Don Quijote de la Mancha : autores e leitores
4 Novembro 2015, 16:00 • Ângela Fernandes
O problema das instâncias narrativas e o jogo com a questão autoral em Don Quijote de la Mancha : a interrupção da sequência narrativa, a explícita figuração do narrador/ leitor/ investigador, e o aparecimento do “autor” Cide Hamete Benengeli, entre manuscritos e traduções (I, 9); as reflexões sobre verdade, verosimilhança e adequação; a desconstrução da autoridade dos enunciadores e o apelo à responsabilidade do leitor.
O prosseguimento das aventuras de D. Quixote com base num sistema de valores contrário às regras sociais dominantes: o roubo da bacia-elmo de Mambrino (I, 21) e a libertação dos galeotes (I, 22); o caso de Ginés de Pasamonte (I, 22) e os ecos da heroicidade picaresca.
O questionamento radical das fronteiras entre realidade e ficção, e a ambiguidade sobre o triunfo de algum destes domínios: a aprendizagem de Sancho sobre a lógica de pensamento de D. Quixote e a aceitação do “baciyelmo” (I, 44); o regresso de D. Quixote à sua aldeia, acreditando-se encantado, no quadro de uma encenação concertada pelas demais personagens (I, 46ss).
O final da primeira parte do romance de Cervantes, a reiteração das diligências do “autor” da história, e o anúncio da “terceira saída” de D. Quixote.