Quem se quer protegido nem sempre encontra protecção

23 Fevereiro 2018, 16:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

 

Iniciámos o nosso estudo da obra dramática Os Protegidos (2013-2016), da autora austríaca Elfriede Jelinek, com uma apresentação sumária da vida e percurso da mesma.

Retomámos anterior leitura das primeiras páginas do texto para nelas identificarmos a construção textual como um conglomerado de extensões que se organiza a partir de informação sobre um facto real: a chegada a Viena de Áustria de cerca de 100 refugiados, vindos de diversos países em conflito, e que pediam asilo político. Estes refugiados montaram um acampamento num parque no centro da cidade em pleno Inverno, frente à igreja Votiva. Os responsáveis eclesiásticos dessa igreja aceitaram dar guarida aos asilantes que não tendo alcançado os seus objectivos entraram em greve de fome. É este o ponto de partida da peça, se bem que o acontecimento em si sofra progressivas transformações por processos de associação com outros materiais literários e não literários que informam o horizonte criativo da autora.

Estaremos a trabalhar nas próximas aulas sobre e a partir deste texto complexo em sucessivos avanços na mancha textual. Traremos a terreno inspiração que foi da autora – As Suplicantes de Ésquilo – para melhor entendermos os principais cruzamentos no corpo da peça. Este exercício prático procura iluminar uma estética singular que caracteriza as mais recentes obras de Elfriede Jelinek, mas que não desmerece obra anterior. A estrutura formal e de conteúdos cai sobre nós como uma avalanche e é com isso que teremos de nos haver. A estética jelinekiana contempla sempre os alicerces ético e político do seu pensamento.

 

Leitura recomendada:

ELFRIEDE JELINEK, Die Schutzbefohlenen (Os protegidos), 2013-2016.

http://www.elfriedejelinek.com/

Anabela Mendes, Os Protegidos, Dactiloscrito, 2017.

ÈSQUILO, As Suplicantes, prefácio, tradução e notas de Ana Paula Quintela Ferreira Sottomayor, Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Estudos Clássicos, 1968.