Um cérebro plástico: um inexcedível bem

18 Outubro 2018, 18:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

TUBRO                                 5ª FEIRA                               9ª Aula

 

18

 

A aula teve um ponto alto na apresentação do curto vídeo do espectáculo Nowhere (2009) do coreógrafo grego Dimitris Papaiouannou. Uma descrição interpretativa deste visionamento já se encontrava no ensaio da Revista Sinais de Cena, 2-II, pp. 115-116.

Do meu ponto de vista, e sem que alguma vez o coreógrafo tivesse pensado nesta perspectiva neurocientífica, o que visionámos pode iluminar o funcionamento interno de todo um corpo nas suas diversas funções. Metáfora de uma internalização que também se expõe ao exterior encontramos no registo coreográfico a valorização rigorosa da relação entre partes e todo. Descobrimos ainda como o desenho plástico da materialidade dos sistemas do nosso corpo, que vai da sua completude e complexidade biológica ao mais ínfimo sinal de vida – uma célula, se replica também no movimento e gestualidade dos bailarinos como se eles pudessem também representar o gesto cartográfico da mapeação do que executam.

O ondular de braços, pulsos e mãos, invulgar no modo como nos é apresentado, cria uma dinâmica no espaço que podemos imaginar no ondulado de águas embora possa também surgir em outros contextos representativos (pintura, arquitectura, música). Se quisermos, por exemplo, ajustar estas imagens de Nowhere a uma representação do funcionamento do nosso cérebro estaremos a salientar a sua plasticidade.

Integra a nossa bibliografia a obra What should we do with our brain? (2008) da autoria da filósofa francesa contemporânea Catherine Malabou. Esta autora defende justamente a capacidade plástica do cérebro numa perspectiva de comprometimento político e sociabilidade. Sem nos querermos ater aos seus legítimos propósitos, interessa-nos registar as suas palavras nessa pequena obra e que poderiam complementar a memória do pequeno vídeo visionado:

«But What should we do with our brain? is not a question reserved for philosophers, for scientists, or for politicians – it is a question for everyone. It should allow us to understand why, given that the brain is plastic, free, we are still always and everywhere “in chains”; why, given that the activity of the central nervous system, as it is revealed today in the light of scientific discovery, presents reflection with what is doubltless a completely new conception of transformation, we nonetheless have the feeling that nothing is transformed; and why given that it is clear that there can no longer be any philosophical, political, or scientific approach to history that does not pass through a close analysis of the neuronal phenomenon, we nonetheless have the feeling that we lack a future, and we ask ourselves What good is having a brain, indeed, what should we do with it?» (11).

 

Na próxima aula estaremos a fazer leitura comentada do capítulo 5 – Emoções e sentimentos – de O Livro da Consciência de António Damásio.

Voltaremos assim a Didi-Huberman e à sua temática sobre emoções. Desta vez numa perspectiva de aplicação da Neurociência às Humanidades, bem como à nossa capacidade de sermos parte de um espectáculo.

 

Leitura para citação:

MALABOU, Catherine 2008, What should we do with our brain?, Foreword by Marc Jeannerod, Translated by Sebastian Rand, New York: Fordham University Press.

 

Leituras aconselhadas:

DAMÁSIO, António 2010, O Livro da Consciência – A construção do cérebro consciente, Lisboa: Temas & Debates/Círculo de Leitores. (Foi disponibilizada a obra em PDF aos aluno.)

 

http://vimeo.com/100021239