«Vivo daquilo que os outros não sabem de mim.» Peter Handke

11 Dezembro 2018, 18:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

DEZEMBRO                                   3ª FEIRA                                          23ª Aula

 

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Demos início ao estudo breve de alguns textos filosóficos de Byung-Chul Han, pensador sul-coreano radicado na Alemanha, onde estudou e ensina filosofia na Universidade Livre de Berlim, Faculdade das Artes.

Os textos seleccionados provêm de um pequeno volume intitulado A Salvação do Belo e questionam a condição estética de objectos ou actos que evidenciam a ausência de negatividade, conceito trabalhado pelo autor em anteriores obras como em A Sociedade da Transparência ou A Sociedade do Cansaço.

De acordo com o pensamento de Han neste contexto, a negatividade que, segundo o autor, tem uma acção colaborativa em «esferas nas quais [a alma humana] possa estar em si mesma sem o olhar do outro.» (Han, 2014: 13), e que também promove «A espontaneidade, o que é do registo de um acontecer e a liberdade, traços que constituem a vida em geral, nada comporta de transparência» (Han, 2014: 13) ou de positividade.

Significa então esta muito breve leitura sobre a ideia de negatividade que a mesma se relaciona com ambivalência, espontaneidade, destino, acontecimento, liberdade, apreço pelas coisas secretas e intrincadas, desejo de contemplação, tempo para errar e recuperar do erro, amadurecer das ideias às quais se dá a forma de esquecimento e a forma da renovação. «O sofrimento e a paixão são figuras da negatividade.» (Han, 2014: 17) Que diria Didi-Huberman desta afirmação?

Tudo isto parece não caber nos propósitos das sociedades contemporâneas que rejeitam modelos anteriores ao seu próprio aparecimento e que as denigrem. E as sociedades da transparência e da positividade, as nossas, são aquelas que celebram a formalidade, a automatização e a precisão da linguagem, que não suportam a naturalidade e a desafectação dos comportamentos. Nestas sociedades vivemos de forma operativa, calculada, direccionada, e percebemos como nos podemos deixar controlar porque o viver político dá lugar à tentativa de resolução das nossas necessidades sociais.

Talvez seja por tudo isto que o erótico que encontramos exposto como contraparte do pornográfico no texto intitulado O Teatro Pornográfico deste autor nos possa suscitar reflexão.

Optei por vos mostrar em oposição a obras de Jeff Koons, pintura de um outro artista plástico contemporâneo, norueguês, Odd Nerdrum, e que julgo poder ombrear com o conceito de negatividade. Foi deste pintor que comentámos algumas das suas imagens como The Hunt of Odd Nerdrum (2018) ou Crossing the Border (2014).

Deixo-vos a tarefa de descoberta do que ainda não conhecem. Deixo-vos todo o espaço para o que possa ser ambíguo mas que vos suscite interesse e vontade de conhecimento. «A transparência e a verdade não são idênticas.» (Han, 2014: 18)

 

Leitura recomendada:

HAN, Byung-Chul 2016. A Salvação do Belo, Tradução de Miguel Serras Pereira. Lisboa: Relógio D’Água, pp. 11-21, 79-87, 95-99.

HAN, Byung-Chul 2014. A Sociedade da Transparência, Tradução de Miguel Serras Pereira. Lisboa: Relógio D’Água, pp. 11, 13, 17, 18. (Apenas para citação)

 

Vídeo sobre e do autor Byung-Chul Han:

https://www.youtube.com/watch?v=cAiD2uyLcWM

 

Vídeo sobre a pintura de Odd Nerdrum

https://vimeo.com/ondemand/oddnerdrum/273473509

 

 

 

"Be the change you want to see in the world" (M.K. Gandhi)