A vida, o seu valor, as emoções e os sentimentos
23 Outubro 2018, 18:00 • Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes
OUTUBRO 3ª FEIRA 10ª Aula
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Damásio entrou na sala através do seu 5º capítulo da obra O Livro da Consciência – A construção do cérebro consciente. Interessava-nos aprender a distinguir entre emoção e sentimento. E logo nas primeiras linhas desse capítulo, o autor chama a nossa atenção para dois aspectos relacionados com a emoção. São eles «o problema da vida» e a questão do seu valor.
Recuando nos capítulos do livro até à p. 48 (A vida e a mente consciente) Damásio interroga-se sobre o que pensará o leitor comum acerca da verdadeira dimensão prática de sabermos como funciona «o cérebro por trás da mente e do eu».
Recolhi dessa reflexão algumas passagens que referenciando o processo evolucionista e de investigação sobre a vida na Terra, em particular, sobre a história da vida humana nos podem abrir perspectivas de conhecimento em que a neurociência tem um papel determinante: o trabalho com o cérebro «permite-nos determinar, talvez de uma forma mais judiciosa do que nunca, a qualidade do conhecimento e das informações que essas mentes conscientes nos proporcionam.» Refere ainda o autor no parágrafo seguinte: «Ao explicar os mecanismos neurais que nos trazem as mentes conscientes, torna-se óbvio que o nosso eu nem sempre é fiável e que nem sempre controla todas as nossas decisões. Todavia, os factos também nos permitem rejeitar a falsa impressão de que a nossa capacidade de deliberar de forma consciente é um mito. Explicar os processos mentais, conscientes e não conscientes, aumenta a possibilidade de fortificar o nosso poder de deliberação.»
Interessou-me a parte final da citação anterior, na medida em que a capacidade de deliberar está certamente associada a todas as nossas acções na vida, o que não exclui de modo nenhum que esse processo se reveja na criação e desenvolvimento de cultura e de arte. É já na p. 49 que Damásio tece um hino de louvor à essencialidade das culturas e à sua capacidade transmissiva entre gerações. E não resisto a citar de novo o neurocientista: «(…)a associação do que nos torna humanos à biologia é uma fonte infindável de espanto e de respeito por tudo o que é humano.»
A concluir a p. 50 interroga-se Damásio de novo: «Será que saber como o cérebro funciona é importante para a forma como vivemos a nossa vida? Sem qualquer dúvida, em especial se, para além de saber quem somos presentemente, nos preocuparmos com o que poderemos vir a ser.»
As sucessivas citações têm como princípio justificar a importância do conhecimento neurocientífico como uma componente forte da vida de todos nós e que podemos associar a uma visão humanista mais tradicional, mas mais do que isso contribuem para salientar a nossa capacidade de aceitação da vida como um valor inquestionável.
O facto de vivermos contemporaneamente em sociedades que se nos apresentam muitas vezes como desprezíveis jamais porá em causa o permanente avanço científico nesta área cujo interesse é a espécie humana e o que dela ainda nos falta conhecer.
Por tudo isto, distinguirmos entre emoções e sentimentos – as primeiras estão à frente dos segundos que sobre elas produzem reconhecimento – faz todo o sentido num contexto artístico observativo.
Algures na p. 160 do livro em apreço, Damásio recorda-nos que « a expressão de emoções pode ser regulada de forma voluntária» e salienta o autor que esse processo se reporta a manifestações externas.
Escolhemos como exemplificação para as questões que relacionam emoção e sentimento um pequeno vídeo de trabalho e exercício de preparação de um espectáculo de Kathakali que vimos integralmente mas ao qual voltaremos na próxima aula.
Vídeo observado: