualitativa, ou uma combinação de ambas.
E - A estrutura da dissertação
1. Apresente os títulos dos Capítulos da Dissertação, pela ordem em que
serão apresentados.
2. Esclareça qual será a sua opção na construção da dissertação e porque razão pensa ser essa, em particular, a mais adequada aos seus propósitos.
3. Indique que questões e subquestões serão tratadas em cada capítulo da dissertação.
4. Indique, sob o título de Conclusão qual é a sua expectativa de resposta às questões centrais colocadas.
5. Apresente a lista da principal bibliografia de referência que irá usar, correctamente citada (recomenda-se a utilização das normas de citação do IPA, visto que, potencialmente, poderá desejar editar a sua dissertação nas colecções deste organismo).
6. Apresente a lista dos potenciais apêndices a apresentar.
F - Faseamento do trabalho e
prioridades de pesquisa
1. Apresente um faseamento do projecto de dissertação, com uma clara
indicação de quando deverá estar concluída cada uma das suas partes. Com realismo
e clareza, indique que compatibilidade existe entre o seu plano e os prazos
disponíveis.
2. Estabeleça, com rigor e clareza, uma hierarquia de prioridades nas distintas partes do plano da dissertação: que partes são essenciais e que partes poderão ser abandonadas ou aligeiradas, se o tempo lhe faltar.
Leituras recomendadas, para um esclarecimento das principais correntes teóricas:
ALARCÃO, J. (1996) - Para uma conciliação das arqueologias. Porto: Afrontamento.
GAMBLE, C. (2001) - Archaeology: the basics. London, Routledge
HODDER, I. (1986) - Reading the past. Current approaches to interpretation in archaeology. Cambridge: Cambridge University Press (há uma tradução espanhola publicada na editora Crítica: Barcelona).
JOHNSON, M. (1999) - Archaeological Theory. An introduction. Oxford: Blackwell (há tradução espanhola publicada na editora Cátedra, de Madrid).