O principado augustano: um rei? Um cidadão?
31 Março 2022, 09:30 • Rodrigo Furtado
I. O que é Octaviano em Roma?
i. Poderes extraordinários (32-27).
ii. Cônsul (31-23).
iii. Censor (28 a.C.)
iv. Princeps senatus (27-).
v. Augustus (27-).
vi. Imperium proconsulare (27-23).
vii. Imperium pronconsulare maius (23-).
viii. Tribunitia potestas (23-).
ix. Pontifex Maximus (12-).
x. Pater patriae (2 a.C.-).
II. O forum de Augusto.
III. A literatura.
No meio de tudo isto, corria ao longe a imagem de um mar túmido, feita de ouro, mas as ondas do mar espumavam com uma alva vaga; e à volta, claros delfins de prata em círculo varriam a planície das águas com as caudas e cortavam o refluxo das ondas. No meio do mar, era possível divisar frotas de bronze — os combates de Áccio; com Marte a postos, via-se todo o promontório de Leucates ferver, e refulgirem de ouro as vagas. De um lado, estava César Augusto conduzindo os povos itálicos à guerra, juntamente com os senadores e o povo, com os Penates e os grandes deuses; estava de pé, na elevada popa do navio, as suas têmporas cheias de esperança vomitam duas chamas e vê-se a constelação paterna no cimo do elmo. Noutra parte, Agripa com deuses e ventos favoráveis, conduzindo do alto o seu exército; as suas têmporas refulgem cingidas com a coroa naval ornada de esporões. De outro lado, António com as hastes bárbaras .e as suas armas confusas, que regressava vitorioso dos povos da Aurora e do mar Vermelho; traz consigo o Egipto, as forças do Oriente e a longínqua Báctria, e segue-o — sacrilégio! — uma esposa egípcia. Ao mesmo tempo, todos se precipitam e toda a planície do mar espuma, revolta pelos remos e pelos esporões com três dentes dos navios. Dirigem-se para o alto-mar: julgar-se-ia que no pélago navegavam, arrancadas, as Cíclades, ou que altos montes corriam para chocar com outros montes, de tal modo os guerreiros investem com os navios munidos de enormes torres! Com a mão se espalha a chama ateada na estopa, e o ferro voa nas armas arremessadas — os campos de Neptuno ficam vermelhos com o morticínio, de uma maneira nova, nunca vista. No meio, a rainha chama as suas tropas com o sistro pátrio, sem ver ainda as duas serpentes atrás de si. Monstruosas figuras divinas de todas as espécies e o ladrador Anúbis empunham armas contra Neptuno e Vénus, contra Minerva. No meio da peleja se agiganta o colérico Marte, cinzelado no ferro do escudo, e as funestas Fúrias descem do alto éter. Rejubilante, com a túnica rasgada, avança a Discórdia, a quem Belona"' segue com o sangrento azorrague. Vendo isto, Apoio Áccio"' distendia lá do alto o seu arco: com tal ameaça, todo o Egipto e toda a índia, todos os Árabes e Sabeus fugiam. Até se via a própria rainha a entregar as velas aos ventos que invocara em seu socorro, soltando os cordames cada vez mais. No meio do morticínio, pálida por pressentir a morte próxima, assim a esculpiu o Ignipotente, a ser levada pelas ondas e por Jápix; à sua frente, entristecido, o Nilo de grande corpo, abrindo a prega da túnica, estendendo as vestes e chamando os povos vencidos para o seu cerúleo regaço e para os secretos esconderijos dos seus afluentes. Ao lado, César, conduzido às muralhas de Roma por um triplo triunfo'", oferecia aos deuses itálicos um sacrifício imortal — trezentos magníficos templos, por toda a cidade. Estremeciam de alegria as ruas, ao som dos jogos e dos aplausos. Em todos os templos, um coro de matronas; em todos eles, altares; diante dos altares, bois imolados jazem por terra, O próprio César em pessoa, sentado no níveo trono do candente Febo, observa com atenção as oferendas do povo e prende-as às soberbas portas. Em longa fila avançam os povos vencidos: tão diversas são as línguas quantas as armas e as formas de trajar. Aí gravara Múlciber as raças dos Nómadas e os Afros que não. cingem as vestes; aí figuravam também os Léleges e os Cá-ios, e os Gélones armados de flechas; o Eufrates a correr, já mais apaziguado no seu curso; os Morinos, homens que habitam os confins do mundo, o Reno bicorne"', os indómitos Daas e o Araxes indignado com a sua pontes".
Vergílio, Eneida 8.675-728 (trad. L. Cerqueira)
“Quando eu queria falar sobre batalhas e cidades
vencidas, Febo repreendeu-me batendo na lira,
não fosse eu navegar através do mar Tirreno,
com minha pequena vela. A tua idade, César,
trouxe de novo aos campos as férteis searas,
restituiu ao nosso Júpiter as insígnias,
arrancando-as das arrogantes portas
dos Partos, e fechou,
livre de guerras, o templo de Jano Quirino,
e pôs um freio à devassidão que se afastava
do bom caminho, eliminou as nossas culpas,
e fez reviver o antigo modo de vida,
mercê do qual cresceu o nome latino
e a força da Itália, e a fama e a majestade do Império,
que se estende donde o sol nasce
até a Hespéria, onde se deita”.
Horácio, carm. 4.15.1-16 (trad. P. Braga Falcão).
IV. A arte.
↑ Augusto (ca. 20 a.C.) | ↑ couraça (pormenor) | ↑ Submissão do rei dos Partos a Roma, simbolizada pela entrega do estandarte a um general romano (os Partos eram o povo que governava a Mesopotâmia e a Pérsia). | ||
↑(da esq. para a dta.) Apolo, deus do sol, Celo [deus do Céu, que desdobra um véu que simboliza o arco celeste]; Diana, deusa da lua, e Aurora, a deusa alada do nascer do dia. |
| ↑ personificação da Terra
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