PROGRAMA DE “POÉTICA DO SER”

1º Semestre de 2022

Tema: Pensamento e poesia à luz do conceito grego de poiesis

1.       Pensamento e poesia, dois ramos do mesmo acto poético. A sua unidade originária no início da filosofia e ulterior separação com a cisão meta-física do ser.

2.        Duas interpretações metafísicas do poetizar, igualmente desenraizadas do seu solo ontológico: a mimese platónica e a construção idealista.

3.        O intento heideggeriano de reabilitação do sentido grego originário da poiesis enquanto acto de fundação da verdade do Ser, des-velamento de uma origem, um passado mítico, cuja verdade há-que traduzir e actualizar.

4.       A raiz do acto poético é a compreensão do ser como projecção de finalidade, e a sua fonte, a temporalização do tempo ekstático enquanto brotar da origem, eclosão de possibilidades. O tempo abre e forma, mas também liga e religa: ele é a forma simples e universal da diferença e da síntese.

5.       A poiesis como instituição de sentido não é nem pura recepção, nem pura construção, mas articulação discursiva e interpretativa da verdade aberta pela compreensão. O legado idealista e husserliano no que respeita ao papel reitor da imaginação na explicitação e articulação inteligível da compreensão do ser. Ela dá forma ao informe, associa e colige os dados da experiência, subsumindo-os a um sentido unitário, portador de uma imagem compreensiva do mundo.

6.       A “estrutura hermenêutica do enquanto” (Als-Struktur), distinta e anterior à predicação, como sede da poiesis e da sua bifurcação poética e pensante.

7.       A poesia perfaz a expressão viva da existência como eclosão de possibilidades e o pensamento, a salvaguarda hermenêutica da verdade aberta pela poesia.

 

Avaliação: dois testes, a meio e a fim do Semestre, além da presença assídua nas aulas, com participação no comentário de texto.

 

Bibliografia:

- Heidegger, “A Experiência do Pensamento”; “Poeticamente habita o Homem”; “Hölderlin e a Essência da Poesia”; “A Origem da Obra de Arte”.

- Ibidem, Ser e Tempo, §§ 29, 31,32, 34 (traduções em várias línguas).

-     “       , Kant e o Problema da Metafísica, (trad. ingl. Kant and the Problem of Metaphysics, Bloomington, Indiana Univ. Press, 1997).

-     “       , A Caminho da Linguagem, Petrópolis, ed. Vozes, 2003.

- Platão, República, l. X., trad. port., 15ªed., Lx, ed. Gulbenkian, 2017.

- Aristóteles, Poética, trad. port., 3ª ed., Lx., Impr. Nacional-Casa da Moeda, 1992.

- Kant, Crítica da Faculdade do Juízo, 1ª,p., l. II., 3ªed., Lx., Impr. Nacional-Casa da Moeda.

- Schelling, O Sistema do Idealismo Transcendental, cap. VI, §§ 1-3 (traduções em várias línguas).

- Lacoue-Labarthe, Ph./ Nancy, J.-L., L’Absolu Littéraire, Paris, ed. Seuil, 1978.

- Justo, J. M. (org.), Ergon ou Energueia. Filosofia da linguagem na Alemanha (Sécs. XVIII e XIX), Lx., 1986.