Até onde nos pode levar a empatia?
2 Outubro 2018, 18:00 • Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes
OUTUBRO 3ª FEIRA 5ª Aula
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Esta não foi uma aula bastante produtiva. É essa pelo menos a minha percepção. Talvez os alunos estivessem «low». Talvez eu tivesse criado expectativa mais elevada em relação ao que acabou por acontecer.
Tratando-se de uma aula que anunciava o comentário ao capítulo sobre Empatia: A verdade escondida do livro de Giovanni Frazzetto, essa leitura não pareceu revelar-se empática, apesar do autor ser um grande fã de teatro e de ter dedicado várias páginas desse capítulo ao desempenho de actores, à observação de espectáculos, às práticas e teorias teatrais de um Peter Brook, de um Constantin Stanislavsky, de um Bertolt Brecht, de um Daniel Day Lewis, à experiência que terá sido conviver com uma actriz em palco, cujo modo de representar a transformou numa figura mítica, consagrada como diva, pela relação empática que estabelecia com os seus espectadores - Eleonora Duse (1858-1924). Não esquece o autor a extraordinária Marina Abramovic e a sua performance The Artist is Present (2010).
E tendo as artes cénicas como contexto, o que é particularmente atractivo para nós, Giovanni Frazzetto expõe-nos o que entende por empatia, a partir do seu estudo da neurociência, e de como esse fenómeno está dependente, entre outros aspectos, do funcionamento do nosso cérebro. Salienta o neurocientista a existência de uma pequena zona conhecida por GFI (Giro Frontal Inferior, localizada na área de Broca), como é mostrado na Fig. 13, do livro em estudo (p. 183), e à qual estão ligados neurónios com a função de espelharem o nosso comportamento empático.
Apesar de não podermos comprovar observando aquilo que Frazzetto nos diz (podê-lo-íamos fazer através de observação imagiológica, que não nos é acessível), o que importa é podermos possuir informação e conhecimento testado que nos permitem contemplar outros em acção interpretativa, compreendendo que as nossas reacções têm fundamento no nosso próprio cérebro e que lá se encontram os ‘dispositivos’ que nos fazem amar ou odiar o que contemplamos em muitas gradações.
Interrogo-me ainda sobre se teria sido escasso o tempo para o exercício de observação das pranchas de Warburg destinadas ao seu Atlas Mnémosine? Estou em crer que sim, e pelo facto vos peço desculpa.
Talvez na 3ª feira, dia 9.10, possamos escolher uma ou duas pranchas desse museu de imagens em movimento para as comentarmos.
Voltaremos na próxima aula a Frazzetto e à condição empática.
Leituras recomendadas:
DAMÁSIO, António 2000. O Sentimento de Si – O Corpo, a Emoção e a Neurobiologia da Consciência, Lisboa: Publicações Europa-América. (só para citação)
DARWIN, Charles 2006. A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, Tradução de José Miguel Silva, Lisboa Relógio D’Água. (leitura complementar segundo os interesses de cada um)
DIDI-HUBERMAN, Georges 2015. Que emoção! Que emoção?, tradução de Mariana Pinto dos Santos, Lisboa: KKYM.
FRAZZETTO, Giovanni 2014, Como Sentimos – O que a Neurociência nos pode – ou não – dizer sobre as nossas emoções, Lisboa: Bertrand Editora, pp. 176-213.
MENDES, Anabela, Notas para uma sociologia das artes do espectáculo – Reflexão sobre a utilização de parâmetros cognitivos aplicados a públicos de teatro e outras artes in: Maria Helena Serôdio (Dir.), Sinais de Cena 17, Junho de 2012, pp. 60-69.
WARBURG, Aby, 2010, Madrid: Ediciones Akal, S. A.. (PDF enviado aos alunos)