Aprendendo sobre o Taz'iyeh
5 Abril 2019, 14:00 • Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes
ABRIL 6ª FEIRA 10ª AULA
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Apresentação por Sajjad Yarifiroozabadi de três vídeos dedicados à dança religiosa tradicional Ta’ziyeh como expressão performativa do Irão antigo e contemporâneo, seguida de discussão com o aluno apresentador. Questionação ao mesmo sobre a quase ausência de mulheres na assistência a um dos espectáculos, registado por fotografias de meados do século XX, e que as mostrava cobertas por véu branco. A resposta a esta questão corrobora o princípio de que o Ta’ziyeh não só é um espectáculo feito por homens como a ele assistem poucas mulheres. Não foi possível apurar se a condição de classe era factor discriminatório ou não no estatuto da mulher-espectadora. Ainda nessas fotografias observámos que as mulheres se encontravam em bancadas e todas juntas num mesmo espaço comum. É nossa convicção que esta opção de preenchimento do espaço facilitaria ao público masculino o controle sobre estas espectadoras. Apesar disso, a presença de mulheres na assistência ao Ta’ziyeh é desde pelo menos o séc. XVIII frequente em recinto aberto. Às mulheres caberia a preparação de alimentos distribuídos entre todos os presentes.
Os vídeos apresentados confirmam a presença de representação de personagens femininas por homens, fenómeno ainda hoje corrente em espectáculos de Ta’ziyeh. Naturalmente não tivemos acesso a um espectáculo inteiro o que nos teria suscitado um tipo de aproximação mais cuidadoso.
Sajjad Yarifiroozabadi utilizou como material de apoio para esta aula um pequeno ensaio já antes elaborado, comentado e anotado por mim. A versão última foi projectada em power point, o que no caso presente facilitou a compreensão da apresentação da perspectiva histórica, religiosa e mítica desta dança antiga do Irão.
A questão mítica, associada à existência de um lugar sagrado – Transoxiana -, cuja existência remonta a cerca de 3.000 a.C., diz respeito, como o aluno explicou, a uma zona de confluência dos actuais países Uzebequistão, Tadjiquistão e Caziquistão, à época pertencentes ao Império Iraniano. Esta região implementou diferentes culturas locais mas também foi alvo de conflitos ferozes entre os povos autóctones. Este modelo terá influenciado o imaginário colectivo que elaborou as histórias narradas durante a representação do Ta’ziyeh e que estão associadas ao Muharram, o primeiro mês do calendário islâmico. O espectáculo em si, que apareceu pela primeira vez no séc. VII d. C. e a seguir à morte de Maomé, narra diversos episódios da vida trágica do Iman Hussein, neto de Maomé, e dos seus muitos companheiros de luta. Este tipo de narrativa histórico-religiosa recebe expressiva influência das lutas romanas entre gladiadores transpostas para algumas das partes do espectáculo enquanto arte performativa. Esta consuma-se na vida religiosa, em episódios da História do Irão e em dança, narrativa e canto. Existe sempre uma coreografia de natureza ancestral associada a figurinos que invocam a própria antiguidade do espectáculo.
A exposição de Sajjad Yarifiroozabadi deixou ainda muitas incógnitas sobre uma arte que reconhecemos e compreendemos mas que nos escapa em termos culturais. Precisaríamos de mais tempo e disponibilidade para continuarmos a fazer as perguntas que não articulámos.
Regressando o aluno ao seu país Natal agora em Abril, ficar-nos-á a faltar o seu relatório final em que esperamos descobrir mais e melhores esclarecimentos. Apesar desta insuficiência e deste condicionalismo, encontrámo-nos pela primeira vez com uma manifestação artística iraniana que desconhecíamos. Deste ponto de vista, fomos todos beneficiados: o aluno e os seus interlocutores.
Leitura recomendada:
Chelkowski, J. Peter: Ta'ziyeh: Ritual and Drama in Iran (New York University Press, 1979)
Vídeos disponibilizados:
https://www.youtube.com/watch?v=8owD49fCsO8&t=337
https://www.youtube.com/watch?v=AwGsg1V5ZU8