Edward Gordon Craig e a supermarioneta - palestra do Prof. Didier Plassard

3 Maio 2019, 14:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

                                      6ª FEIRA                               14ª AULA                    

 

3

Propus às alunas Fabiana Mercadante, Isabel Menezes e ao aluno Andrés Jurado, presentes na passada aula deste seminário, que nos deslocássemos hoje para a sala 1.26 para assistirmos à palestra do Prof. Didier Plassard, da universidade Paul-Valéry Montpellier, sobre Edward Gordon Craig e o significado da Supermarioneta. Esta iniciativa integra o conjunto de acções do PET – no âmbito dos estudos de doutoramento. Juntou-se a nós Marineide Câmara, regressada da sua investigação no Brasil.

Recebemos da Prof. Maria João Brilhante informação a propósito e atempada:

Eis o resumo da intervenção e o CV. Vou assegurar que fará a sua intervenção em inglês. 

L'énigme de la Surmarionnette est l'une des plus discutées de l'histoire du théâtre au 20e siècle. Par ses déclarations contradictoires, Gordon Craig a brouillé les pistes autour de son projet: s'agit-il de l'acteur de l'avenir,  "avec le feu en plus, et l'égoïsme en moins", ou bien d'une marionnette de taille humaine? Par l'examen des sources d'archives aujourd'hui disponible, nous sommes en mesure de reconstituer dans ses détails le projet de Craig. Cette conférence se propose donc de répondre aux questionnements soulevés depuis la parution de l'article "The Actor and the Übermarionette" dans sa revue The Mask, en avril 1908, mais aussi de réfléchir aux relations entre expérimentation pratique et élaboration théorique, ainsi qu'aux méthodes de la recherche scientifique.  

 

Didier Plassard est professeur en études théâtrales à l’université Paul-Valéry Montpellier 3. Il a publié L’Acteur en effigie (L’Age d’Homme, 1992, Prix Georges-Jamati), Les Mains de lumière (Institut International de la Marionnette, 1996, rééd. 2005), des traductions, ainsi qu’une centaine d’articles et de contributions à des ouvrages collectifs. Ses recherches portent sur le théâtre moderne et contemporain (dramaturgie, mise en scène), le théâtre de marionnettes, les nouvelles technologies. Il a dirigé le volume Mises en scène d’Allemagne(s) dans la collection des « Voies de la création théâtrale » (Éditions du CNRS, 2014) et l’édition bilingue du Drama for fools / Théâtre des fous d’Edward Gordon Craig (éditions de l’Entretemps, 2012). Chercheur associé au réseau de théâtres européens Prospero, il a été rédacteur en chef de Prospero European Review  (2010-2013) et codirige depuis 2018, avec Agata Łuksza, le European Journal of Theatre and Performance. Il a reçu la Sirène d’or du Festival Arrivano dal mare !en 2012 et été nommé Chevalier des Arts et des Lettres en 2015.  

A sessão foi curiosa, na medida em que a exposição do Prof. Plassard teve o mérito de abrir aos presentes um percurso de vida artística e pessoal do visado Gordon Craig em vez de se concentrar especificamente no ensaio de sua autoria e para o qual fôramos alertados: O Actor e a Supermarioneta (1907).

Comentado foi o facto de que a ideia de Supermarioneta se torna numa extensão de um discurso crítico da parte de Craig em relação ao trabalho do actor no seu tempo. Segundo Craig, este não revelava qualificação adequada e pureza artística, deixando-se influenciar por estados emocionais que retiravam à representação a dimensão elevada que ela deveria atingir. A arte pura, de acordo com Craig, pressupunha a integração no trabalho do actor da consciência do corpo como matéria a moldar à “imagem de Deus”. Esta referência fez-me recordar o ensaio de Heinrich von Kleist, Sobre o teatro de marionetas (1810), que conferi quase no fim da palestra com o Prof. Plassard, e que terá sido do conhecimento de Gordon Craig. Kleist dá particular atenção à graciosidade como característica intrínseca da sua marioneta: «assim também a graciosidade, depois de, por assim dizer, o conhecimento tiver atravessado o infinito, volta a apresentar-se; e de tal maneira que surge em simultâneo e de modo mais puro naquela estrutura de um corpo humano que ou não possui consciência alguma, ou possui uma consciência infinita, i. e. ou no boneco articulado, ou num deus.» (Kleist, 2009: 143)

O modelo defendido por Craig mantém alguma similitude com o de Kleist na medida em que a materialização do trabalho do actor só adquire consistência como expressão do sagrado, não se sujeitando a qualquer manipulação. A Supermarioneta existe para Craig afastada de quaisquer tipos de funcionalidade exterior, devendo a sua capacidade de concretizar movimento e acção orientar-se por uma energia interior que, exactamente de dentro para fora, molde o seu corpo (o do actor) e o prepare para a representação.

 

Obra citada:

Heinrich von Kleist, Sobre o Teatro de Marionetas e outros escritos, Tradução, apresentação e notas de José Miranda Justo, Lisboa: Antígona, 2009.