Do particular para o universal. Até à ideia de composição para palco em Kandinsky

18 Setembro 2018, 16:00 Anabela Rodrigues Drago Miguens Mendes

Abertura

Apresentação do programa e seus objectivos.

Metodologias de aprendizagem.

Processo de avaliação. Comprometimentos.

Questões a considerar na prática lectiva e de estudo dos alunos: diversidade de cursos, criação de nexos entre a sala de aula e o fora da aula, aproveitamento de experiências de cada um a integrar no colectivo.

 

Saídas de campo integradas.

Ideia de uma comunidade experimental.

 

 

·         Data de realização do 1º teste de avaliação: dia 30 de Outubro de 2018 (sala 2.13). Duração da prova com consulta: duas horas. O resultado e a correcção desta prova serão apresentados no dia 15 de Novembro de 2018, salvo se houver qualquer imponderável.

·         Data de realização do 2º teste de avaliação: dia 20 de Dezembro de 2018 (sala 2.13). Duração da prova com consulta: duas horas.

·         Os resultados do 2º teste, sua correcção e toda a avaliação final de cada aluno serão apresentados e discutidos no dia 8 de Janeiro de 2019, em horário de aula.

·         A haver trabalhos individuais como substituição do 2º teste, estes serão entregues impreterivelmente até ao dia 20 de Dezembro de 2018.

 

 

 

 

1. Obra plástica de Wassily Kandinsky – Obra cénica de Wassily Kandinsky

Como abordar obras artísticas, seus conteúdos e formas, numa relação que se propõe pôr em prática um horizonte de trabalho que parte do particular para o universal? Que ideia de particular? Que ideia de universal? Será a obra de arte um possível sujeito?

Trabalharemos com um arquivo inesgotável, adequado às nossas capacidades e possibilidades, adquirindo, através dele, uma consistência progressiva, intermitente, aberta, em função das obras escolhidas de Wassily Kandinsky (1866-1944).

Daremos prioridade a alguns exemplares de obra plástica que se nos atravessem no caminho, tendo sempre em conta que o alvo das nossas cogitações é a obra cénica e o modo como o artista transforma a ideia de tela num objecto tridimensional. Apresentaremos Kandinsky como poeta. Não descuraremos o seu fazer teórico. Tentaremos chegar a uma condição de depuramento dos materiais seleccionados, sem nos deixarmos enredar pelo excesso da sua presença.

Ao convocarmos as artes plásticas para o espaço das artes para palco estamos a desenvolver um processo de reapropriação de parcelas de um todo e do todo enquanto tal, que requer da nossa parte uma disponibilidade de gerarmos pensamento emocional. Quer isto dizer que teremos de aprender a incorporar uma primeira rejeição que possa ocorrer no contacto com as obras porque com elas não nos identificamos. Estes espaços e movimentos que tendem a afastar-nos dos objectos artísticos têm morada antiga nos nossos cérebros. Eles contrariam o fenómeno da empatia que connosco nasce e se desenvolve. Iremos por isso observar objectos naturais que na sua configuração dão resposta a formas abstractas que desde sempre acompanham a presença do ser humano na Terra, também fora dela, e que não têm de alimentar o que considero um falso fosso entre abstracto e concreto, entre abstracto e figurativo. A razão de ser e de permanecer de cada um destes conceitos está sempre associada à rejeição que fazemos do novo em cada estado ou situação. E essa atitude comum é explicável pelo funcionamento do nosso cérebro, como o comprova a Neurociência.

Desejamos criar uma prática de observação e análise de objectos artísticos na área do teatro, da música e da dança que nos proponha um prazer ou, quem sabe, um desprazer reflexivo, ou uma gradação de sensações com as quais venhamos a conviver em função das obras sugeridas. Esta convivialidade estética com as artes plásticas, num primeiro momento do programa, virá a ser também uma porta aberta para outros tipos de nexos, nomeadamente os que associam a organização do espaço pictural à ideia central de Composição para Palco. Este conceito sustenta o princípio de que os elementos constitutivos de um quadro podem ser transpostos e reposicionados em diferentes constelações na perspectiva tridimensional, dando origem a um tipo de obra artística que pode ou não estar associada a modelos de representação teatral concebidos para o espaço cénico tradicional.

Falamos, é claro, de experimentação associada às primeiras décadas do séc. XX, no âmbito das artes visuais e cénicas, mas que ainda hoje operam sobre nós com alguma dificuldade. É essa barreira que gostaríamos de transpor.

A designação de Composição para Palco pressupõe justamente a junção da plasticidade de uma tela ou de um desenho, de um esboço, em processo que articula luz, cor e espaço, bem como a presença de figuração. A materialidade composicional do espaço e da relação com o tempo opera não só a diferença entre bidimensionalidade e tridimensionalidade mas também o resultado desse progressivo compor atribui autonomia à criação.

Dotar de subjectividade uma obra de arte é como equipará-la ao seu criador. O acidental, por exemplo, pode ser incorporado a partir da presença de várias versões de uma mesma composição. Quem decide não é o criador sozinho mas o processo que a obra lhe revela.

Não se trata de uma exclusiva atenção prestada à cenografia, ao desenho de luz, à projecção de cor em particular, mas antes de uma configuração de materiais que no seu conjunto dão origem a uma obra cénica em moldes inabituais.