O corpo, o gesto , o movimento e a serpente

9 Outubro 2018, 18:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

 

OUTUBRO                                     3ª FEIRA                              6ª Aula

 

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Estava prometida uma sessão de trabalho com o Atlas Mnemosyne de Aby Warburg para que pudéssemos aferir diversas coisas.

Em primeiro lugar, queríamos dar seguimento às breves referências de Didi-Huberman, na sua pequena obra Que emoção! Que emoção?, sobre um específico entendimento da história da cultura e das artes em que «as imagens ao mesmo tempo transmitem e transformam os mais imemoriais gestos emotivos.» (Didi-Huberman, 2015: 36) Aqui se estabelecia também a proximidade a Darwin.

Mas para além desta favorável conjuntura quisemos incluir nesta observação da prancha 77 do Atlas de Warburg a percepção do movimento das imagens que ofereciam leitura individualizada e noutras se expandiam.

Este exercício nada facilitado pela qualidade de alguns dos exemplares revestia-se de um particular interesse para nós, uma vez que Aby Warburg dedicou grande parte do seu estudo de vida a observar e a comparar comportamentos e manifestações de gestualidade no contexto das artes cénicas.

 As ménades pré-áticas nas suas danças orgiásticas de celebração a Dioniso cruzaram-se no imaginoso pensamento de Warburg com a representação dos figurinos teatrais para os intermezzi de 1589 de Buontalenti e com os desenhos de cena para os mesmos Intermezzi de Agostino Carraci. Esta matéria investigativa está tratada em várias obras do historiador de arte alemão. Menciono aqui tradução portuguesa: Aby Warburg 2013. A renovação da Antiguidade pagã: contribuições científico-culturais para a história do renascimento europeu. Tradução de Markus Hediger, Rio de Janeiro: Contraponto Editora.

É na sequência de aturada observação destes materiais mencionados e correspondente produção discursiva (ver e-mail enviado) sobre a possibilidade de as imagens interceptarem a História, criando-lhes vida póstuma (Nachleben) fora de um contexto cronológico, que Warburg parte, em 1895, para os Estados Unidos da América, primeiro para assistir ao casamento de um dos seus irmãos em Nova Iorque, e a seguir, apoiado financeiramente por alguns mecenas e seduzido pela ideia de poder estudar não-europeus em estado ainda primitivo, conseguir instalar-se, durante cerca de um ano, entre os pueblos de Oraibi e Walpi (Novo México), onde habitavam os índios Hopi.

Muito haveria a dizer sobre esta estadia e investigação de Warburg entre os Hopi. No entanto, o nosso interesse está em sublinhar que as verificações espectaculares sobre imagens pré-clássicas e renascentistas apuradas por Warburg, na gestualidade e comportamentos cénicos analisados, encontram entre os Hopi idêntico posicionamento em desfiles, danças e rituais associados à figura da serpente (já anteriormente estudada por Warburg) e em cortejos realizados ao ar livre como celebração de fertilidade, integração de morte e renascimento e como valorização do pensamento mítico e do pensamento simbólico.

A figura da serpente com a sua longa história no pensamento ocidental reveste-se de idêntico significado entre os Hopi, o mais antigo povo autóctone nos EUA, com mais de 3.000 anos de existência.

 

Leituras recomendadas:

DAMÁSIO, António 2000. O Sentimento de Si – O Corpo, a Emoção e a Neurobiologia da Consciência, Lisboa: Publicações Europa-América. (só para citação)

DARWIN, Charles 2006. A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, Tradução de José Miguel Silva, Lisboa Relógio D’Água. (leitura complementar segundo os interesses de cada um)

DIDI-HUBERMAN, Georges 2015. Que emoção! Que emoção?, tradução de Mariana Pinto dos Santos, Lisboa: KKYM.

FRAZZETTO, Giovanni 2014, Como Sentimos – O que a Neurociência nos pode – ou não – dizer sobre as nossas emoções, Lisboa: Bertrand Editora, pp. 176-213.

MENDES, Anabela, Notas para uma sociologia das artes do espectáculo – Reflexão sobre a utilização de parâmetros cognitivos aplicados a públicos de teatro e outras artes in: Maria Helena Serôdio (Dir.), Sinais de Cena 17, Junho de 2012, pp. 60-69.

WARBURG, Aby, 2010, Atlas Mnemosine, Madrid: Ediciones Akal, S. A. (PDF enviado aos alunos)

                                 

http://www.educ.fc.ul.pt/hyper/resources/aguerreiro-pwarburg/

http://www.educ.fc.ul.pt/hyper/resources/aguerreiro-pwarburg/image.htm

http://www.educ.fc.ul.pt/hyper/resources/aguerreiro-pwarburg/pinotti.htm

http://www.poiesis.uff.br/PDF/poiesis17/Poiesis_17_EDI_Mnemosyne.pdf