PROGRAMA DE ESTÉTICA E FILOSOFIA DA ARTE
2ºSemestre 2023: 2º ciclo
Tema: A Arte como um modo eminente de fundação da verdade
Texto de referência: “A Origem da Obra de Arte” de M. Heidegger
1. Pontos fundamentais acerca da história da estética: a reflexão estética inicia-se com Platão e Aristóteles, após o fim da grande arte helénica. Com a modernidade, a arte é interpretada do ponto de vista subjectivo, como sentimento, e perde a sua função normativa de representação do absoluto, o que é reconhecido por Hegel, proclamando o fim da grande arte e a sua superação pela filosofia. Uma notável excepção, porém, é Schelling, que vê na arte um modo espiritual de apresentação do absoluto, presente já de forma finita na natureza e, no universo, a obra de arte por eminência, manifestação de um princípio anónimo imanente.
2. O séc. XIX reage a tal declínio com o projecto wagneriano da “obra de arte integral”, mas fá-lo de uma forma decadente, dissolvendo tudo o que é forma e estrutura na volúpia dionisíaca da “melodia infinita”. Nietzsche vai procurar na arte, entendida como ebriedade, um antídoto ao niilismo religioso, filosófico e moral.
3. Heidegger reconhece, com Hegel, o fim da grande arte, mas advoga, não a sua superação pelo saber, mas sim o retorno à sua essência originária, que precedeu o nascimento da filosofia. Período em que a arte era entendida, não como uma produção técnica oposta à natureza e atinente à sua representação mimética, mas como uma determinação eminente da verdade do Ser. Procurando ir mais além dos pressupostos subjectivistas e psicologistas da estética moderna ou dos dualismos da helénica (a oposição técnica/natureza, forma/matéria), pensa a obra de arte como um acontecimento de verdade, a exposição viva do combate entre um mundo histórico e a terra abissal, onde o homem habita. Ela não se confunde, a seu ver, nem com a fabricação de instrumentos, nem com as coisas da natureza, expõe a verdade do ente a partir da região do “quadripartido” em que ele emerge. Porém é na poesia que a fundação artística da verdade se realiza de modo mais essencial através de um triplo acto de doação (abertura de um mundo), fundação (da verdade) e inauguração (de uma nova história).
Avaliação: presença assídua nas aulas, um teste a meio do Semestre e um trabalho no fim, precedido de projecto.
Bibliografia:
- Heidegger: “A Origem da Obra de Arte”; Nietzsche I; Hinos de Hölderlin (Germania e Reno); Anotações à Poesia de Hölderlin (traduções disponíveis em várias línguas de todos estes textos).
- Mattei, J. F., Heidegger et Hölderlin. Le Quadriparti, Paris, PUF, 2001.
- Outros: Platão, República, l. X.; Kant, Crítica da Faculdade de Julgar, 1ª p., l. II; Schelling, O Sistema do Idealismo Transcendental, cap. VI, §§ 1-3; A Relação da Arte com a Natureza (há trad. castelhana); Hegel, Estética; Nietzsche, O Nascimento da Tragédia (traduções em português, à excepção de Schelling).