São inúmeros os exemplos de escritores portugueses do século XX com disponibilidade para ser “do mundo”, nos termos de Claudio Guillén, quer dizer, de escritores cujas obras evidenciam uma qualidade literária universal. Este Programa procurará reflectir sobre os elementos passíveis de configurarem essa universalidade num conjunto de autores do século XX – de Fernando Pessoa a António Franco Alexandre, passando por Luiza Neto Jorge ou Fiama Hasse Pais Brandão –, cujo trabalho de criação literária integrou também uma prática tradutória significativa. Tratar-se-á de reconstituir laços internacionais latentes e patentes de tais poetas com algumas obras decisivas de sistemas não-portugueses, e de procurar entender em que medida esses diálogos perturbam os limites de uma tradição poética nacional ou de uma tentação imperialista lusófona, mediante o confronto entre a literatura portuguesa situada numa posição menor ou periférica, e certas culturas tradicionalmente consideradas “maiores”, como a alemã, a inglesa, a francesa ou a norte-americana. Em qualquer um dos casos em apreço, procurará reintroduzir-se a tão sugestiva figura do “modal grandfather” de Northrop Frye tal como apresentada no clássico Anatomy of Criticism, e significativamente acrescida no seu valor temporal e inter-geracional de um princípio espacial, com importantes e por vezes surpreendentes consequências para a compreensão do sistema cultural e literário de chegada.