Atravessando névoas e nebelinas
17 Fevereiro 2020, 10:00 • Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes
FEVEREIRO 2ª FEIRA 4ªAULA
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O espaço da aula foi hoje reservado à escuta de diferentes questões colocadas por cada uma das doutorandas presentes, em relação à investigação e escrita que em fases muito distintas é preocupação dominante.
Verificou-se que a progressão de cada horizonte de trabalho, e exposto com toda a frontalidade, determinou diferentes sequências.
Expôs Cyntia Floriani aspectos relacionados com sensibilização e comprometimento institucional; investigação prática a partir da constituição de um grupo de trabalho permanente, exclusivamente com pessoas cegas, com as quais realiza experiências de assistência a espectáculos de teatro em estruturas artísticas (Teatro São Luiz e TDMII) com o objectivo de observar comportamentos e reacções dos elementos desse grupo e ao mesmo tempo estar atenta à receptividade institucional (funcionários do teatro) na aproximação aos elementos deste grupo, de cada vez que se trata de audio-descrição, reconhecimento do espaço e outros procedimentos afins. Este assunto produziu fértil discussão, nomeadamente no que diz respeito a serem os elementos deste grupo público ou não-publico. Tendo em conta esta divergência, a discussão alargou-se ao papel institucional efectivo de integração destas pessoas no espaço social e cultural. Interessante parece ser o modo como a doutoranda venha a encarar esta questão e outras semelhantes em nome de um posicionamento ético e verdadeiro.
A doutoranda está a iniciar leituras aconselhadas pelos seus orientadores em Novembro passado. Pedi-lhe que nos fornecesse lista bibliográfica actualizada.
Elsa Almeida trouxe-nos uma situação de trabalho artístico com os seus alunos na área da dança clássica e em função também do acompanhamento musical ao piano proposto para essas aulas. A doutoranda relatou e identificou um problema auditivo, provavelmente de natureza neuronal, em dois dos seus alunos. Foi-lhe sugerido que procurasse ajuda científica junto de investigadores de neurociência que pudessem seguir o caso. Da observação, e segundo Elsa Almeida, existia um desdobramento de movimento nestes dois rapazes que não era comum aos outros alunos. A audição musical, porventura desfasada, conduzia o exercício a realizar em direcção diferente e com ritmos e tempos diferentes. Tratando-se de um problema específico mas que integra o corpus do trabalho da doutoranda, na medida em que este também referencia fenómenos de desintegração dos alunos não só sociais mas também causados por outros motivos, chamou-se a atenção de Elsa Almeida para a importância da sua capacidade de atenção, face aos alunos com os quais trabalha, com o intuito de ao identificar problemas que lhe pareçam irresolúveis, o fazer com um espírito integrativo e de melhoramento das capacidades de cada um.
Pedi índice actual de trabalho e não índice constitutivo de trabalho de mestrado.
Consuelo Toral traz do seu país de origem (Equador) e de outras partes da América do Sul e também da Europa uma vontade profissional de criar invólucro para uma longa experiência prático-artística como forma de sistematização dessas experiências, de criação de pensamento autónomo, de sequenciação de respostas que possam ir além do que é revelado por pensadores canónicos. Identifica-se neste contexto a dificuldade de com clareza não só dar o salto de um domínio para o outro, ainda que com tudo muito bem apetrechado e pronto a alcançar os objectivos pretendidos.
Vou querer pôr “as mãos na massa” e começar a ler. Só assim sentirei que estou a ter acesso a algo que é importante mas cujo discurso e propósito permanece diluído em névoa.
Karla Aguilera tem investigação e prática pedagógica na área da corporalidade cénica, interrogando-se, por exemplo, sobre corpos formatados e seus efeitos na pessoa e socialmente. Defendeu já oralmente e por escrito a ideia do que pretende desenvolver como dissertação de doutoramento. Considero que a doutoranda ainda se encontra à procura de muita coisa, embora com conhecimento da matéria em estudo.
Faz actualmente leituras de obras que desconheço, e para as quais pedi uma ficha de leitura após conclusão do que delas tiver retirado.
Entre as obras que trouxe para a aula veio um título primoroso: Jacques Rancière, O Mestre Ignorante que a aluna irá ler. Vejo com agrado a presença desta obra no conjunto das referências apresentadas. Talvez seja possível equacionar os propósitos e objectivos do futuro trabalho de Karla Aguilera (também colombiana) a partir da revolucionária pedagogia de Rancière que nunca deixa de ser um acto político.
Aguardo a chegada do índice provisório de trabalho ainda não chegado.
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